###O ESTUDO CONTINUA NO PLANO ESPIRITUAL

1311 Words
Maris despertou mais uma vez naquela manhã branda, sentindo que algo dentro dela estava diferente. Como se cada célula espiritual estivesse sendo tocada por mãos invisíveis e bondosas. A presença da mãe, sentada ao seu lado, a envolvia com serenidade. Ela se ajeitou na cama da enfermaria azulada. Os lençóis pareciam tecidos de brisa. — Dormiu bem, minha filha? — Eu sonhei que estava abraçando a Lana. — Maris disse, emocionada. — Foi tão real... será que algum dia ela vai me perdoar? A mãe acariciou a mão dela. — Quando o perdão vem do coração, ele acontece antes mesmo das palavras. Mas agora, vamos continuar nosso estudo? Maris assentiu com os olhos brilhando. Ela abriu o Livro dos Espíritos na quinta pergunta e leu em voz alta, pausadamente: "Deus é infinito em todas as suas perfeições?" Ela olhou para a mãe, com expressão sincera. — Mamãe… essa pergunta parece simples, mas carrega tanto peso. O que isso realmente quer dizer? A mãe sorriu, e a voz dela se tornou suave como o vento das manhãs de primavera. — Sim, minha filha. Deus é infinito em tudo: sabedoria, amor, justiça, misericórdia e bondade. Ele é a origem de tudo o que existe, e ao mesmo tempo está em tudo. O Espírito da Verdade respondeu a Allan Kardec com clareza: "Sim, é a única perfeição que compreende todas as coisas." — Então... Deus não erra nunca, mamãe? — Nunca. O que para nós parece erro ou injustiça, na verdade é parte de um plano que ainda não compreendemos. A dor, às vezes, é lição. A perda, libertação. A espera, amadurecimento. Tudo tem um porquê. Ele é justo mesmo quando não entendemos. — E onde estava essa justiça quando eu me tornei quem me tornei? A mãe segurou as duas mãos da filha com firmeza. — Estava esperando você se lembrar de quem você é de verdade. E aqui está você… em pleno despertar. Maris abaixou os olhos. Pela primeira vez, não sentia vergonha — sentia arrependimento, mas também esperança. — E é aqui que eu vou renascer, não é? — É aqui que você está se reconstruindo. Cada ensinamento que entra em seu espírito é uma luz que apaga uma sombra. A mãe sorriu, segurando um pequeno cálice de cristal translúcido, repleto de um líquido que brilhava suavemente em tons perolados. — Antes, minha filha, você precisa tomar sua água fluidificada. Aqui, ela é como um remédio para a alma. Cada molécula carrega as vibrações do amor, do perdão e da fé. Vai ajudar o seu espírito a absorver o aprendizado com mais clareza. Maris pegou o cálice com reverência. Assim que a água tocou seus lábios, sentiu um calor suave se espalhar pelo peito, como um abraço que vinha de dentro. Era como se aquela água tivesse alma. — Parece néctar... — disse ela, impressionada. — Nunca bebi nada igual. — É o alimento dos que estão em tratamento no plano espiritual — explicou a mãe. — Cada vez que você toma, está recebendo energia, cura, reconexão com sua essência. Maris fechou os olhos por um instante, absorvendo tudo aquilo. Quando os abriu, viu que o Livro dos Espíritos já estava nas mãos da mãe, aberto na próxima pergunta. — Vamos para a sexta, não é? A mãe assentiu. Maris respirou fundo e leu com calma: "Poder-se-á conceber o infinito?" Ela franziu o cenho. — Essa pergunta… é difícil. O infinito tem limite? A mãe lhe respondeu com doçura: — O Espírito da Verdade respondeu que não. Porque aquilo que tem limite não é infinito. É uma questão de lógica espiritual. O infinito é tudo o que não pode ser medido, contado, nem imaginado plenamente pelo homem. Deus é infinito, o tempo espiritual é infinito, a evolução é infinita. Maris passou a mão pelos cabelos, reflexiva. — Então… quanto mais eu evoluir, mais ainda terei para aprender. — Exatamente. O