Quarto da Lana – 04h22 da madrugada
Ela já tinha tentado virar de lado umas vinte vezes. Tentou pensar na fatura do cartão, na roupa que usaria amanhã, até na lista de supermercado. Mas não adiantava.
Aquele beijo… aquele toque… a voz rouca dele sussurrando “repete”…
Aquilo tudo estava gravado na pele. E ela sabia — aquele sonho não ia embora tão cedo.
Levanta, vai ao banheiro, joga água fria no rosto.
“Isso é só carência, Lana. Você está cansada, estressada… ele é só seu chefe. Nada mais.”
Mentira. Uma mentira tão grande que até o espelho pareceu rir dela.
Volta para cama. Fecha os olhos. Mas não sonha mais.
Dia seguinte – 07h55
Lana estava mais introspectiva do que o normal. Tinha escolhido um blazer leve para disfarçar o tubinho rosa do dia anterior, e um coque bem feito, daqueles que passam autoridade. A maquiagem? Neutra. Rímel e batom nude.
Ela precisava parecer profissional.
Ela precisava esquecer aquele sonho.
Ela precisava esquecer o que sentiu.
Mas o destino não colabora.
Chega na empresa e Patrick já está na sala. Cabelos levemente bagunçados, barba feita, a camisa azul-marinho que ela nunca tinha visto antes. Aquela que deixava os olhos dele ainda mais intensos. E o perfume? O mesmo sonho. Maldito perfume.
— Bom dia, Lana — ele disse, sem erguer a cabeça, mas com a voz ligeiramente mais… carregada?
— Bom dia, senhor Patrick — ela respondeu, tentando manter o tom neutro. O que era quase impossível. Porque, ao ouvir o nome dele sair da própria boca, seu corpo automaticamente lembrou do sussurro no sonho.
“Repete.”
— O café já está servido, como o senhor gosta. E deixei as planilhas da auditoria no seu e-mail e na pasta física também. O senhor quer que eu acompanhe a conferência hoje?
Ele ergue os olhos. A encarou.
Por um segundo, o olhar dele pareceu… hesitar. Intenso. Profundo. Como se buscasse nela algo que ele também sonhou.
Mas logo voltou a si. Piscou rápido. Limpou a garganta.
— Sim. Me acompanhe, por favor.
Ela assentiu e virou-se para ir até sua mesa.
E então… ele observou.
A mesma forma de andar do sonho.
A cintura. O quadril.
Aquela nuca exposta por causa do coque.
Patrick soltou o ar pelos lábios, irritado consigo mesmo.
“Isso vai acabar mal.”
Mas no fundo — e ela também sabia disso — nenhum dos dois queria que acabasse.
Eles só estavam tentando impedir… que começasse.
Escritório – 10h17
Lana digitava com rapidez. Tentava se concentrar. Tentava de verdade. Mas era difícil quando, a cada dois minutos, ela sentia o olhar dele sobre si. Não um olhar qualquer. Era aquele tipo de olhar que pesava. Que esquenta. Que encosta sem tocar.
Patrick fingia que trabalhava. Caneta numa mão, outra apoiada no queixo. Mas o foco estava no movimento delicado que ela fazia com os dedos ao usar o mouse. No modo como mordia o lábio inferior sempre que se concentrava. Na forma como o seio subia e descia conforme ela respirava mais fundo.
E então, ela se levantou.
Foi até a mesa dele, com uma pasta na mão.
O blazer justo delineia os ombros e a cintura dela. A saia lápis, num tom suave de creme, subia levemente quando ela andava, deixando as curvas ainda mais evidentes. E os saltos… ah, os saltos batiam compassados, hipnóticos.
Patrick cerrou os punhos sobre a mesa.
— Senhor Patrick… aqui estão os arquivos da auditoria. Eu revisei tudo, inclusive os lançamentos das empresas terceirizadas. Tem algo estranho com a VerdanTech, viu? Valor alto, nota fiscal sem justificativa.
— VerdanTech? — ele perguntou, franzindo o cenho, mesmo sem conseguir prestar atenção de verdade. — Hem… ótimo. Quero que separe tudo isso numa pasta exclusiva.
Ela assentiu e, ao se virar para sair, ele notou…
A saia. A curva. O andar.
E ele… endureceu.
De novo.
“Maldição…”
Sentou-se mais para frente na cadeira. Puxou o notebook como quem quer esconder a alma.
Mas Lana percebeu.
