Convite em Meio ao Milagre

1303 Words
Depois do expediente, Lana decidiu que ainda não era hora de ir pra casa. O coração a puxava para outro lugar — o hospital. Ao chegar, ela pediu autorização na recepção para visitar Brittany. Não podia entrar na UTI neonatal, já que vinha direto do trabalho, mas a enfermeira, já acostumada com Brittany e os bebês, a levou até o visor. Lá estavam os pequeninos. Tão pequenos, tão frágeis... mas vivos. Guerreiros. Brittany estava sentada na poltrona próxima, de costas para a porta de vidro, com uma mamadeira nas mãos e um livro de histórias aberto no colo. Quando notou a presença de Lana, sorriu com sinceridade. — Oi, Brittany — disse Lana com suavidade, erguendo uma sacola pequena e um envelope elegante. — Vim deixar o convite do meu casamento. Brittany se levantou e saiu até o hall, surpresa. — Casamento? — perguntou ela, os olhos arregalados. Lana assentiu, com um brilho emocionado nos olhos. — O Patrick decidiu que não quer mais esperar. Depois que viu vocês aqui, com os meninos... ele disse que a vida é agora. E eu concordo. Brittany sorriu de forma discreta, e antes que pudesse responder, Lana retirou algo da bolsa. — Mas tem mais. — Ela estendeu um envelope menor, com a ultrassonografia impressa. — Descobri há pouco tempo. Estou com quase doze semanas. Brittany abriu o papel, olhou, arregalou os olhos e depois olhou novamente. — Três? — sussurrou ela. — Você está grávida de trigêmeos? Lana riu, emocionada. — Sim, amiga. Três. Por isso o casamento precisa ser logo. Eles vão chegar antes do tempo. Brittany puxou Lana para um abraço apertado, longo e verdadeiro. Um abraço de duas mulheres que agora compartilhavam a mesma transformação — a maternidade. — Parabéns, Lana. Você vai ser uma mãe maravilhosa. Esses três sortudos já têm tanta sorte por terem você. Lana sorriu, enxugando discretamente as lágrimas. — Eu queria tanto que você fosse ao casamento, mas sei que os seus meninos são prioridade. Eu entendo. Brittany segurou suas mãos com carinho. — Eu não vou conseguir ir, amiga. Eu tiro leite para eles na hora certa, leio historinha todos os dias... Eu não consigo me afastar nem por uma hora. Quando eu for pra casa, prometo te visitar. — Tá bom. O Louis e o Harry mandaram dizer que, quando você tiver em casa, eles querem te visitar... ver você e os gêmeos. — Diz pra eles que daqui a um mês e meio, se Deus quiser, eu já estarei em casa. E vai ser uma alegria receber vocês. Lana assentiu, apertando as mãos dela com carinho. — Eu vou pedir pro meu pai ir ao seu casamento, tá? Ele vai representar a gente. — Vai ser uma cerimônia íntima, Brittany. Só pras pessoas mais próximas... e você é uma delas. Mesmo que não esteja lá fisicamente, vai estar no meu coração. Elas se abraçaram de novo, em silêncio. Porque, às vezes, as palavras não são suficientes para traduzir o elo que nasce entre duas mulheres quando a vida lhes confia o mesmo milagre: gerar amor. Quando o Amor Exige Cuidados Ao chegar em casa, Lana sentiu um leve incômodo. Primeiro, um cansaço maior do que o habitual, depois uma leve tontura ao subir os dois lances de escada até o quarto. Sentou-se na beirada da cama, massageando a testa. Lena, sempre atenta, entrou no quarto com um copo de água na mão e a olhou com preocupação. — Lana... tua testa tá meio quente. Tá tudo bem? — Só um cansaço, mana... deve ser o dia puxado. — Tu tá ofegante só de subir a escada. Espera aí. Eu vou pegar o aparelho de pressão. Mamãe deixou no armário de remédios. Minutos depois, Lena já estava com o aparelho eletrônico no braço da irmã. O visor apitou, e ela franziu o cenho. — A pressão tá um pouco alta. Vinte por treze. — Sério? — Lana franziu a testa. — Mas eu tô tão tranquila... — Isso não é brincadeira, Lana. Tu