caminho da evolução nunca termina, porque a perfeição absoluta só pertence a Deus. Mas cada esforço sincero nos aproxima d’Ele. É por isso que você está aqui, filha. Para recomeçar. Ela sorriu. — Então vamos para a próxima. A mãe apertou a mão da filha, com orgulho no olhar. — Com calma, filha. Cada pergunta é uma chave que abre uma porta no seu espírito. E cada resposta é um raio de luz. Tome sua água todos os dias, estude com o coração e, quando estiver pronta… voltará transformada. Maris respirou fundo. A água fluidificada ainda deixava um gosto doce em sua boca e um calor acolhedor em seu peito. Ela se ajeitou melhor sobre a cama espiritual e olhou para a mãe, que agora voltava as páginas com delicadeza. — Estou pronta, mamãe. Vamos à próxima pergunta. A mãe assentiu, com um sorriso de ternura. — Então leia, minha filha. Essa é uma das mais importantes. Maris então leu em voz clara: “Se é impossível conceber o infinito, não será isso uma prova de que Deus não existe?” Ela franziu o cenho imediatamente, como se fosse algo que já tivesse passado pela sua mente em momentos de dúvida, ainda na Terra. — Eu confesso… eu já questionei isso. Muitas vezes pensei: se eu não posso entender Deus, talvez Ele nem exista. A mãe a escutou com paciência e respondeu com brandura: — É natural, filha. A razão humana, limitada à matéria, tem dificuldade de aceitar o que não pode ver, medir ou provar. Mas preste atenção à resposta que o Espírito da Verdade deu a essa pergunta. Ela então leu com serenidade: "É assim que teu espírito se reconhece inferior. Dize antes que é porque o teu espírito é limitado." — O que isso quer dizer? — perguntou Maris, com os olhos fixos na mãe, sedenta de compreensão. A mãe pousou a mão sobre o peito da filha e explicou: — Quer dizer que a nossa limitação em compreender o infinito não prova que Deus não exista. Ao contrário… ela prova que nós ainda somos pequenos para entender toda a grandeza d’Ele. Deus não cabe dentro de um raciocínio humano. Ele é sentido na fé, na intuição, no amor e na consciência. Quando o Espírito reconhece essa limitação, ele dá o primeiro passo rumo à humildade espiritual. Maris ficou em silêncio por alguns instantes. Ela então murmurou: — Então toda vez que eu duvidei… era porque o meu orgulho não aceitava não entender? — Sim, filha. O orgulho é a raiz de muitos desvios. Ele nos faz achar que temos que entender tudo com os olhos da razão. Mas Deus é sentido com os olhos da alma. E quanto mais você estudar, mais seu espírito vai crescer e, aos poucos, vai compreender o que antes parecia inalcançável. Maris baixou os olhos, emocionada. — Eu fui arrogante, mamãe… Eu achava que sabia de tudo. Que meu dinheiro, minha beleza, minha posição me faziam melhor do que os outros. Agora, aqui… nesse lugar… com esse livro nas mãos… eu percebo o quanto eu era pobre de espírito. A mãe a abraçou com ternura. — E é nesse reconhecimento que começa a verdadeira riqueza, minha filha. Você está evoluindo. Você está acordando. MENSAGEM DA AUTORA PARA O LEITOR Querido leitor, Se você chegou até aqui, peço que feche os olhos por um instante e reflita: quantas vezes nos distanciamos da nossa essência, deixamos que o orgulho, o ego e as mágoas falem mais alto? Nesta história, através do coma da personagem, abro um portal simbólico — um convite ao reencontro com Deus, com a espiritualidade, com o amor que cura e transforma. Eu escrevo com fé, com alma e com o coração de uma mulher que, aos 61 anos, continua acreditando que nunca é tarde para recomeçar. E se você está lendo isso, talvez seu recomeço comece também aqui. Com carinho, Tonya — Escritora, mãe, avó, artesã e filha de Deus.
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