Na manhã seguinte à visita, Dra. Lisa estava sentada novamente em sua sala. A pasta clínica de Brittany sobre a mesa, anotações feitas com cuidado. Pegou o telefone e ligou para a médica responsável pela puérpera, a obstetra Dra. Rachel Prier.
— Doutora, aqui é Lisa, psicóloga do hospital. Estou acompanhando a Brittany M. — fez uma pausa breve. — Sim, a mãe dos gêmeos da UTI neonatal. Gostaria de sugerir algumas medidas clínicas complementares para apoio à saúde mental dela.
E assim, com a escuta atenta da obstetra do outro lado, Lisa apresentou seu parecer:
— Ela apresenta um quadro claro de estafa emocional. Está há quase um mês no hospital, dormindo m*l, com alimentação irregular, extremamente ansiosa, mesmo que tente esconder.
— Entendo... e o que você propõe?
— Um ansiolítico leve, compatível com a amamentação. Nada forte. Só o suficiente para induzir um descanso de qualidade.
— Hidroxizina pode ser uma boa opção.
— Exato. E... recomendo também que a nutricionista a avalie hoje ainda. Ela precisa se alimentar melhor. Está nitidamente enfraquecida.
— Sem problemas. Já faço o encaminhamento.
Lisa finalizou com o último ponto:
— O pai dela, senhor Dreew, está disposto a contratar uma enfermeira particular. Alguém de confiança, para que ela tenha suporte diário e consiga, enfim, descansar.
— Isso vai ajudar muito.
No mesmo instante, Lisandra também enviou uma mensagem para Dreew:
"Senhor Dreew, bom dia. Avaliei a Brittany e acredito que ainda não é o momento de informar sobre o quadro da Maris. Ela está fragilizada emocional e fisicamente. Estamos tomando medidas para fortalecê-la.
Amanhã, antes de vê-la, passe na minha sala.
Precisamos conversar. – Dra. Lisa."
Dreew respondeu minutos depois.
"Estarei aí. Obrigado, doutora. De coração."
Lisa olhou pela janela do hospital, com os dedos entrelaçados no colo.
"Antes de preparar a alma, é preciso restaurar o corpo. O espírito mora onde há força. E ela vai precisar de muita."
Quem Cuida Não Espera
Na manhã seguinte, Dreew chegou pontualmente ao hospital e subiu até a sala da Dra. Lisa. A psicóloga o aguardava com sua prancheta de acompanhamento em mãos, o semblante atento, mas agora carregado de algo além da análise: uma genuína preocupação.
— Senhor Dreew — ela disse, após convidá-lo a sentar —, eu conversei com sua filha. Ela está se desdobrando pelos filhos. Mas o corpo dela está falhando. O esgotamento já é visível. Estamos em um limite delicado.
— Eu imaginei — Dreew respondeu, os olhos duros de tensão. — Ela não dorme, não se alimenta, e ainda está tentando lidar com tudo sozinha. Por isso vim com uma proposta.
— Diga.
— A senhora conhece alguma enfermeira — alguém de confiança, humana, experiente — que tenha trabalhado na UTI neonatal, ou com recém-nascidos? Alguém que seja carinhosa, mas que também tenha autoridade e paciência?
Lisa não hesitou.
— Conheço, sim. A enfermeira Lucy. Está há 38 anos no hospital. Já está nos trâmites da aposentadoria. Uma das melhores profissionais que já conheci. Cuidadosa, doce, e firme quando precisa ser. Sempre teve um dom natural com mães puérperas. É como uma segunda mãe dentro da UTI.
Dreew endireitou-se na cadeira.
— Essa é a pessoa que quero. A senhora pode intermediar? Pedir à diretoria que agilize a aposentadoria dela? Eu pago o salário dela. Pago o dobro do que ela recebe aqui. Porque ela não vai cuidar apenas dos bebês ela vai cuidar da minha filha também.
— Isso é admirável, senhor Dreew — respondeu Lisa, tocada pela firmeza dele. — E é exatamente o que precisa ser feito. A Brittany está prestes a entrar em colapso de exaustão. Se o senhor não tomar essa atitude agora, poderemos ter um quadro de agravamento psico-emocional sério nos próximos dias.
— Então por favor, doutora. Marque o que for preciso, fale com quem tiver que falar. Se preferir, me direcione que eu mesmo vou até a diretoria. Mas eu quero a enfermeira Lucinda ao lado da minha filha o mais rápido possível.
Lisandra anotou com eficiência, já mentalizando os passos seguintes.
— Eu irei hoje falar com a administração. E já deixarei Lucinda ciente da proposta. Se tudo correr bem, ela poderá iniciar o acompanhamento em dois dias, oficialmente.