Não exatamente o que acontecia — mas o desconforto dele, o jeito tenso, o modo como evitava o contato visual. E, no fundo, ela pensou que talvez… talvez ele ainda estivesse se sentindo abalado por causa de Cindy.
Ela mordeu o lábio, pensativa, e voltou para sua mesa.
11h43 – Almoço se aproximando
Patrick pigarreou.
— Lana?
— Sim, senhor?
— Aceita almoçar comigo hoje? Tenho algumas ideias sobre o bônus de creche que quero discutir pessoalmente, e achei que seria interessante termos um tempo mais reservado.
Ela congelou por um instante. Mas logo disfarçou.
— Claro, senhor Patrick. Como quiser.
Ele sorriu. Curto. Tenso. Mas um sorriso, ainda assim.
E no grupo dos atentados, a mensagem chegou.
Louis:
“Aviso importante: o homem chamou ela pra almoçar. Repito: ele chamou. PRA ALMOÇAR. Com data e hora. Apostas se mantêm?”
Harry:
“Eu disse UM MÊS. Ele vai resistir. Mas vai cair duro na terceira semana. Anota aí.”
Louis:
“Dois beijos no pescoço e ele se joga. Semana que vem o homem já tá no chão.”
Patrick leu e soltou um palavrão em silêncio.
Porque eles estavam certos.
E o pior: ele queria mesmo se render.
Restaurante da cobertura – 12h10
O ambiente era elegante, com vista panorâmica para o centro da cidade. Uma área reservada da própria empresa, usada apenas pelos diretores e acionistas em reuniões mais íntimas. Lana nunca havia pisado ali.
Ela entrou com passos suaves, mas o coração acelerou. O vestido rosa que usava parecia ainda mais colado no corpo com o vento que vinha pelas janelas. E quando Patrick a viu se aproximar… praguejou internamente.
Estava linda. Linda demais.
— Que bom que veio — ele disse, levantando-se, como um cavalheiro. E o olhar… percorreu todo o corpo dela, mesmo que ele tentasse fingir que não.
— Obrigada pelo convite, senhor Patrick. O lugar é incrível — ela comentou, olhando ao redor, enquanto ele puxava a cadeira para ela.
— Assim como a companhia — murmurou quase sem pensar.
Ela franziu o cenho e o olhou, surpresa. Ele tossiu, tentando disfarçar.
— Digo… profissionalmente falando. Você tem sido uma adição valiosa.
— Ah… claro — ela respondeu, corando.
Almoço servido. Silêncio.
Os talheres tilintavam suavemente, mas a tensão entre eles era quase audível. Ela comia com elegância, mas ele… ele m*l tocava na comida. O apetite estava em outro lugar.
— A propósito — ela disse, limpando os lábios com o guardanapo —, revisei os relatórios da VerdanTech e notei que há notas duplicadas e assinaturas escaneadas. Claramente manipuladas.
— Isso é gravíssimo — ele disse, mais sério agora, aproveitando a mudança de foco. — Quero que você, junto com Louis, inicie uma triagem desses documentos. Com total discrição.
Ela assentiu.
— Pode deixar comigo.
Ele a observou mais um pouco. Os olhos castanhos, a forma como o cabelo solto caía por um dos ombros, o pescoço delicado… e então ela mordeu o lábio.
Ele largou o garfo.
— Senhor Patrick? Está tudo bem?
— Sim, só… perdi um pouco o apetite.
Ela sorriu gentilmente. Não fazia ideia do quanto estava torturando ele.
— Talvez um chá depois do almoço ajude.
— Talvez… — ele murmurou, afundando na cadeira.
E enquanto ela falava dos próximos passos da auditoria, ele só conseguia imaginar a ponta do vestido dela subindo quando ela se inclinava para escrever, os botões da blusa cedendo ao movimento dos s***s, o perfume suave que sempre o fazia perder o raciocínio.
Louis mandou nova mensagem:
“Como está indo o date profissional do nosso CEO? Já caiu da cadeira?”
Patrick digitou, por baixo da mesa:
“Eu tô a um suspiro dela para assinar minha própria sentença. Esse homem não vai aguentar.”
Lana terminou o almoço e o olhou, esperando o próximo passo.
— Pronto para voltar?
Patrick sorriu, mas era um sorriso de desespero disfarçado de charme.
— Não. Mas eu não tenho escolha.
Ela levantou primeiro, ajeitou a alça da bolsa no ombro… e a curva do quadril fez o CEO fechar os olhos por um segundo.
Ele estava em perigo.
E a guerra entre razão e desejo só estava começando.