PATERNIDADE

1220 Words
Patrick estava em sua sala, com a foto na mão, a mesma imagem do dossiê que havia recebido naquela manhã. Brittany e Richard. Um retrato íntimo, sorridente, carimbado com a data de três meses atrás. Exatamente o período da suposta concepção. Louis entrou sem bater, segurando uma pasta. O rosto sério. — Eu vi o que chegou — disse, sentando-se à frente do amigo. — Mas antes de você fazer qualquer coisa, eu preciso que você respire fundo. O pai da Brittany teve um colapso ontem à noite. Patrick franziu o cenho, surpreso. — Colapso? — Sim. Foi direto pro hospital com a menina. Ela surtou de novo. Está completamente instável. E ele confirmou que ela está fazendo tratamento psiquiátrico intensivo. Patrick largou a foto sobre a mesa, passando a mão pelos cabelos. — Louis... eu ia chamar o jurídico. Isso aqui muda tudo. — Muda, sim. Mas também muda o fato de que ela não está bem. Olha o que ela está vivendo. Você não viu com os próprios olhos como ela surtou? A Brittany de hoje não é a mesma de antes. Está visivelmente desequilibrada. O pai dela me ligou de manhã. Ele está cuidando de tudo pessoalmente. Pediu discrição. E sinceramente, Patrick, acho que devemos dar esse voto de confiança. Patrick assentiu, visivelmente contrariado, mas ouvindo com atenção. — Você tem razão. Não quero que isso afete ainda mais o estado dela. Vamos fazer assim: pede para a secretária chamar o senhor Drew. Eu quero falar com ele, olho no olho. Louis levantou-se para sair, mas Patrick completou: — Diga que é urgente, mas com calma. Não é uma convocação. É uma conversa de homem pra homem. Minutos depois, Drew entrou. Estava com olheiras profundas e semblante sério. Mas manteve a postura firme. — Patrick, obrigado por me receber. — Eu agradeço por vir. Sente-se, por favor. Drew obedeceu, acomodando-se à frente do noivo da Lana. — Senhor Drew — Patrick começou —, eu recebi uma foto hoje. Uma evidência. Algo que colocaria tudo em xeque, se eu quisesse levar isso adiante juridicamente. Ele colocou a foto sobre a mesa, sem empurra para frente. Apenas a deixou ali, como prova silenciosa de que tinha ciência da verdade. — Mas não é isso que eu vou fazer. Drew ergueu as sobrancelhas. — Não? — Não. Eu não vou processar sua filha. Não vou levar isso adiante. Sei que ela não está bem. E confio em você. Sei que está cuidando dela. E é isso que me importa neste momento. Drew respirou aliviado, os olhos marejando por um segundo. — Ela está... frágil. Está em surto. E confunde lembranças. Acha que o bebê é seu. Mas eu vi essa foto também. E... eu mesmo já não tenho certeza de mais nada. — Por isso mesmo — disse Patrick — eu quero que ela tenha paz. Que faça o tratamento. Que consiga se estabilizar. E quando estiver com cinco meses, vamos solicitar um exame líquido amniótico. Um teste de DNA. Com a sua autorização, claro. — Terá, é claro. — E se for meu filho — continuou Patrick, firme —, eu assumo. Com orgulho. Com respeito. Eu não sou homem para fugir de responsabilidades. Mas quero deixar claro: estou noivo da Lana. Vamos nos casar. Ela é a mulher da minha vida. E nada, nem ninguém, vai mudar isso. Drew assentiu, emocionado. — Você tem a minha palavra de que ela não será um problema. Eu... estou tentando não só consertar os erros dela, mas os meus. E os da mãe dela também. Fui omisso por tempo demais. — Ela não teve estrutura emocional. Mas agora ela tem. Você está fazendo o certo. Isso é o que importa — disse Patrick, estendendo a mão. Eles apertaram as mãos com firmeza. Dois homens diferentes, mas com um mesmo objetivo: proteger uma vida inocente que está por vir. — E sobre o bebê — completou Patrick —, pode avisar a Brittany que ele terá tudo. Cuidado, saúde, estudo. E se ela não estiver bem para cuidar, eu estarei. Não vou faltar com nada. Nem carinho, nem estrutura. — Eu te agradeço. Mais do que você imagina. O ar estava denso na sala. Drew se sentou à frente de Patrick, o olhar abatido, mas firme. — Nós tínhamos falado sobre fazer o exame com cinco meses, mas... — Patrick hesitou, olhando pela janela, pensativo. Drew completou, com um suspiro cansado: — Mas talvez o melhor seja esperar essa criança nascer. Fazer esse exame agora, Patrick, pode gerar ainda mais complicações. E sinceramente... o que mais me preocupa é a saúde do bebê. Patrick assentiu em silêncio. — Ela surtou — continuou Drew —, tomou medicamentos fortes. E antes de sabermos da gravidez, ela contou ao psiquiatra que bebia socialmente. Patrick, você sabe que isso pode afetar a formação do bebê. O silêncio durou alguns segundos, até que Patrick ergueu os olhos, maduros e calmos. — Eu não sou pai ainda... Mas espero ser um dia. E me colocando no seu lugar, eu entendo. Então vamos esperar. Que a criança nasça com saúde. Esse é o mais importante agora. Drew respirou aliviado, tocando o peito como se removesse um peso. — Obrigado, Patrick. Obrigado por ainda ter empatia, mesmo depois de tudo. Dias depois, no consultório, a tela do ultrassom exibia duas pequenas vidas pulsando no ventre de Brittany. Ela olhava fixamente para a tela, como se não acreditasse. Duas bolinhas dançavam em meio ao líquido, com corações batendo fortes. O médico sorriu. — Parabéns, senhorita Brittany. São dois bebês. Gêmeos. Ela arregalou os olhos, colocando a mão sobre a barriga, emocionada. — Dois...? Drew estava ao lado, e pela primeira vez em muito tempo, a emoção dominou seu rosto endurecido. Lágrimas vieram sem aviso. Brittany o olhou, com os olhos marejados. — Olha, papai... Não é lindo? Não é lindo? Ele passou o braço em seus ombros, apertando-a. — É sim, minha filha... É a coisa mais linda que eu já vi. Ela fungou, a emoção transbordando. — Você vai me ajudar a criar? — Vou. — Você promete? Ele assentiu. — Prometo. Ela voltou os olhos para o monitor, onde os dois pequenos ainda dançavam. — Mesmo que o Patrick não queira ficar comigo... eu quero esses bebês. Eu não vou mais ser sozinha, papai. Eu sempre fui sozinha. A mamãe só ligava pra aparência. Você... só trabalhava. Eu via ela saindo, sabe? Eu sabia o que ela fazia. E eu... eu achava que era normal. Eu achava que ser igual a ela era o certo. Drew engoliu em seco, apertando a mandíbula. — E hoje? — perguntou. — Hoje eu vejo que tudo aquilo era errado. Eu não quero isso pra eles. Eu quero dar amor, quero dar colo, quero dar verdade. Mesmo que esses bebês sejam filhos do Richard, eu não quero ele perto. Ele traiu a mulher dele comigo... mas eu sabia que ele era casado. Eu insisti. Fui em cima dele. E hoje eu me envergonho disso. Ela virou-se para o pai, sincera como nunca antes. — Papai, eu quero que tudo seja diferente agora. Você me ajuda? Ele a abraçou apertado, quase sem palavras. — Eu te ajudo, minha filha. Por você. E por esses dois corações que agora batem dentro de você.
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