Quarto das Irmãs – 03h28

1490 Words
Lana estava sentada na cama, abraçada ao travesseiro, o rosto ainda levemente corado, os olhos fixos no chão como se estivesse prestes a confessar um pecado. Lena, de pernas cruzadas, apoiada na cabeceira, esperava. Mas não esperava em silêncio. — Então, vai me dizer que sonhou com o Papa? — Ai, Lena… — Lana murmurou, escondendo o rosto no travesseiro. — Não brinca. — Não tô brincando não, garota. Você tava se contorcendo, chamando o nome do homem como se tivesse num filme proibido. Eu fiquei com vergonha só de escutar! — Tá bom… tá bom. — Ela suspirou, erguendo os olhos. — Eu sonhei com ele. De novo. — De novo?! — Lena arregalou os olhos. — Menina… isso aí já virou série. E agora me diga a verdade: tem mais coisa, né? Lana hesitou. Passou os dedos pelo lençol, nervosa. Depois assentiu devagar. — Tem… é que… eu vi algo. — “Algo” tipo o quê? Ela mordeu o lábio, sem coragem de dizer. Mas Lena era insistente como só irmã mais velha sabe ser. — Lana. Fala logo antes que eu comece a criar versões na minha cabeça — e olha que minha imaginação é fértil. Lana suspirou outra vez, fechou os olhos e disparou: — Eu vi ele... no banheiro. Lena arregalou os olhos. — No banheiro? Você abriu a porta? O que ele tava fazendo? — Fazendo, Lena. Fazendo mesmo… aquilo. E ele... ele disse meu nome. Duas vezes. Lena levou a mão à boca, em choque. — Não! Mentira! E ele viu que você viu? — Não… eu saí bem devagar. Mas não paro de pensar naquilo. E… e agora esses sonhos… Lena soltou um assovio. — Amiga, isso não é pecado, não. Ele não é mais noivo, e você não tá fazendo nada de errado. A mente que tá te traindo, isso sim. — Mas a gente é humilde, Lena… ele é rico, é CEO. É um homem importante, respeitado. E eu sou só a filha do porteiro. — E daí? — Lena rebateu de imediato, com firmeza. — Vai entrar nessa agora? De se diminuir? Isso é complexo que colocam na nossa cabeça. Você é inteligente, linda, educada, dedicada. E, vamos combinar, tem um corpão que até manequim chora de inveja. — Mas eu acho que… eu sou só um brinquedo. Um desejo momentâneo. — Lana disse, baixinho. — Não, Lana. Se fosse só desejo, ele teria feito alguma coisa. Ele teria falado, se insinuado. Mas ele não fala nada, só se tortura. Sabe por quê? — Por quê? — Porque ele te respeita. E porque o que ele sente já passou da fase da atração. Tá virando sentimento, mesmo que ele lute contra. Lana ficou em silêncio, os olhos marejados. — Se um dia ele te procurar — Lena continuou —, você não se joga. Você impõe. Mostra que você não é passatempo. Mas também… não fuja, não. Porque amar não é pecado, Lana. — Eu não sei se é amor. Mas… ele tá dentro de mim. Não consigo parar de pensar nele. Não consigo. Lena sorriu com ternura e puxou a irmã para um abraço. — Você tá é ferrada, irmãzinha. — Eu sei — ela riu, entre um suspiro e outro. — E o pior… eu acho que ele também tá. Lena ainda estava com a sobrancelha erguida, esperando que a irmã dissesse mais alguma coisa. E Lana, sem saber por onde começar, apenas suspirou, encolhendo os ombros. — E então? — Lena insistiu, com um leve sorriso. — Já que está nesse nível de pensamento… me conta: como ele é? Lana mordeu o canto do lábio, sem perceber que sorria feito boba. — Ele tem mais de um metro e noventa. É alto… muito alto. Daqueles que a gente tem que erguer o pescoço pra olhar nos olhos. E falando nisso… — ela sorriu mais uma vez — os olhos dele são os mais lindos que eu já vi na minha vida. — Sério? Azuis, verdes, castanhos? — Castanhos, mas… sabe aquele castanho dourado? Que brilha quando a luz bate? E quando ele olha, parece que vê além… como se enxergasse lá dentro da gente. Lena soltou um riso baixo, divertida. — Ih, tá perdida, Lana… — E não é só o olhar. Ele é… ele é um homem lindo. Todo ele. Não é musculoso demais, mas tem um corpo definido, porte atlético, sabe? Aquelas costas largas… o tipo que dá vontade de abraçar e nunca mais soltar. — Vai com calma, garota… — Lena riu. — Mas continua, tô gostando de ouvir. — A voz dele é grave, profunda… uma voz de