— Que assim seja. E depois disso, se ela aceitar, quero contratá-la em definitivo. Como babá. Quero que minha filha tenha alguém por perto que não esteja só por obrigação. Alguém com alma.
A psicóloga apenas sorriu.
— Então a Brittany tem algo que muitas mães nesse hospital não têm. Um pai que cuida antes de acontecer. E isso... faz toda a diferença.
O som dos sapatos firmes ecoou pelo mármore polido da sede da empresa. Dreew estava ali para resolver algumas pendências administrativas, mas o coração seguia na ala da UTI neonatal, com sua filha e seus dois netos.
Ao passar pelo corredor principal, ouviu a voz suave de Lana o chamar discretamente:
— Senhor Dreew?
Ele parou e voltou-se com um leve sorriso, já prevendo a preocupação no olhar dela.
— Lana, querida. Que bom te ver por aqui. Está tudo bem?
— Agora sim — ela respondeu, com um sorriso tímido. — A médica só me liberou essa semana. Ainda estou retomando aos poucos, mas confesso que fiquei preocupada. Não consegui visitar a Brittany... Desde o incidente com dona Maris , estou com saudades dos bebês, eu...
— Eu sei — ele disse, erguendo a mão com ternura. — Você também estava em repouso. E não tem que se culpar por nada.
Lana abaixou os olhos, como se segurasse um peso no peito.
— Mesmo assim, eu me sinto culpada. Depois de tudo que aconteceu entre nós, eu pensei em ir vê-la... mas não tive coragem.
Dreew colocou uma das mãos no ombro dela, com carinho paternal.
— Minha filha, escute bem: você não é culpada de nada. Muito pelo contrário. Você também não ficou bem após o que houve com a Maris. E, se hoje minha ex-esposa está viva... é graças à sua mãe. Nunca se esqueça disso.
Ela assentiu em silêncio, emocionada.
— E a Brittany... como ela está?
— Frágil — respondeu ele. — Ainda em acompanhamento psicológico. Não sabe o que aconteceu com a mãe. E eu não tive coragem de contar. A Dra. Lisa pediu tempo. E eu estou dando esse tempo. Cuidei para que ela recebesse apoio completo. Contratei uma enfermeira para ajudar com os bebês e com ela. A prioridade agora é prepará-la... por dentro e por fora.
Lana respirou fundo e, com os olhos marejados, disse:
— Se o senhor me permitir... eu gostaria de ajudar.
— Ajudar como?
— Eu estou de licença médica . E mesmo com o trabalho aqui, posso organizar meus horários. Quero passar um tempo com a Brittany, lá no hospital. Ela precisa descansar, e eu posso ficar com os meus sobrinhos.
— Lana, minha filha, vocês está grávida, de trigêmeos, não acho bom você fazer esse esforço.
— Ela é minha irmã, senhor Dreew. O passado ficou pra trás. O que importa agora é o presente. E... eu também vou ser mãe. Sei o quanto esse momento pode ser assustador sem apoio. A Brittany está provando que mudou. Ela só precisava de atenção... e de carinho. E eu quero ser essa presença.
Dreew sorriu, com os olhos brilhando de emoção.
— Você não sabe o quanto isso significa pra mim. Mesmo depois de tudo...
— É como eu disse: família não é feita só de sangue. É feita de escolha. E eu escolho estar com ela.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Lana conversou com a irmã mais nova e com a prima Nice. As três se reuniram numa chamada de vídeo rápida, direto do refeitório da empresa.
— Gente, preciso da ajuda de vocês — disse Lana, decidida. — A Brittany está exausta. E eu vou ajudar. Mas preciso que a gente se reveza. Eu passo um dia, vocês outro. Assim ela pode dormir, tomar banho tranquila, e a gente cuida dos gêmeos.
— Claro que sim — disse Nice, animada. — São nossos sobrinhos! Mas você fica no seu trabalho, eu e Lena nos revezamos.
— Conta comigo também — completou a irmã. — A Brittany pode não ter sido fácil, mas agora... ela tá tentando. E a gente tem que dar esse voto.
No hospital, quando Lena chegou pela primeira vez, Brittany arregalou os olhos de surpresa.
— Lena? O que você está fazendo aqui?
Lana se aproximou com um sorriso calmo.
— Vim te dar um descanso. Você vai dormir, tomar um banho decente e comer com calma. E eu vou cuidar dos meus sobrinhos.
Brittany se emocionou imediatamente. Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Você ainda fala assim... meus sobrinhos?
— Sempre foram. E você, sempre vai ser minha irmã. A gente só precisava de tempo pra enxergar isso.
Do lado de fora, observando discretamente pela porta entreaberta, a Dra. Lisandra sorriu, aliviada.
“Quando a família age com amor, metade da cura já começou.”