No Lar com os Pais

1035 Words
Assim que chegaram em casa, Francisco estacionou o carro e olhou de soslaio para a filha, percebendo que algo ainda pesava em seu semblante. Lana tirou os sapatos na entrada e foi direto para a cozinha, ajudando a mãe a guardar algumas compras, mas o pai logo puxou assunto. — E aí, filha... como foi o dia? Ela respirou fundo, com um leve sorriso no rosto. — Fui promovida, pai. — O quê?! — Ele arregalou os olhos. — Promovida? Como assim? Conta direito, menina! Ela riu, abraçando o pai com carinho. — Eu não sou mais estagiária. O Sr. Patrick me nomeou assistente diretamente dele. Disse que amanhã mesmo eu posso assinar o contrato formal e que vou ter todos os direitos. Ele foi muito gentil, papai. Francisco se emocionou, segurando o rosto da filha com as duas mãos. — Eu sempre soube que esse dia ia chegar. Você lutou tanto, Lana. Ai, meu Deus, que orgulho da minha menina! — Pai, ele estava passando m*l hoje, com dor de cabeça, e a Dona Shirley pediu pra eu levar o almoço dele com o chá e o remédio. Ele se deitou um pouco, e me pediu pra revisar uns documentos. Eu revisei tudo, marquei algumas coisas, e ele gostou tanto que pediu pra eu apresentar durante a reunião. O olhar do pai ficou mais atento. — Por falar nisso, essa reunião foi a que o Sr. Hamilton saiu parecendo um furacão? Ouvi os outros funcionários comentando que teve um escândalo... Lana abaixou os olhos, sem saber se falava. — Foi, pai... e eu me sinto um pouco culpada. — Culpada? Por quê? — Porque eu achei que a Dona Cindy estava passando m*l. Ela entrou na sala do Sr. Hamilton começou a gemer. Juro que pensei que ela estivesse tendo um ataque de pânico, sei lá... Aí eu avisei a Dona Shirley pra chamar o Dr. Patrick, e ele foi correndo. Quando abriu a porta, encontrou os dois... — ela fez uma pausa, engolindo seco — juntos. De um jeito íntimo. Francisco fechou os olhos, balançando a cabeça. — Que coisa feia... — Pai... ele ficou tão sem chão. Todo mundo viu, os seguranças, o pessoal do serviço médico, os funcionários que estavam passando no corredor. Eu não queria que aquilo acontecesse, só queria ajudar. Francisco segurou a mão da filha. — Minha filha, você fez o certo. Não foi você que causou aquilo. Eles escolheram agir errado, e colhem as consequências. O Sr. Patrick deve estar agradecido por ter mostrado quem realmente era a mulher ao lado dele. Você agiu com pureza. Nunca, nunca se sinta culpada por ser boa. Lana assentiu, com os olhos marejados. — Obrigada, pai. — Agora, bora jantar que sua mãe fez aquela lasanha que você ama. E depois você me conta como foi apresentar na frente da diretoria, hein? Porque isso aqui precisa virar história pra contar pros netos! Francisco ainda segurava a mão da filha quando voltou a falar, com o tom calmo de quem já viu muita coisa na vida. — Minha filha o que o Sr. Hamilton fez não é coisa de um homem de honra. Ele traiu a confiança da esposa, dos filhos, e até da empresa que ajudou a construir. Já o Sr. Patrick eu acredito que o que mais doeu nele nem foi tanto o que a Dona Cindy fez. Não foi só a traição. Foi ver um lar sendo destruído diante de todos. Lana o olhava em silêncio, absorvendo cada palavra como um bálsamo. — O Sr. Patrick é um rapaz correto. Os pais dele são pessoas muito decentes, de princípios firmes. Você vê o Louis, o Harry… eles brincam, são irreverentes, mas têm coração. Se uma moça não quiser nada com eles, e respeitam. Lena, que estava escutando em silêncio desde o início, finalmente cruzou os braços e falou: — Essa daí é aquela que te chamou de barril de banha? Lana assentiu, com um suspiro curto. — Ela mesma. Lena bufou, incrédula. — É disso que eu falo, né? Impressionante como tem gente que julga os outros por si mesma. Ela achou que podia medir a sua dignidade pelo próprio metro torto dela. Mas, sinceramente? Você tem muito mais honra, Lana. Muito mais do que ela acha que tem dinheiro. E o dinheiro dela não vai salvar de um escândalo desses. Vai cair no próprio veneno. Fez uma pausa e completou, mais séria: — Agora... eu só sinto pena. Da esposa dele. Do Sr. Hamilton. E dos filhos. Porque isso vai devastar aquela família. E também sinto pelo Sr. Patrick. Pelo que o papai fala, e o que a mamãe comentou, ele parece ser um bom homem. Lana concordou, com os olhos baixos. Mas Lena continuou: — E olha, do pouco que eu vi, do que conheço dele, o Dr. Patrick é sim um homem sério. Responsável. Respeita todo mundo, não faz diferença entre funcionário e diretor. Ele é firme, mas justo. Todo mundo lá na empresa gosta dele, e não é porque ele é bonito ou porque tem dinheiro. É porque ele é correto. Ela ergueu o queixo, com ar decidido: — E o Sr. Luiz e o Sr. Harry… eles também são respeitados, cada um com seu jeitinho, mas são decentes. Agora o Patrick, ele é daquele tipo raro, que é o mesmo na sala de reunião e na vida. Não muda. E vou te dizer: foi uma benção ele ter descoberto a verdade antes de se casar. Porque você já imaginou, Lana? Célia se aproximou, ouvindo com atenção. — Já pensou se ele só fosse descobrir depois de subir no altar? Depois de assinar papel? Coitado… se enforcava com aquela peça peçonhenta. Lana sorriu, mesmo ainda com o coração sensível. A irmã era assim: bruta na fala, mas com um cuidado imenso por dentro. — Ainda bem que não foi tarde demais — murmurou Lana. — Deus escreve certo por linhas tortas, né? — Escreve mesmo — disse Lena. — E às vezes usa até o barril de banha como lápis. As três caíram na gargalhada, aliviando o clima tenso daquele domingo que começou pesado… mas que, de repente, parecia anunciar novos começos. voz baixa.
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