barítono. E ele é gentil, educado. Nunca me tratou com superioridade, nunca fez piada, nunca foi grosseiro. Pelo contrário… ele me escuta. Me respeita. Lena ficou em silêncio por alguns segundos, observando a irmã com carinho. — Lana… agora eu tenho certeza. Você está apaixonada por esse homem. Lana arregalou os olhos, como se fosse um susto. E depois, em um sussurro: — Será? — Tá se ouvindo? — Lena riu. — Você descreveu o homem com mais detalhes do que um catálogo de moda masculina. E com olhos de quem tá babando. Isso não é só atração, não. É encantamento. — Ai, meu Deus… — Lana suspirou, escondendo o rosto nas mãos. — Eu tô ferrada. — Tá sim. Mas talvez ele também esteja — disse Lena, piscando, marota. As duas riram baixinho, cúmplices. — Vamos dormir — disse Lena, puxando o cobertor. — Daqui a pouco o despertador toca e eu não quero acordar parecendo um zumbi. — É… vamos sim. Boa noite, Lena. — Boa noite, futura CEO apaixonada. — Cala a boca, menina… As duas riram uma última vez antes de o quarto mergulhar novamente no silêncio — um silêncio onde só os corações agitados ainda falavam baixinho. Sexta-feira — 8h11 | Escritório Central – Sala do CEO O elevador se abriu, e Lana entrou no andar principal com passos firmes, silenciosos e elegantes. O conjunto em tom masala, alinhado perfeitamente ao corpo dela, dava um ar de mulher executiva experiente, mesmo que ela ainda estivesse em início de carreira. A saia lápis ajustava-se à cintura como se tivesse sido desenhada só para ela, terminando logo abaixo dos joelhos, com uma pequena f***a discreta que revelava os tornozelos finos e o salto preto reluzente. A blusa branca trazia um leve decote em V, coberto por um lenço em tons de vinho e dourado, amarrado com cuidado. O coque era mais sério que o habitual — nenhum fio solto, nenhum ar de suavidade infantil. Os brincos de pérola discretos e a maquiagem leve acentuavam os traços de boneca: pele de porcelana, boca rosada, olhos grandes com sombra suave e rímel no ponto. Quando ela cruzou a recepção e seguiu em direção à sala do Patrick, todos os olhares a acompanharam. Mas o dele… ah, o dele foi o que mais pesou. Patrick estava revisando os últimos e-mails quando ouviu o som dos saltos. Sem perceber, virou o rosto. E congelou. Seu coração deu um pulo e caiu direto no estômago. A imagem dela era forte demais para aquela hora da manhã. Aquela saia… aquela cintura… aquele coque. Ela não estava ali apenas como assistente. Ela era uma visão. Uma provocação. Uma tortura diária e constante. Ela bateu na porta com suavidade e entrou com um sorriso calmo. — Bom dia, doutor Patrick. O senhor quer café ou chá esta manhã? Ele demorou meio segundo a mais que o necessário para responder. Os olhos ainda estavam cravados nela, tentando absorver tudo ao mesmo tempo. O perfume delicado que ela usava se misturava com o ar condicionado e invadia o espaço ao redor dele. — Chá… chá seria ótimo — respondeu, tentando não soar ofegante. — Já volto com ele. Assim que ela saiu, ele recostou-se na cadeira com força, jogando a cabeça para trás. — Isso é perseguição — murmurou. — Essa mulher tá me testando… Minutos depois, Lana voltou com a xícara fumegante, apoiou suavemente na mesa dele e, com um pequeno sorriso, deixou um comprimido sobre o pires. Ele franziu o cenho. — Isso é...? — Analgésico. Desde que o senhor descobriu aquela fraude da diretoria, tem sentido dores de cabeça frequentes. Então, se for o caso… já está aí. Mas, doutor Patrick, com todo o respeito… talvez fosse o caso de procurar um neurologista. Ele arqueou as sobrancelhas, surpreso com o cuidado. E tocado. — Você presta atenção até nisso, Lana? Ela sorriu, meio sem graça. — Eu só observo. E me preocupo. O senhor é um bom chefe. Ela se virou para sair, mas antes que fechasse a porta, ele falou mais baixo: — E você é… excepcional. Ela parou por meio segundo. Apenas isso. Depois seguiu, sem dizer nada, fechando a porta. Patrick ficou imóvel. Depois afundou na cadeira. — Eu tô ferrado. E estava mesmo.
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