O sábado amanheceu claro, com aquele céu azul lavado pela brisa da madrugada. Patrick e Lana saíram cedo de casa. Antes de seguir para o destino principal, pararam em uma floricultura discreta no bairro central.
— Essas aqui — apontou Patrick, escolhendo um buquê delicado de lírios e margaridas. — Pra sua mãe. E essas outras de rosas pêssego, pra deixar na sala.
— Você é impossível — disse Lana, com um sorriso apaixonado. — Minha mãe vai chorar.
— Missão cumprida, então.
Às dez horas em ponto, pararam diante do portão da casa de Tereza e Francisco. Era uma casa simples, de fachada branca, com janelas floridas e cheiro de bolo recém-assado escapando pela varanda.
Francisco abriu a porta assim que ouviu o carro parar.
— Olá! Pensei que você tinha esquecido o rumo de casa, filha — disse com um sorriso entre sério e brincalhão.
— Bom dia, pai — respondeu Lana, indo abraçá-lo com carinho.
Patrick se aproximou com o buquê em mãos e um sorriso educado.
— Bom dia, seu Francisco. Bom dia, Dona Tereza. Isso aqui é pra senhora — disse, entregando as flores à matriarca, que acabava de sair da cozinha com o avental amarrado na cintura.
— Esse menino sempre gentil… — disse Tereza, encantada. — Que flores lindas! Entrem, vamos sentar. Vou passar um café fresquinho.
Patrick aguardou até estarem acomodados na sala, com Lana sentada entre os pais. Ele então se levantou, ajeitou a postura e falou com a mesma firmeza que usava em reuniões de diretoria — mas com o coração muito mais presente.
— Seu Francisco, Dona Tereza… eu queria falar com vocês com todo o respeito que merecem. A médica nos alertou ontem que a Lana está com início de diabetes gestacional. A pressão dela tem oscilado, e isso representa um risco, tanto para ela quanto para os bebês.
Os pais da Lana trocaram um olhar de preocupação imediata.
— Como o apartamento onde estamos é a apenas 15 minutos do hospital e aqui, com trânsito, é mais de uma hora, eu queria pedir permissão para que a Lana fique comigo no apartamento a partir de agora. Qualquer emergência, estamos próximos. É mais seguro.
Francisco assentiu devagar, ouvindo atentamente.
— Além disso… como adiamos nosso casamento, mas já temos todos os trâmites prontos — documentos, habilitação, tudo legalizado —, eu queria comunicar que segunda-feira, no primeiro horário que o cartório abrir, nós vamos assinar os papéis e oficializar o nosso casamento civil.
Patrick respirou fundo.
— Se eu estou levando a Lana para morar comigo, eu devo essa satisfação a vocês. Quero que saibam que é por amor, por compromisso, e acima de tudo por zelo à vida da mulher que eu amo. E claro, dos nossos filhos. Depois, quando tudo estiver bem, quando os bebês nascerem com saúde, faremos uma celebração à altura do que a Lana merece. Mas hoje, minha prioridade é a segurança dela. Eu gostaria de saber se os senhores concordam.
Tereza foi a primeira a responder, com um leve sorriso emocionado:
— Com certeza, Patrick. O que você está fazendo mostra responsabilidade. Está pensando na saúde da minha filha e dos meus netos. Tem meu apoio.
Patrick se virou então para Francisco:
— E o senhor, seu Francisco?
O homem respirou fundo, depois falou com voz firme:
— Pode ser. Minha filha, arruma uma malinha agora mesmo. Depois o seu Patrick manda buscar o resto das suas coisas. E o que ele está dizendo faz sentido. Se você tá assim, é melhor ficar mais perto do hospital mesmo.
Patrick assentiu, com gratidão no olhar.
— Muito obrigado. E... já que o senhor deu sua bênção, agora que serei oficialmente seu genro, acho que não está mais na hora de me chamar de “seu Patrick”, né?
Francisco ergueu uma sobrancelha com humor contido.
— E não tá na hora de você me chamar de Francisco?
Patrick estendeu a mão, sorrindo:
— Tudo bem, então. Acordo feito. Francisco?
— Patrick — respondeu o outro, apertando a mão dele com firmeza.
Ambos riram.
— Agora a senhora… — Patrick virou-se para Tereza — a senhora não tem jeito. Eu não vou conseguir chamar de Tereza. Vai ser sempre Dona Tereza, com todo respeito.
— Ainda bem — disse ela, rindo e pegando o buquê. — Porque se você me chamasse só de Tereza, eu ia achar que estava me desrespeitando.
O ambiente se encheu de leveza. Pela primeira vez em muito tempo, Lana sentia que tudo estava se encaixando. Que sua família e sua nova vida estavam unidas por um laço invisível… e inquebrável.
Almoço, Arranjos e Convites do Coração
— Vocês vão almoçar aqui — disse Tereza com a voz firme, indo direto para a cozinha. — Já tá tudo no fogo. Eu só vou pôr a mesa.
— Ah, Dona Tereza… não precisava — respondeu Patrick, com aquele sorriso gentil de sempre.
— Precisava, sim. Vai casar com minha filha, vai levar ela daqui, mas antes vai almoçar com a sogra. E não discute comigo.
Patrick riu, quase com reverência.
— Sim, senhora.
Enquanto isso, Lana subiu para o quarto. Pegou uma mochila e começou a separar algumas roupas, um vestido ou outro, pijamas, necessaire. Mas Tereza apareceu logo atrás dela, encostando-se no batente da porta com aquele olhar de mãe que já viu tudo na vida.
— Filha… não precisa se preocupar com isso agora, não. Amanhã eu arrumo tudinho pra você. Não tenho encomenda amanhã. Arrumo com calma e mando o motorista do seu Patrick vir buscar.
— Ah, mãe…
— E na segunda-feira, a gente se encontra no cartório.
Tereza deu um passo à frente, depois franziu o cenho como quem se lembrou de algo:
— Mas falando nisso… o Patrick não falou nada se vai chamar os pais dele, né?
— Lógico que eles vão estar lá, mãe — respondeu Lana com naturalidade, colocando uma blusa na bolsa. — Se vocês vão, os pais dele têm que estar também, né?
— Pelo menos a família tem que estar presente nessa hora — disse a mãe, cruzando os braços com emoção contida.
— E pode deixar que eu vou convidar a Patrícia. E os pais dela também. Aquela menina vale ouro.
— Com certeza. Só a família mesmo, mãe.
— E já aproveita e chama os tios. Os pais da Nisse. Que é pra reunir todo mundo.
Lana assentiu, mas hesitou por um segundo.
— A Nisse vai, com certeza. Mas… a Lena talvez não consiga. Ela tá ficando com a Britney esses dias, lembra?
Tereza ergueu uma sobrancelha como quem não engole desculpa fácil.
— Você acha que a Lena vai deixar de participar do seu casamento? Aquela menina te ama, Lana. Pode ser que não consiga sair cedo, mas ela vai dar um jeito. Nem que chegue atrasada, mas vai.
Lana sorriu com ternura, lembrando da irmã caçula com seu jeito bagunceiro e coração gigante.
— É verdade. Capaz dela chegar mais tarde do que adiar. Mas faltar, ela não falta, não.
— Então pronto. Tá tudo resolvido. — Tereza se aproximou, abraçou a filha e completou: — Vai ser do jeitinho que Deus quer. E do jeitinho que você merece.
Lá embaixo, Patrick e Francisco já conversavam animadamente sobre motos antigas e futebol. O cheiro da comida invadia a casa, e, naquela simplicidade de sábado em família, se construía algo maior que um casamento: um lar.