Apartamento de Patrick – 21h17

1119 Words
Ele largou o celular na mesa de canto e afundou-se no sofá da sala, ainda com o cabelo úmido, a toalha pendendo na cintura, revelando o abdômen definido — aquele corpo forjado pela disciplina e agora... dominado pelo desejo mais indisciplinado que já sentiu em toda a vida. “Ela tá me matando…” Fechou os olhos. E viu de novo a cena da tarde: Lana passando a mão nos cabelos com um coque bagunçado, a curva perfeita da nuca, a pele macia do pescoço, o vestido marfim colado como se tivesse sido desenhado no corpo dela. Quando ela se inclinava para pegar algum relatório... Deus do céu. Patrick soltou um suspiro frustrado e passou as mãos pelo rosto. — Eu tô lascado... Se levantou abruptamente, foi até a cozinha, abriu a geladeira como quem procura alguma solução milagrosa entre os potes e garrafas. Nada. Pegou um copo d’água. Bebeu inteiro. Depois outro. E mais um. “Eu preciso parar com isso. Preciso focar. Trabalho. Auditoria. Richard. Empresa. Isso.” Mas nada adiantava. Ela estava na cabeça dele. Nos olhos dele. No paladar, até — porque até o café que ela fazia parecia mais doce. Voltou para o quarto e sentou na cama, sentindo o colchão afundar sob o peso do desejo não dito, da tensão acumulada. Pegou o celular de novo. Foi até as fotos da empresa. Encontrou uma imagem em grupo da reunião de integração, de semanas atrás. Lá estava ela, no canto, sorrindo, discreta… e linda. Ampliou a imagem sem nem pensar. Os dedos pararam no rosto dela. “Você tá virando minha obsessão, Lana.” Bloqueou o celular. Jogou-o no travesseiro ao lado. E apagou a luz. Porque sabia que essa noite… não teria descanso. Nem ele queria. Lana estava deitada de lado, com os olhos fixos no teto. A luz amarelada da luminária de cabeceira deixava o ambiente com aquele tom morno de noite longa demais. O lençol já estava todo bagunçado. O pijama de algodão, simples, colava na pele quente. Ela se virava de um lado para o outro, tentando afastar o rosto que insistia em invadir seus pensamentos. Patrick. — Ai, meu Deus… — murmurou baixinho, cobrindo o rosto com as mãos. Ela não queria sentir aquilo. Não podia sentir. Não devia, pelo amor de Deus. Mas sentia. Lembrou de como ele a olhou mais cedo. Do jeito que ele pigarreava toda vez que ela se aproximava demais. Da voz rouca quando chamava o nome dela. Senhorita Lana... Tinha algo naquele timbre que fazia sua barriga gelar. E hoje, então? A forma como ele a observava por cima do notebook, o olhar fixo, como se atravessasse a alma dela. E aquela desculpa esfarrapada de dor de cabeça? Ela percebeu a tensão nos ombros dele… mas não sabia se era dor de verdade, ou… outra coisa. “Será que é por causa da Cindy ainda? Será que tá difícil pra ele esquecer?” Ela suspirou fundo, enfiando o rosto no travesseiro. — Lana, para com isso… você só é a assistente dele! — sussurrou para si mesma. — Ele era noivo de uma modelo internacional, e você? Você é filha do porteiro! Mas então veio a lembrança da última troca de olhares no fim do expediente. Ele não olhou como um chefe. Ele não olhou como um homem qualquer. Ele olhou como alguém que… sentiu. O coração dela deu um pulo. “Não. Eu devo estar imaginando.” Ela se sentou na cama, levou a mão ao peito, tentando se acalmar. Só que estava difícil. A imagem dele, com os cabelos levemente bagunçados, as mangas dobradas, aquele terno cinza escuro impecável e a gravata levemente frouxa no fim da tarde... Era uma tortura silenciosa. E ela estava rendida. Lana se deitou de novo, virou para o lado e abraçou o travesseiro, apertando os olhos fechados. Mas os olhos da mente mostravam outra coisa: Patrick. Tão perto. Sussurrando seu nome como se ele tivesse gosto. E assim como ele, Lana também sabia. Aquela noite… não teria descanso. Nem ela queria. O som dos saltos anunciou sua chegada antes mesmo que a porta se abrisse. Desta vez, Lana apareceu com um vestido rosa chá, justo, elegante, de tecido macio que moldava as curvas com discrição e requinte. O sapato tinha o mesmo tom — um scarpin delicado, salto médio — e a bolsa combinava em estilo e cor. Os cabelos estavam soltos em ondas leves, caindo sobre os ombros com naturalidade. A pele iluminada. O batom suave. Um quadro. Patrick estava em pé, ao lado da mesa, conferindo um contrato. Quando a viu, esqueceu completamente o que estava fazendo. Santa Mãe de Deus… Ela não era uma visão. Era o golpe final. Lana entrou com o mesmo sorriso de todos os dias, mas havia um brilho diferente em seu olhar. Confiança. Elegância. Naturalidade. — Bom dia, senhor Patrick — disse, colocando a bolsa sobre a cadeira e começando a organizar seu espaço. Ele demorou um segundo a mais. — Bom dia, Lana — respondeu com a voz um pouco falha. Ela notou, é claro. Mas fingiu que não. Ele continuou parado, observando sem disfarçar — o modo como o vestido abraçava a cintura dela, como o tom do rosa suavizava ainda mais os traços do rosto. E, ao mesmo tempo, como aquele corpo era um escândalo silencioso. Patrick sentou-se bruscamente. Pegou uma caneta e começou a rabiscar um papel qualquer, como se fosse o documento mais importante da empresa. Mas não era. Porque a mente dele estava presa no som do perfume dela. No modo como o quadril balançava levemente quando ela caminhava. E no jeito que os s***s dela subiam e desciam conforme ela respirava concentrada. Aquilo não era uma assistente. Era uma provocação divina em forma de mulher. — Senhor Patrick? — a voz dela interrompeu o devaneio dele de novo. — Sim? — A planilha da filial da Argentina está com divergência nos custos de logística. Eu separei os dados pra análise, se quiser revisar. Ele pigarreou. — Sim, claro. Traga até aqui. Ela levou. Inclinou-se levemente sobre a mesa para mostrar o arquivo e... pronto. Ele perdeu o resto da sanidade. A visão do decote discreto. O cheiro do shampoo. A pele quase encostando na dele. Ele até fechou os olhos por um instante. — Está tudo bem, senhor? — ela perguntou, inclinando a cabeça, preocupada. Ele assentiu. — Está sim. Só… muita coisa pra resolver hoje. Mas o que ele não disse é que a maior coisa a ser resolvida naquele momento… era ele mesmo. Porque o coração já estava entregue, o corpo já estava em alerta. E a alma? Essa já implorava por um motivo pra cruzar a linha.
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