####Um Plano Chamado Cuidado

1124 Words
O relógio marcava quase oito da noite quando Patrick chegou ao apartamento, soltando o paletó sobre a poltrona da sala. Lana estava na cozinha, mexendo uma panela com molho branco, o aroma de noz-moscada e queijo invadindo o ambiente com um aconchego que só ela sabia proporcionar. — Cheguei, meu amor — ele disse, caminhando até ela e beijando-lhe a nuca. — Bem-vindo — respondeu ela, sorrindo. — Vai lavar as mãos antes de me abraçar toda melado de rua, hein? Ele riu, obedeceu, e voltou encostando-se à bancada. — E aí, como foi a visita da arquiteta? Lana terminou de arrumar a mesa e se sentou com ele no balcão. — Foi ótima. Ela é uma profissional excelente, muito detalhista, observadora… E, aliás, ficou encantada com a Lisbeth. Disse que vai contratar ela para trabalhar no escritório de arquitetura. Patrick arqueou as sobrancelhas. — Sério? Que virada boa. Mas... você já descobriu quanto vai ser a comissão? — Descobri, sim. — Ela puxou o celular, abriu a planilha e mostrou para ele os valores do projeto, das peças vendidas e o percentual da Lisbeth. — Vai dar um bom valor de entrada para ela. Nada muito alto, mas o suficiente para ajudar. Patrick analisou os números e balançou a cabeça em reflexão. — Nós vamos fazer melhor. — Como assim? — Vamos procurar saber em qual hospital a mãe dela estava internada… e eu vou pagar essa dívida. Lana se virou completamente para ele, surpresa. — Amor… você tem certeza? É um gesto lindo, mas... — Tenho. Essa menina carrega o mundo nas costas. Ela perdeu a mãe, cuida da irmãzinha, trabalha com dignidade, sofreu uma humilhação absurda na loja, e mesmo assim mantém a cabeça erguida. Mas se ela for esperar pagar essa dívida com o salário dela, com o que vai começar a ganhar agora… ela não termina nunca. Vai viver amarrada. — Eu sei… eu também pensei nisso. Mas você já percebeu que ela é do tipo que não aceita ajuda com facilidade? Ela quer fazer as coisas do jeito dela. Não quer parecer que está ganhando favor. — E ela não vai saber. — Ele encarou Lana com doçura e firmeza. — Nós vamos fazer tudo por fora. Com discrição. Eu vou pagar o hospital, mas vou fazer parecer que a dívida foi perdoada por ação social. E vou além: quero saber qual era a universidade que ela estudava. Quero pagar o restante do curso dela. Lana arregalou os olhos. — Patrick… — Sim, eu vou falar com o reitor. Ver se ela pode ser reintegrada. Vou dizer que ela ganhou uma bolsa de estudos. Deixa ela acreditar nisso. O importante é que ela volte a sonhar. Que ela consiga dar um futuro decente para ela e para a irmã. — Você não existe, sabia? — disse Lana, emocionada, colocando a mão no rosto dele. — Eu só tô tentando fazer o que eu gostaria que fizessem por alguém que amo, se fosse comigo. O mundo precisa de mais gente como a Lisbeth. E de menos como aquela... criatura que humilhou ela. — Você tá falando da Naomi? — Nem pronuncia esse nome agora que eu perco a fome — ele respondeu, fazendo careta. — Vamos comer. Depois eu falo com o pessoal da auditoria pra ver se alguém consegue levantar as informações discretamente. E você também pode sondar com a arquiteta, né? — Posso sim. Ela adorou a Lisbeth, vai colaborar com certeza. Eles se serviram, em silêncio por um momento, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos. Mas a paz entre eles era palpável. E naquela noite, mais do que um jantar… eles estavam construindo um futuro. Para alguém que nem sabiam ainda, mas que, de algum modo, já fazia parte da história deles. O Pedido de Proteção Patrick estava recostado na poltrona da varanda do apartamento, vestindo uma camiseta preta e calça de moletom, observando o céu escuro e estrelado com um copo de suco de laranja na mão. Lana saiu do banheiro enrolada no roupão claro, os cabelos soltos e úmidos. Mesmo exausta, ela tinha um brilho sereno no olhar. Ele a olhou com ternura e bateu a palma no assento ao lado. — Vem aqui, amor. Ela caminhou até ele e se sentou devagar, os movimentos mais cautelosos por causa da gravidez de gêmeos. Ele puxou a mão dela e a segurou entre as suas, com carinho. — Amanhã é sábado — começou ele, com a voz suave. — E eu queria que você ficasse aqui comigo esta noite. — Eu ia voltar pra casa da minha mãe… — ela respondeu com hesitação. — Prometi ajudar com umas coisas lá. — Eu sei, meu amor. Mas pensa comigo: ontem mesmo a médica falou que você está desenvolvendo diabetes gestacional. E sua pressão oscilou demais na última consulta. A gente precisa cuidar de você. De vocês três. Ela o encarou, surpresa pelo tom doce e ao mesmo tempo firme. — Aqui, no nosso apartamento, estamos a menos de quinze minutos do hospital. Na casa dos seus pais, é mais de uma hora com trânsito. Se acontecer qualquer coisa, qualquer m*l-estar, aqui eu consigo te levar rápido, consigo socorrer. Lá… eu fico de mãos atadas. Lana ficou em silêncio. Sabia que ele estava certo. — Eu vou conversar com seus pais amanhã — continuou ele. — Já temos todos os trâmites do nosso casamento no civil prontos, os documentos, a habilitação. Então vamos até o cartório… vamos assinar. Vamos nos casar. E depois que os nossos filhos nascerem, com calma, a gente faz uma celebração à altura do que você merece. Uma linda, com vestido, música, tudo. Ela engoliu seco, emocionada. — Mas agora… agora eu quero cuidar de você com a segurança que um marido pode dar. Você aceita? Lana levou a mão até o rosto dele, com os olhos brilhando de emoção. — Eu aceito. Porque esse cuidado que você está tendo… não é só comigo. É com nossos filhos. E eu preciso pensar neles também. Ele a puxou para um abraço terno, apoiando o rosto nos cabelos dela, respirando aquele momento como se fosse um marco. — Aqui você tem as empregadas, tem o motorista à disposição, segurança, conforto. Aqui é o melhor lugar pra você passar essas próximas semanas, Lana. Com tranquilidade. Ela assentiu com a cabeça contra o peito dele. — Eu me sinto segura com você. Pela primeira vez na vida… sinto que estou construindo um lar de verdade. Patrick a beijou na testa com reverência. — Então amanhã cedo nós vamos até seus pais. E segunda-feira… vamos casar. Ela sorriu. — Segunda-feira, senhor futuro marido. Ele riu, abraçando-a com mais força. — Eu nunca estive tão certo de algo.
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