O relógio marcava quase oito da noite quando Patrick chegou ao apartamento, soltando o paletó sobre a poltrona da sala. Lana estava na cozinha, mexendo uma panela com molho branco, o aroma de noz-moscada e queijo invadindo o ambiente com um aconchego que só ela sabia proporcionar.
— Cheguei, meu amor — ele disse, caminhando até ela e beijando-lhe a nuca.
— Bem-vindo — respondeu ela, sorrindo. — Vai lavar as mãos antes de me abraçar toda melado de rua, hein?
Ele riu, obedeceu, e voltou encostando-se à bancada.
— E aí, como foi a visita da arquiteta?
Lana terminou de arrumar a mesa e se sentou com ele no balcão.
— Foi ótima. Ela é uma profissional excelente, muito detalhista, observadora… E, aliás, ficou encantada com a Lisbeth. Disse que vai contratar ela para trabalhar no escritório de arquitetura.
Patrick arqueou as sobrancelhas.
— Sério? Que virada boa. Mas... você já descobriu quanto vai ser a comissão?
— Descobri, sim. — Ela puxou o celular, abriu a planilha e mostrou para ele os valores do projeto, das peças vendidas e o percentual da Lisbeth. — Vai dar um bom valor de entrada para ela. Nada muito alto, mas o suficiente para ajudar.
Patrick analisou os números e balançou a cabeça em reflexão.
— Nós vamos fazer melhor.
— Como assim?
— Vamos procurar saber em qual hospital a mãe dela estava internada… e eu vou pagar essa dívida.
Lana se virou completamente para ele, surpresa.
— Amor… você tem certeza? É um gesto lindo, mas...
— Tenho. Essa menina carrega o mundo nas costas. Ela perdeu a mãe, cuida da irmãzinha, trabalha com dignidade, sofreu uma humilhação absurda na loja, e mesmo assim mantém a cabeça erguida. Mas se ela for esperar pagar essa dívida com o salário dela, com o que vai começar a ganhar agora… ela não termina nunca. Vai viver amarrada.
— Eu sei… eu também pensei nisso. Mas você já percebeu que ela é do tipo que não aceita ajuda com facilidade? Ela quer fazer as coisas do jeito dela. Não quer parecer que está ganhando favor.
— E ela não vai saber. — Ele encarou Lana com doçura e firmeza. — Nós vamos fazer tudo por fora. Com discrição. Eu vou pagar o hospital, mas vou fazer parecer que a dívida foi perdoada por ação social. E vou além: quero saber qual era a universidade que ela estudava. Quero pagar o restante do curso dela.
Lana arregalou os olhos.
— Patrick…
— Sim, eu vou falar com o reitor. Ver se ela pode ser reintegrada. Vou dizer que ela ganhou uma bolsa de estudos. Deixa ela acreditar nisso. O importante é que ela volte a sonhar. Que ela consiga dar um futuro decente para ela e para a irmã.
— Você não existe, sabia? — disse Lana, emocionada, colocando a mão no rosto dele.
— Eu só tô tentando fazer o que eu gostaria que fizessem por alguém que amo, se fosse comigo. O mundo precisa de mais gente como a Lisbeth. E de menos como aquela... criatura que humilhou ela.
— Você tá falando da Naomi?
— Nem pronuncia esse nome agora que eu perco a fome — ele respondeu, fazendo careta. — Vamos comer. Depois eu falo com o pessoal da auditoria pra ver se alguém consegue levantar as informações discretamente. E você também pode sondar com a arquiteta, né?
— Posso sim. Ela adorou a Lisbeth, vai colaborar com certeza.
Eles se serviram, em silêncio por um momento, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos. Mas a paz entre eles era palpável. E naquela noite, mais do que um jantar… eles estavam construindo um futuro. Para alguém que nem sabiam ainda, mas que, de algum modo, já fazia parte da história deles.
O Pedido de Proteção
Patrick estava recostado na poltrona da varanda do apartamento, vestindo uma camiseta preta e calça de moletom, observando o céu escuro e estrelado com um copo de suco de laranja na mão. Lana saiu do banheiro enrolada no roupão claro, os cabelos soltos e úmidos. Mesmo exausta, ela tinha um brilho sereno no olhar.
Ele a olhou com ternura e bateu a palma no assento ao lado.
— Vem aqui, amor.
Ela caminhou até ele e se sentou devagar, os movimentos mais cautelosos por causa da gravidez de gêmeos. Ele puxou a mão dela e a segurou entre as suas, com carinho.
— Amanhã é sábado — começou ele, com a voz suave. — E eu queria que você ficasse aqui comigo esta noite.
— Eu ia voltar pra casa da minha mãe… — ela respondeu com hesitação. — Prometi ajudar com umas coisas lá.
— Eu sei, meu amor. Mas pensa comigo: ontem mesmo a médica falou que você está desenvolvendo diabetes gestacional. E sua pressão oscilou demais na última consulta. A gente precisa cuidar de você. De vocês três.
Ela o encarou, surpresa pelo tom doce e ao mesmo tempo firme.
— Aqui, no nosso apartamento, estamos a menos de quinze minutos do hospital. Na casa dos seus pais, é mais de uma hora com trânsito. Se acontecer qualquer coisa, qualquer m*l-estar, aqui eu consigo te levar rápido, consigo socorrer. Lá… eu fico de mãos atadas.
Lana ficou em silêncio. Sabia que ele estava certo.
— Eu vou conversar com seus pais amanhã — continuou ele. — Já temos todos os trâmites do nosso casamento no civil prontos, os documentos, a habilitação. Então vamos até o cartório… vamos assinar. Vamos nos casar. E depois que os nossos filhos nascerem, com calma, a gente faz uma celebração à altura do que você merece. Uma linda, com vestido, música, tudo.
Ela engoliu seco, emocionada.
— Mas agora… agora eu quero cuidar de você com a segurança que um marido pode dar. Você aceita?
Lana levou a mão até o rosto dele, com os olhos brilhando de emoção.
— Eu aceito. Porque esse cuidado que você está tendo… não é só comigo. É com nossos filhos. E eu preciso pensar neles também.
Ele a puxou para um abraço terno, apoiando o rosto nos cabelos dela, respirando aquele momento como se fosse um marco.
— Aqui você tem as empregadas, tem o motorista à disposição, segurança, conforto. Aqui é o melhor lugar pra você passar essas próximas semanas, Lana. Com tranquilidade.
Ela assentiu com a cabeça contra o peito dele.
— Eu me sinto segura com você. Pela primeira vez na vida… sinto que estou construindo um lar de verdade.
Patrick a beijou na testa com reverência.
— Então amanhã cedo nós vamos até seus pais. E segunda-feira… vamos casar.
Ela sorriu.
— Segunda-feira, senhor futuro marido.
Ele riu, abraçando-a com mais força.
— Eu nunca estive tão certo de algo.