####HARRY E SUAS DÚVIDAS

1241 Words
Harry entrou sem bater, como era de costume. Tinha um olhar preocupado, quase desconfiado, e um leve vinco entre as sobrancelhas. — Posso te fazer uma pergunta séria? — ele disse, puxando a cadeira diante da mesa de Patrick e se sentando com certo peso. Patrick ergueu os olhos do tablet, ajustando os óculos com calma. — Se for sobre o jogo de sábado, já vou deixar claro que a culpa não foi minha se você perdeu a aposta. — Não é isso, não. É sobre a Lena. Patrick fechou o tablet devagar, pousando-o sobre a mesa. — O que tem a minha cunhada preferida? — Você acha que ela está namorando aquele tal de Luck? Patrick arqueou uma sobrancelha, intrigado. — Não saberia dizer. A Lena é sociável, divertida, fala com todo mundo, mas, quando se trata da i********e dela, é extremamente reservada. — Pois é. Mas outro dia eu fui ao apartamento visitar a Lana, e o Luck estava lá com ela. — Harry cruzou os braços, inquieto. — Só os dois. — Hum interessante. Você notou algo fora do comum? — Eles estavam muito à vontade. Conversando, rindo, trocando olhares. E saíram juntos logo depois. — Então talvez estejam, sim, se conhecendo melhor. — Patrick recostou-se na cadeira, pensativo. — Eu lembro que o Luke ministrou uma palestra na faculdade onde a Lena estuda. Ela fez perguntas que chamaram a atenção dele. Depois disso, ele a convidou para jantar e explicar mais sobre o tema. Harry bufou, desviando o olhar. — Ele está de olho nela. — E se estiver? — Patrick perguntou com naturalidade. — Quem está perdendo tempo é você. Harry soltou uma risada breve, meio sem graça. — Você sabe da minha fama de playboy. Estou tentando mostrar pra ela que não sou mais aquele cara. Patrick apoiou os cotovelos sobre a mesa, com um olhar sério. — Então, se realmente quer mostrar que o Henry do passado ficou para trás, precisa agir. E com urgência. O Luck é um homem agradável, inteligente, e sabe muito bem o que quer. Você sabia que ele é um gênio da informática? — Gênio? — Sim. Formou-se com honras aos vinte anos, montou a própria empresa com um empréstimo do pai — que já pagou com juros —, e atualmente movimenta cifras milionárias. Ele pode até ter aquele jeitão nerd mas é carismático, tem presença e uma educação invejável. Harry soltou um assobio discreto, surpreso. — É bonito. — Patrick completou com um meio sorriso. — Se eu fosse mulher, admito que não resistiria. Inteligente, bem-sucedido, educado, conquista qualquer mulher com um sorriso. — Nossa — Harry riu de nervoso. — Assim você me desanima. — Não é para te desanimar, Henry. É para te despertar. Se quiser mesmo a Lena, abra os olhos. E o coração também. Harry descruzou os braços, passando as mãos nos cabelos como quem buscava uma resposta dentro de si mesmo. — Eu não sou bom nisso, Patrick. Essas coisas de sentimentos de me abrir. Patrick sorriu, inclinando-se levemente para frente. — Você é excelente com números, estratégias e jogos. Mas quando o assunto é o coração, parece um adolescente de 16 anos com medo de levar um fora. Harry ergueu os olhos e soltou uma risada abafada. — Não é medo de levar um fora. É medo de não ser suficiente. — Ah, não me venha com esse discurso, Henry. — Patrick apontou para ele com a caneta que segurava. — Você pode não ser o nerd bilionário da tecnologia, mas é um homem inteligente, charmoso, bem-sucedido, divertido... E, apesar da fama de galinha, tem bom coração. Se você deixar a Lena escapar, vai se arrepender pelo resto da vida. — Você acha que ela gosta dele? — Eu acho que ela é uma mulher jovem, inteligente, doce e cheia de personalidade. E homens como o Luck sabem reconhecer isso. A pergunta certa não é se ela gosta dele, se ela ainda espera que você tome uma atitude. Harry ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo aquelas palavras. Então se levantou devagar, decidido. — Tem razão. Eu não vou ficar assistindo da arquibancada enquanto outro entra em campo. Se ela ainda não estiver comprometida, eu vou mostrar a ela quem é o verdadeiro Harry. O homem que ela merece. Patrick sorriu, satisfeito. — Assim é que se fala. Mas com uma condição. — Qual? — Seja sincero. Nada de joguinhos, ciúmes ou provocações infantis. Mostre a ela quem você é agora, e não quem você foi. Harry assentiu com firmeza. — Eu vou fazer isso. Hoje mesmo. — Boa sorte, primo. — Patrick ergueu a xícara de café em um brinde simbólico. — E, se quiser, posso arrumar um coach emocional. — Ha. Muito engraçado. — Harry revirou os olhos, mas saiu da sala com um leve sorriso no canto dos lábios. Dessa vez, ele estava pronto para jogar pra valer. — Esse anexo aqui está em duplicidade, Louis — observou Lena, com o cenho franzido, passando os olhos pela cláusula. — A cláusula 6 já abrange o que está sendo repetido no item 12. — Você tem razão — disse ele, sorrindo com admiração. — Está cada dia mais afiada. Ela sorriu de canto, ajeitando a caneta sobre a mesa. — Obrigada. Acho que conviver com vocês me obrigou a evoluir mais rápido do que eu imaginava. Foi então que a porta se abriu discretamente. Harry apareceu, com as mãos nos bolsos, os cabelos ligeiramente desalinhados e uma expressão contida, como se lutasse contra a própria hesitação. — Com licença, posso roubar a Lena por cinco minutos? Louis ergueu uma sobrancelha, surpreso, mas sorriu maliciosamente. — Claro. Só não demora, Henry, ou vou desconfiar das suas intenções. Lena riu, um tanto tímida, levantando-se. — Pode falar, Harry. Ele indicou com um gesto para saírem da sala. Caminharam juntos até o corredor envidraçado que dava para o jardim vertical da empresa. Ele parou ali, de frente para as plantas, como se precisasse respirar antes de começar. — Eu sou péssimo com palavras quando elas envolvem sentimentos — ele confessou, ainda sem encará-la. — Mas... hoje eu percebi que estou prestes a perder uma chance que talvez eu nunca mais tenha. Lena ficou em silêncio, observando-o com atenção. — Que chance? Ele a olhou nos olhos, e sua voz saiu mais firme: — A chance de mostrar que eu sou mais do que aquele Henry das revistas. Mais do que o primo galanteador do Patrick. Eu quero ser alguém que você admire, que você confie. E se você me permitir, alguém por quem você se apaixone. Ela abriu a boca para responder, mas ele levantou a mão, pedindo apenas mais um instante. — Eu vi você com aquele cara, o Luke. E sim, ele parece um homem incrível. Inteligente, gentil, elegante. Mas eu também posso ser tudo isso. Não por competição mas porque você me inspira a ser melhor. — Harry— ela começou, visivelmente tocada. — Não precisa me responder agora. Só quero que saiba que eu não estou mais brincando. Quando você estiver pronta pra ouvir com o coração... eu estarei aqui. Esperando. Mas não por muito tempo. Porque dessa vez, eu entrei em campo. E vou lutar até o apito final. Ele sorriu de leve, deu um passo para trás e saiu, deixando Lena parada ali, com o coração acelerado, sem saber se sorria ou se corria atrás dele.
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