Enquanto Patrick e Lana brindavam ao amor e à superação, Drew se despedia de Brittany no hospital. Ele já tinha caminhado até o estacionamento quando o telefone vibrou no bolso. Olhou o visor. Era o investigador particular que ele contratara discretamente semanas atrás, assim que começaram as suspeitas sobre o atentado contra Maris.
— Diga, estou ouvindo.
A voz do outro lado da linha veio firme, mas contida, com o cuidado de quem sabe que até o vento pode ser espião:
— Doutor Drew, eu tenho tudo. Gravações, transações, mensagens, o depoimento de um informante direto. É ele. O amigo político, o mesmo que jogava golfe com o senhor todos os domingos... foi ele quem mandou executar a senhora Maris.
Drew sentiu o corpo inteiro gelar. O sangue subiu ao rosto e desceu no mesmo instante. Ele já desconfiava, mas ouvir aquilo em voz alta era como um soco no estômago.
— Tem certeza absoluta? — perguntou, trincando os dentes.
— Mais do que certeza. Mas não posso falar por aqui. As linhas não são seguras. Nós precisamos conversar pessoalmente, com urgência.
Drew respirou fundo, fechou os olhos por um instante. A raiva estava lá, pulsando. Mas ele precisava de estratégia agora.
— Estou saindo do hospital neste exato momento. Você sabe onde eu moro. Pode ir até a minha casa?
— Já estou a caminho. Eu lhe aguardo lá. E venha sozinho. O que eu tenho para lhe mostrar... muda tudo.
Drew desligou, guardou o celular e olhou para o céu escuro da noite.
— Você vai pagar pelo que fez, seu desgraçado. A minha filha quase ficou órfã. E a mulher que um dia foi minha esposa... quase perdeu a vida.
Entrou no carro com as mãos firmes no volante.
Era hora de fazer justiça. Silenciosa, calculada... e definitiva.
Chegando em casa, Drew desceu do carro e dispensou o motorista com um aceno discreto.
— Pode ir, estou esperando uma visita — disse, antes de entrar.
Ao passar pela entrada, avisou à funcionária que cuidava da casa:
— Dentro de alguns minutos, chegará uma visita. Ele vai se identificar no portão.
Como se tivesse adivinhado o tempo exato, o interfone tocou. A funcionária atendeu e escutou a voz do segurança da portaria para anunciar:
— Há um senhor aqui dizendo que o Sr. Drew está esperando por ele.
— Ele se identificou?
— Disse que se chama Kanovan .
Drew, que já se aproximava do hall, ouviu o nome e confirmou com firmeza:
— É ele. Pode autorizar a entrada.
Ela assentiu, e ele completou:
— Prepare café e água. Vamos conversar na biblioteca.
Drew caminhava lentamente pelo escritório, com os ombros pesados pela dor dos últimos dias. O detetive, com semblante sóbrio, se levantou e o acompanhou com um olhar firme. A luz amarelada da luminária dava um tom sombrio à conversa que se seguiria.
— Como o senhor havia me dado autoridade para pagar a conta do hospital — começou o detetive, ajeitando os óculos escuros no bolso do paletó — eu me apresentei como namorado da dona Maris. E como já havia feito um pagamento anterior, ele não suspeitou de nada.
Drew franziu o cenho, atento.
— Mas isso fazia parte da estratégia — continuou. — Eu precisava me infiltrar de alguma forma para coletar provas. Porque, como já alertei o senhor, esse homem não é o que parece. Atrás da máscara de um político renomado, atrás do título de empresário respeitado, se esconde um predador que só visa lucro e poder. E a verdade, Sr. Drew, é que nem a própria esposa dele está segura nas mãos desse monstro.
Drew passou a mão no rosto, visivelmente abalado.
— Ele tentou matar a Maris.
O detetive assentiu, sério.
— Mandou. Sem hesitação. E fará de novo, se sentir que pode ser exposto. A vida dela está por um fio, Sr. Drew. Se ele sabe que ela sobreviveu, e pior — que alguém sabe quem foi o mandante... ele vai agir de novo. Seja contra a dona Maris, ou quem quer que seja, o senhor pode ser um alvo.
