O Fim da Farsa

853 Words
Minutos depois que Lana saiu da sala, Patrick ainda segurava a xícara de chá, tentando digerir o gosto amargo do que acabara de ver — que nem valeriana dava conta. A porta se abriu sem ser anunciada. Era Cindy. Esbaforida, batom borrado, o rosto ainda quente da vergonha. — Patrick, por favor, me escuta… — disse ela, empurrando a porta como se ainda tivesse algum direito. Ele nem se levantou. Apenas apontou para a porta. — Você não devia estar aqui. — Patrick, foi um engano, foi um impulso! Foi ele quem me seduziu! Eu estava carente, você andava tão distante de mim... — Chega. — a voz dele foi firme, cortante. — Cindy, não tem desculpa. Eu vi com meus próprios olhos. Você não foi seduzida. Você estava... em cima dele. Um homem casado. Pai de família. Dentro da empresa da minha família! — Mas... nosso casamento está chegando! Você não pode me deixar assim! — Acabou. — ele se levantou dessa vez, com a voz grave e gelada. — Nós não vamos mais nos casar. E eu quero que você saia da minha sala agora. Não me procure mais. Não me ligue. Não me mande mensagem. E se insistir… eu vou pedir para o segurança te tirar à força. Ela olhou para ele com olhos arregalados, entre raiva e incredulidade. — Você vai se arrepender disso, Patrick! Ele não respondeu. Apenas virou de costas, sentando-se novamente e tomando mais um gole do chá. Ela saiu batendo a porta. Segundos depois, Harry e Louis entraram, já tendo visto a cena no corredor. — O que foi aquilo? — perguntou Louis. — O que ela aprontou agora? — completou Harry. Patrick passou a mão no rosto, cansado. — Peguei a Cindy no flagra. Com o diretor Hamilton. Os dois irmãos ficaram boquiabertos. — Você tá brincando… — Louis sussurrou. — Dentro da empresa? — Harry completou. Patrick assentiu. — No sofá da sala dele. Como se estivesse na casa da mãe dela. E ainda teve a audácia de dizer que foi ele quem a seduziu. Harry soltou um assobio longo, chocado. — Essa mulher se superou. E olha que eu já esperava absurdos, mas isso... — Isso vai dar uma treta enorme — disse Louis, cruzando os braços. — A mulher do Hamilton é amiga da mamãe. Patrick respirou fundo e se levantou novamente. — Pois é. E agora vamos para a reunião da diretoria. Hoje mesmo. Quem tiver r**o preso, que se prepare. No andar da diretoria, Patrick se trancou na sala de reuniões com os irmãos, Harry e Louis, e os primos mais velhos. O ambiente estava tenso, ninguém brincava agora. — Sabe o que me revolta mais? — Patrick começou, se apoiando na mesa com os punhos cerrados. — O diretor Hamilton não pensou um segundo no que isso poderia causar à empresa. À imagem da nossa família. À própria família dele! Harry coçou a barba, incomodado. — Aquela cena… parecia saída de um filme de quinta categoria. — Um casamento de mais de vinte anos jogado no lixo — continuou Patrick. — Por uma aventura com uma garota egoísta, narcisista, incapaz de respeitar a si mesma, quanto mais alguém. Louis se recostou na cadeira. — E o pior… ele não foi vítima. Ele foi cúmplice. Sabia que ela era sua noiva. Fez mesmo assim. — Não me importa o que será dele com a família dele — Patrick disse, mais frio. — Mas eu sinto pelos filhos. Pela esposa. Por terem sido traídos assim. Quanto à empresa, ele vai ter que responder por isso. Ninguém aqui está acima da reputação da família e dos nossos funcionários. Isso aqui não é bordel. Os outros concordaram ram. Patrick então anunciou: — Preparem-se. Teremos uma reunião com os acionistas ainda hoje. E quero esse assunto tratado com a seriedade que merece. Na secretaria do presidente Lana ainda estava pálida quando procurou Shirley. — Dona Shirley… eu preciso falar com você. — Claro, Lana. O que foi, querida? — Eu… Eu estou me sentindo m*l. Não fisicamente. É... é por causa do que aconteceu. Parece que fui eu que denunciei, mas eu juro que... eu só pensei que alguém estivesse passando mal... Shirley sorriu com gentileza e segurou a mão dela. — Lana, ouve uma coisa. Você fez exatamente o que qualquer pessoa de bom coração faria. Você achou que alguém precisava de ajuda, e foi tentar ajudar. Essa é a sua essência. Foi a ingenuidade da sua bondade que desmascarou dois hipócritas. Lana abaixou o olhar. — Mas e se eu tivesse me calado? — Então o doutor Patrick ainda estaria iludido. Teria se casado com uma mulher que o traía, mentia, e se relacionava com um homem casado. E a esposa do Hamilton? Continuaria sendo enganada. Você não destruiu nada, minha querida. Você impediu que essa mentira fosse adiante. — Eu só... só queria fazer o bem. — E fez, Lana. E se tem alguém que precisa agradecer hoje… é o doutor Patrick. Porque você salvou ele de viver com uma cobra venenosa. Ele ainda não sabe disso, mas vai saber.
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