O celular vibrou sobre a bancada da cozinha. Patrick estava servindo um copo de vinho quando viu o nome de Cindy na tela. Suspirou. Atendeu.
— Boa noite, Cindy.
— Boa noite? Você chama isso de boa noite? Você me deixou lá embaixo como se eu fosse uma qualquer! — a voz dela já começava afiada.
— Cindy, não é o momento para esse tom. Eu estou em casa, quero descansar.
— Você está me dispensando? Depois de tudo que eu fiz por você? Depois de tudo o que aconteceu na hora do almoço?
Patrick respirou fundo. Manteve o tom firme, sem perder a compostura:
— Cindy, escute com atenção: eu nunca te trouxe ao meu apartamento, nem quando começamos a sair. Nunca te dei acesso a esse espaço. Por que eu faria isso agora?
Houve silêncio do outro lado. Ele continuou:
— Eu sugiro que você reflita. Reflita sobre o jeito como trata as pessoas, sobre a arrogância com que fala, sobre os olhares de cima a baixo que você lança. Não é bonito, não é elegante, e, sinceramente, não é algo que eu queira por perto agora.
— Então é por causa daquela... funcionária? Aquela horrorosa?
— Ela tem nome, Cindy. Chama-se Lana. E é uma jovem de respeito, educada e muito mais digna do que você demonstrou ser hoje. Não é sobre ela. É sobre você. Amanhã, com calma, podemos conversar. Boa noite.
Ele desligou antes que ela revidasse com mais veneno. Encostou o celular na bancada e deu um gole no vinho. Sentiu-se mais leve.
costume. O silêncio do apartamento parecia amplificar os pensamentos da noite anterior. Sentado na beira da cama, passou as mãos pelo rosto e soltou um longo suspiro. Ainda sentia o gosto amargo da decepção.
Lembrava-se da voz da Patrícia contando sobre a Lana, sobre a firmeza dela, sobre o quanto era respeitada na faculdade. A cada palavra, uma imagem se formava na mente dele — e era muito diferente da impressão superficial que tivera no início. Não era só a beleza fora dos padrões que chamava atenção, mas a integridade, a personalidade, o respeito que ela inspirava mesmo entre os colegas mais populares.
“Virgem por opção...”, repetiu em voz baixa, quase como se testasse o peso daquela expressão no ar.
Deixou-se cair de costas na cama, encarando o teto. Cindy, por outro lado, parecia cada vez mais distante de tudo o que ele gostaria para sua vida. A arrogância dela no almoço, o desprezo pelos funcionários, o olhar de julgamento sobre uma mulher que ela nem conhecia...
O celular vibrou sobre a mesa de cabeceira. Patrick se levantou devagar, olhou a tela: Cindy.
Suspirou fundo. Atendeu.
— Oi, Patrick... — ela disse num tom ofendido. — Você me proibiu de subir ontem. Eu fiquei como? Ridícula? Me deixou falando sozinha!
Ele manteve a voz calma, mas firme:
— Cindy, eu nunca te trouxe aqui no meu apartamento. Nem uma vez. E isso não é porque eu não queria te ver... mas porque sempre achei que você não respeitaria esse espaço. E ontem você me provou exatamente isso.
— Ah, claro! Por causa daquela horrorosa, né? Aquela mulher desajeitada, sem educação...
— Ela tem nome. Lana. E ela é uma mulher extremamente bonita, educada e inteligente. Muito diferente da imagem que você insiste em criar.
Cindy bufou do outro lado da linha.
— Você tá me trocando por ela?
— Eu não estou com ninguém, Cindy. Mas estou começando a refletir se estar com você é o que eu realmente quero. Pensa um pouco no seu comportamento. Nos seus comentários. Na forma como trata as pessoas. Depois a gente conversa. Agora... eu vou desligar.
E desligou.
Não houve grito. Nem bate-boca. Apenas o silêncio. Um silêncio que pesou mais para Cindy do que qualquer briga. E, ferida no orgulho, ela fez o que sempre fazia quando queria se vingar: ligou para Ronald Shawn, o diretor da empresa, seu amante secreto, casado, pai de dois filhos adultos.
— Ronald... — disse num tom meloso. — Preciso desabafar. O Patrick está agindo como se eu fosse qualquer uma...
Do outro lado, Ronald respondeu com aquela voz baixa e falsa de conforto, enquanto ajeitava a aliança que ainda usava no dedo anelar.