Harry entrou sem bater, como era de costume. Tinha um olhar preocupado, quase desconfiado, e um leve vinco entre as sobrancelhas.
— Posso te fazer uma pergunta séria? — ele disse, puxando a cadeira diante da mesa de Patrick e se sentando com certo peso.
Patrick ergueu os olhos do tablet, ajustando os óculos com calma.
— Se for sobre o jogo de sábado, já vou deixar claro que a culpa não foi minha se você perdeu a aposta.
— Não é isso, não. É sobre a Lena.
Patrick fechou o tablet devagar, pousando-o sobre a mesa.
— O que tem a minha cunhada preferida?
— Você acha que ela está namorando aquele tal de Luck?
Patrick arqueou uma sobrancelha, intrigado.
— Não saberia dizer. A Lena é sociável, divertida, fala com todo mundo, mas, quando se trata da i********e dela, é extremamente reservada.
— Pois é. Mas outro dia eu fui ao apartamento visitar a Lana, e o Luck estava lá com ela. — Harry cruzou os braços, inquieto. — Só os dois.
— Hum interessante. Você notou algo fora do comum?
— Eles estavam muito à vontade. Conversando, rindo, trocando olhares. E saíram juntos logo depois.
— Então talvez estejam, sim, se conhecendo melhor. — Patrick recostou-se na cadeira, pensativo. — Eu lembro que o Luke ministrou uma palestra na faculdade onde a Lena estuda. Ela fez perguntas que chamaram a atenção dele. Depois disso, ele a convidou para jantar e explicar mais sobre o tema.
Harry bufou, desviando o olhar.
— Ele está de olho nela.
— E se estiver? — Patrick perguntou com naturalidade. — Quem está perdendo tempo é você.
Harry soltou uma risada breve, meio sem graça.
— Você sabe da minha fama de playboy. Estou tentando mostrar pra ela que não sou mais aquele cara.
Patrick apoiou os cotovelos sobre a mesa, com um olhar sério.
— Então, se realmente quer mostrar que o Henry do passado ficou para trás, precisa agir. E com urgência. O Luck é um homem agradável, inteligente, e sabe muito bem o que quer. Você sabia que ele é um gênio da informática?
— Gênio?
— Sim. Formou-se com honras aos vinte anos, montou a própria empresa com um empréstimo do pai — que já pagou com juros —, e atualmente movimenta cifras milionárias. Ele pode até ter aquele jeitão nerd mas é carismático, tem presença e uma educação invejável.
Harry soltou um assobio discreto, surpreso.
— É bonito. — Patrick completou com um meio sorriso. — Se eu fosse mulher, admito que não resistiria. Inteligente, bem-sucedido, educado, conquista qualquer mulher com um sorriso.
— Nossa — Harry riu de nervoso. — Assim você me desanima.
— Não é para te desanimar, Henry. É para te despertar. Se quiser mesmo a Lena, abra os olhos. E o coração também.
Harry descruzou os braços, passando as mãos nos cabelos como quem buscava uma resposta dentro de si mesmo.
— Eu não sou bom nisso, Patrick. Essas coisas de sentimentos de me abrir.
Patrick sorriu, inclinando-se levemente para frente.
— Você é excelente com números, estratégias e jogos. Mas quando o assunto é o coração, parece um adolescente de 16 anos com medo de levar um fora.
Harry ergueu os olhos e soltou uma risada abafada.
— Não é medo de levar um fora. É medo de não ser suficiente.
— Ah, não me venha com esse discurso, Henry. — Patrick apontou para ele com a caneta que segurava. — Você pode não ser o nerd bilionário da tecnologia, mas é um homem inteligente, charmoso, bem-sucedido, divertido... E, apesar da fama de galinha, tem bom coração. Se você deixar a Lena escapar, vai se arrepender pelo resto da vida.
— Você acha que ela gosta dele?
— Eu acho que ela é uma mulher jovem, inteligente, doce e cheia de personalidade. E homens como o Luck sabem reconhecer isso. A pergunta certa não é se ela gosta dele, se ela ainda espera que você tome uma atitude.
Harry ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo aquelas palavras. Então se levantou devagar, decidido.
— Tem razão. Eu não vou ficar assistindo da arquibancada enquanto outro entra em campo. Se ela ainda não estiver comprometida, eu vou mostrar a ela quem é o verdadeiro Harry. O homem que ela merece.
Patrick sorriu, satisfeito.
— Assim é que se fala. Mas com uma condição.
— Qual?
— Seja sincero. Nada de joguinhos, ciúmes ou provocações infantis. Mostre a ela quem você é agora, e não quem você foi.
Harry assentiu com firmeza.
— Eu vou fazer isso. Hoje mesmo.
— Boa sorte, primo. — Patrick ergueu a xícara de café em um brinde simbólico. — E, se quiser, posso arrumar um coach emocional.
— Ha. Muito engraçado. — Harry revirou os olhos, mas saiu da sala com um leve sorriso no canto dos lábios. Dessa vez, ele estava pronto para jogar pra valer.
— Esse anexo aqui está em duplicidade, Louis — observou Lena, com o cenho franzido, passando os olhos pela cláusula. — A cláusula 6 já abrange o que está sendo repetido no item 12.
— Você tem razão — disse ele, sorrindo com admiração. — Está cada dia mais afiada.
Ela sorriu de canto, ajeitando a caneta sobre a mesa.
— Obrigada. Acho que conviver com vocês me obrigou a evoluir mais rápido do que eu imaginava.
Foi então que a porta se abriu discretamente. Harry apareceu, com as mãos nos bolsos, os cabelos ligeiramente desalinhados e uma expressão contida, como se lutasse contra a própria hesitação.
— Com licença, posso roubar a Lena por cinco minutos?
Louis ergueu uma sobrancelha, surpreso, mas sorriu maliciosamente.
— Claro. Só não demora, Henry, ou vou desconfiar das suas intenções.
Lena riu, um tanto tímida, levantando-se.
— Pode falar, Harry.
Ele indicou com um gesto para saírem da sala. Caminharam juntos até o corredor envidraçado que dava para o jardim vertical da empresa. Ele parou ali, de frente para as plantas, como se precisasse respirar antes de começar.
— Eu sou péssimo com palavras quando elas envolvem sentimentos — ele confessou, ainda sem encará-la. — Mas... hoje eu percebi que estou prestes a perder uma chance que talvez eu nunca mais tenha.
Lena ficou em silêncio, observando-o com atenção.
— Que chance?
Ele a olhou nos olhos, e sua voz saiu mais firme:
— A chance de mostrar que eu sou mais do que aquele Henry das revistas. Mais do que o primo galanteador do Patrick. Eu quero ser alguém que você admire, que você confie. E se você me permitir, alguém por quem você se apaixone.
Ela abriu a boca para responder, mas ele levantou a mão, pedindo apenas mais um instante.
— Eu vi você com aquele cara, o Luke. E sim, ele parece um homem incrível. Inteligente, gentil, elegante. Mas eu também posso ser tudo isso. Não por competição mas porque você me inspira a ser melhor.
— Harry— ela começou, visivelmente tocada.
— Não precisa me responder agora. Só quero que saiba que eu não estou mais brincando. Quando você estiver pronta pra ouvir com o coração... eu estarei aqui. Esperando. Mas não por muito tempo. Porque dessa vez, eu entrei em campo. E vou lutar até o apito final.
Ele sorriu de leve, deu um passo para trás e saiu, deixando Lena parada ali, com o coração acelerado, sem saber se sorria ou se corria atrás dele.