Minutos depois que Lana saiu da sala, Patrick ainda segurava a xícara de chá, tentando digerir o gosto amargo do que acabara de ver — que nem valeriana dava conta. A porta se abriu sem ser anunciada.
Era Cindy. Esbaforida, batom borrado, o rosto ainda quente da vergonha.
— Patrick, por favor, me escuta… — disse ela, empurrando a porta como se ainda tivesse algum direito.
Ele nem se levantou. Apenas apontou para a porta.
— Você não devia estar aqui.
— Patrick, foi um engano, foi um impulso! Foi ele quem me seduziu! Eu estava carente, você andava tão distante de mim...
— Chega. — a voz dele foi firme, cortante. — Cindy, não tem desculpa. Eu vi com meus próprios olhos. Você não foi seduzida. Você estava... em cima dele. Um homem casado. Pai de família. Dentro da empresa da minha família!
— Mas... nosso casamento está chegando! Você não pode me deixar assim!
— Acabou. — ele se levantou dessa vez, com a voz grave e gelada. — Nós não vamos mais nos casar. E eu quero que você saia da minha sala agora. Não me procure mais. Não me ligue. Não me mande mensagem. E se insistir… eu vou pedir para o segurança te tirar à força.
Ela olhou para ele com olhos arregalados, entre raiva e incredulidade.
— Você vai se arrepender disso, Patrick!
Ele não respondeu. Apenas virou de costas, sentando-se novamente e tomando mais um gole do chá.
Ela saiu batendo a porta.
Segundos depois, Harry e Louis entraram, já tendo visto a cena no corredor.
— O que foi aquilo? — perguntou Louis.
— O que ela aprontou agora? — completou Harry.
Patrick passou a mão no rosto, cansado.
— Peguei a Cindy no flagra. Com o diretor Hamilton.
Os dois irmãos ficaram boquiabertos.
— Você tá brincando… — Louis sussurrou.
— Dentro da empresa? — Harry completou.
Patrick assentiu.
— No sofá da sala dele. Como se estivesse na casa da mãe dela. E ainda teve a audácia de dizer que foi ele quem a seduziu.
Harry soltou um assobio longo, chocado.
— Essa mulher se superou. E olha que eu já esperava absurdos, mas isso...
— Isso vai dar uma treta enorme — disse Louis, cruzando os braços. — A mulher do Hamilton é amiga da mamãe.
Patrick respirou fundo e se levantou novamente.
— Pois é. E agora vamos para a reunião da diretoria. Hoje mesmo. Quem tiver r**o preso, que se prepare.
No andar da diretoria, Patrick se trancou na sala de reuniões com os irmãos, Harry e Louis, e os primos mais velhos. O ambiente estava tenso, ninguém brincava agora.
— Sabe o que me revolta mais? — Patrick começou, se apoiando na mesa com os punhos cerrados. — O diretor Hamilton não pensou um segundo no que isso poderia causar à empresa. À imagem da nossa família. À própria família dele!
Harry coçou a barba, incomodado.
— Aquela cena… parecia saída de um filme de quinta categoria.
— Um casamento de mais de vinte anos jogado no lixo — continuou Patrick. — Por uma aventura com uma garota egoísta, narcisista, incapaz de respeitar a si mesma, quanto mais alguém.
Louis se recostou na cadeira.
— E o pior… ele não foi vítima. Ele foi cúmplice. Sabia que ela era sua noiva. Fez mesmo assim.
— Não me importa o que será dele com a família dele — Patrick disse, mais frio. — Mas eu sinto pelos filhos. Pela esposa. Por terem sido traídos assim. Quanto à empresa, ele vai ter que responder por isso. Ninguém aqui está acima da reputação da família e dos nossos funcionários. Isso aqui não é bordel.
Os outros concordaram ram. Patrick então anunciou:
— Preparem-se. Teremos uma reunião com os acionistas ainda hoje. E quero esse assunto tratado com a seriedade que merece.
Na secretaria do presidente
Lana ainda estava pálida quando procurou Shirley.
— Dona Shirley… eu preciso falar com você.
— Claro, Lana. O que foi, querida?
— Eu… Eu estou me sentindo m*l. Não fisicamente. É... é por causa do que aconteceu. Parece que fui eu que denunciei, mas eu juro que... eu só pensei que alguém estivesse passando mal...
Shirley sorriu com gentileza e segurou a mão dela.
— Lana, ouve uma coisa. Você fez exatamente o que qualquer pessoa de bom coração faria. Você achou que alguém precisava de ajuda, e foi tentar ajudar. Essa é a sua essência. Foi a ingenuidade da sua bondade que desmascarou dois hipócritas.
Lana abaixou o olhar.
— Mas e se eu tivesse me calado?
— Então o doutor Patrick ainda estaria iludido. Teria se casado com uma mulher que o traía, mentia, e se relacionava com um homem casado. E a esposa do Hamilton? Continuaria sendo enganada. Você não destruiu nada, minha querida. Você impediu que essa mentira fosse adiante.
— Eu só... só queria fazer o bem.
— E fez, Lana. E se tem alguém que precisa agradecer hoje… é o doutor Patrick. Porque você salvou ele de viver com uma cobra venenosa. Ele ainda não sabe disso, mas vai saber.