— Mas por quê? — perguntou Drew, em voz baixa. — Por que ela, tudo bem que ela devia, mas bastava ele me contactar não?
— Porque ela viu o que não devia. Ou soube do que ele queria manter enterrado. Na verdade, Sr. Drew, é que ele não mede consequências. E mais: ele acredita que o senhor ainda seja aliado. Ele pode desconfiar de mim, claro. Mas o senhor é um nome forte. E por isso mesmo, está na mira, ele não imagina que o senhor descobriu.
Drew recuou um passo, sentando-se no braço do sofá, pálido.
— O que você pretende fazer?
O detetive então se aproximou, tirando do bolso um pequeno envelope lacrado com cera vermelha.
— Eu preciso que o senhor me dê carta branca. Eu tenho meios de expor esse homem sem envolver diretamente nem a dona Maris, nem o senhor. Eu trabalhei por anos no FBI. Tenho amigos ainda lá. Tenho contatos na Interpol, em agências de inteligência da Europa e América Latina. Sei como fazer isso chegar nas mãos certas, com o nome certo como fonte... e manter a sua família fora disso.
Drew respirou fundo. Seu olhar agora era outro — mais velho, mais cansado.
— Faça. Faça o que for necessário. Eu só quero paz. A Maris acordou mas está fragilizada. Minha filha ainda se recupera do trauma e meus netos precisam crescer sem medo. Então acabe com isso. Eu confio em você.
O detetive assentiu. Abriu a pasta e retirou alguns documentos.
— Aqui está o restante do valor acordado. E um pouco mais. Por tudo o que fez — disse Drew, estendendo um envelope.
— Quem agradece sou eu, senhor. Pela confiança. O senhor não vai se arrepender. A justiça será feita e feita com inteligência. Em breve, terá notícias.
— Espero que seja o fim desse pesadelo.
— Será o fim para ele... e o recomeço para vocês.
Antes de alcançar a porta, o detetive parou e se virou, olhando Drew nos olhos com a seriedade de quem carrega o peso de muitas verdades.
— E, senhor Drew — disse com a voz firme, mas cuidadosa — me permita um último conselho, não como investigador, mas como alguém que já viu muito nesse mundo. O senhor precisa relaxar. O seu coração está no limite, e o senhor sabe disso. Foram muitos choques em pouco tempo... e agora veio a confirmação mais dura: o homem que o senhor considerava um amigo... não é amigo de ninguém. Nunca foi.
Drew engoliu seco, abaixando a cabeça por um instante.
— Se o senhor tiver um calmante, tome. Jante algo leve. E tente dormir. Porque, pelo menos por esta noite, o perigo passou.
O detetive se aproximou um pouco mais, a voz agora num tom mais grave e compassivo:
— Ele sabe que a dona Maris está viva. E sabe que ela não vai abrir a boca. Ele é c***l, mas não é burro. Não vai tentar nada agora, não com as luzes acesas sobre ele. O senhor pode confiar. Ela está segura... vocês estão seguros.
Drew assentiu lentamente, ainda sem conseguir soltar as palavras que queria.
— Mas o senhor precisa conversar com ela — continuou o detetive. — Precisa olhar nos olhos dela e dizer que sabe de tudo. Que sabe quem mandou matá-la. Que ela não precisa mais carregar esse medo sozinha. Diga que está tomando providências. Que ela está livre dele. E, principalmente... que o senhor está ali, com ela. Que o senhor é o porto seguro dela.
O silêncio da sala foi denso por um momento, até que o detetive deu um passo atrás, ergueu o queixo com respeito e concluiu:
— Pode dormir tranquilo, Sr. Drew. Nada mais vai acontecer com vocês. E se ele ousar tentar algo vai cair.
Com um aceno breve, o detetive saiu, fechando a porta atrás de si com um clique suave — mas que parecia selar, de forma simbólica, o fim do pesadelo e o início da justiça.