tá grávida de trigêmeos! Já vou ligar pra tua médica. Lena, determinada, pegou o celular da irmã e ligou para a obstetra de plantão, doutora Adriana Lins. — Doutora, boa noite. É a irmã da Lana, ela tá aqui comigo e a pressão dela tá vinte por treze. Tá com a respiração pesada. Do outro lado, a médica foi direta: — Peçam para ela deitar imediatamente, com as pernas levemente elevadas. Amanhã, sem falta, quero ela no consultório às oito da manhã. E nada de trabalho. Ela precisa fazer exames de urgência. Pode ser o início de uma diabetes gestacional ou uma complicação hipertensiva da gravidez. Vamos monitorar. Lena desligou e virou-se para Lana, que já estava deitada, tentando manter a calma. — A doutora quer te ver amanhã cedo. E repouso absoluto hoje. Amanhã nada de empresa. Tu entendeu? — Tá bom, eu vou avisar o Patrick... Ela pegou o celular e mandou uma mensagem para o RH, comunicando que não compareceria por recomendação médica. Depois, ligou para Patrick, adotando um tom suave para não causar preocupação: — Oi, amor. Eu vou faltar ao trabalho amanhã, tá? Preciso fazer uns exames de rotina... e aproveitar também pra resolver algumas coisinhas de gestante. Patrick não disfarçou a preocupação na voz: — Mas tá tudo bem com você e os bebês? — Sim, amor. É só uma checagem. Essas coisas de praxe mesmo, a doutora quer manter tudo sob controle. — Tá... mas se qualquer coisa acontecer, você me liga, tá? E eu te espero depois de amanhã no escritório. Com saudade. Ela sorriu, mesmo sentindo o corpo pesado. — Também tô com saudade. Vai dar tudo certo. Boa noite, amor. Na manhã seguinte No consultório, a doutora Adriana a recebeu com um semblante atento. Após exame físico, pesagem e coleta de sangue e urina, a suspeita se confirmou. — Lana... os resultados acabaram de sair aqui no painel. A tua glicemia em jejum está em 112, e o teste de curva glicêmica já deu alterado. Além disso, teu colesterol está acima do ideal e a tua pressão, mesmo em repouso, continua oscilando. Vamos considerar que você está desenvolvendo uma diabetes gestacional associada à hipertensão da gravidez. Lana respirou fundo. Já imaginava que o corpo estava começando a dar sinais. — Isso é muito grave? — Não se for controlado desde já. Mas como estamos falando de uma gestação trigemelar, e você já apresentava leve sobrepeso antes da gravidez, agora sua gestação passa a ser considerada de risco moderado a alto. E, a partir de hoje, vamos intensificar o cuidado. — O que eu tenho que fazer? — Você vai começar uma dieta especial imediatamente. Nada de açúcares simples, nada de fritura, vamos controlar o índice glicêmico de tudo. Vou te encaminhar agora mesmo para uma consulta com a nutricionista, que por sorte tem um encaixe neste horário. E vamos monitorar os batimentos dos bebês com mais frequência. Lana assentiu com os olhos marejados. Pensou nos três seres que cresciam dentro dela. Eles dependiam dela agora — mais do que nunca. Logo em seguida, foi encaminhada à nutricionista da clínica, Dra. Fernanda Pires, que recebeu os exames em mãos e foi objetiva: — Lana, com base nos resultados, sua dieta a partir de hoje será dividida em seis refeições, com controle rigoroso de carboidratos, muita fibra e ingestão adequada de água. Nada de suco de caixinha, doces, refrigerantes ou farináceos brancos. Vou te orientar pessoalmente em cada fase. Ela recebeu um plano alimentar detalhado, uma planilha de controle de glicemia para monitorar em casa, e recomendações diárias de repouso com caminhadas leves, sem esforço. Antes de sair, Lana se olhou no espelho do consultório. Estava pálida, mas determinada. Tocou a barriga com ternura e sussurrou: — Por vocês... mamãe vai fazer tudo certo
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