Ele largou o celular na mesa de canto e afundou-se no sofá da sala, ainda com o cabelo úmido, a toalha pendendo na cintura, revelando o abdômen definido — aquele corpo forjado pela disciplina e agora... dominado pelo desejo mais indisciplinado que já sentiu em toda a vida.
“Ela tá me matando…”
Fechou os olhos.
E viu de novo a cena da tarde: Lana passando a mão nos cabelos com um coque bagunçado, a curva perfeita da nuca, a pele macia do pescoço, o vestido marfim colado como se tivesse sido desenhado no corpo dela. Quando ela se inclinava para pegar algum relatório... Deus do céu.
Patrick soltou um suspiro frustrado e passou as mãos pelo rosto.
— Eu tô lascado...
Se levantou abruptamente, foi até a cozinha, abriu a geladeira como quem procura alguma solução milagrosa entre os potes e garrafas.
Nada.
Pegou um copo d’água. Bebeu inteiro. Depois outro. E mais um.
“Eu preciso parar com isso. Preciso focar. Trabalho. Auditoria. Richard. Empresa. Isso.”
Mas nada adiantava.
Ela estava na cabeça dele. Nos olhos dele. No paladar, até — porque até o café que ela fazia parecia mais doce.
Voltou para o quarto e sentou na cama, sentindo o colchão afundar sob o peso do desejo não dito, da tensão acumulada.
Pegou o celular de novo. Foi até as fotos da empresa. Encontrou uma imagem em grupo da reunião de integração, de semanas atrás. Lá estava ela, no canto, sorrindo, discreta… e linda.
Ampliou a imagem sem nem pensar. Os dedos pararam no rosto dela.
“Você tá virando minha obsessão, Lana.”
Bloqueou o celular.
Jogou-o no travesseiro ao lado.
E apagou a luz.
Porque sabia que essa noite… não teria descanso.
Nem ele queria.
Lana estava deitada de lado, com os olhos fixos no teto. A luz amarelada da luminária de cabeceira deixava o ambiente com aquele tom morno de noite longa demais.
O lençol já estava todo bagunçado. O pijama de algodão, simples, colava na pele quente. Ela se virava de um lado para o outro, tentando afastar o rosto que insistia em invadir seus pensamentos.
Patrick.
— Ai, meu Deus… — murmurou baixinho, cobrindo o rosto com as mãos.
Ela não queria sentir aquilo. Não podia sentir. Não devia, pelo amor de Deus.
Mas sentia.
Lembrou de como ele a olhou mais cedo. Do jeito que ele pigarreava toda vez que ela se aproximava demais. Da voz rouca quando chamava o nome dela. Senhorita Lana... Tinha algo naquele timbre que fazia sua barriga gelar.
E hoje, então?
A forma como ele a observava por cima do notebook, o olhar fixo, como se atravessasse a alma dela. E aquela desculpa esfarrapada de dor de cabeça? Ela percebeu a tensão nos ombros dele… mas não sabia se era dor de verdade, ou… outra coisa.
“Será que é por causa da Cindy ainda? Será que tá difícil pra ele esquecer?”
Ela suspirou fundo, enfiando o rosto no travesseiro.
— Lana, para com isso… você só é a assistente dele! — sussurrou para si mesma. — Ele era noivo de uma modelo internacional, e você? Você é filha do porteiro!
Mas então veio a lembrança da última troca de olhares no fim do expediente. Ele não olhou como um chefe. Ele não olhou como um homem qualquer. Ele olhou como alguém que… sentiu.
O coração dela deu um pulo.
“Não. Eu devo estar imaginando.”
Ela se sentou na cama, levou a mão ao peito, tentando se acalmar. Só que estava difícil. A imagem dele, com os cabelos levemente bagunçados, as mangas dobradas, aquele terno cinza escuro impecável e a gravata levemente frouxa no fim da tarde...
Era uma tortura silenciosa.
E ela estava rendida.
Lana se deitou de novo, virou para o lado e abraçou o travesseiro, apertando os olhos fechados.
Mas os olhos da mente mostravam outra coisa: Patrick. Tão perto. Sussurrando seu nome como se ele tivesse gosto.
E assim como ele, Lana também sabia.
Aquela noite… não teria descanso.
Nem ela queria.
O som dos saltos anunciou sua chegada antes mesmo que a porta se abrisse.
Desta vez, Lana apareceu com um vestido rosa chá, justo, elegante, de tecido macio que moldava as curvas com discrição e requinte. O sapato tinha o mesmo tom — um scarpin delicado, salto médio — e a bolsa combinava em estilo e cor. Os cabelos estavam soltos em ondas leves, caindo sobre os ombros com naturalidade. A pele iluminada. O batom suave. Um quadro.
Patrick estava em pé, ao lado da mesa, conferindo um contrato. Quando a viu, esqueceu completamente o que estava fazendo.
Santa Mãe de Deus…
Ela não era uma visão. Era o golpe final.
Lana entrou com o mesmo sorriso de todos os dias, mas havia um brilho diferente em seu olhar. Confiança. Elegância. Naturalidade.
— Bom dia, senhor Patrick — disse, colocando a bolsa sobre a cadeira e começando a organizar seu espaço.
Ele demorou um segundo a mais.
— Bom dia, Lana — respondeu com a voz um pouco falha.
Ela notou, é claro. Mas fingiu que não.
Ele continuou parado, observando sem disfarçar — o modo como o vestido abraçava a cintura dela, como o tom do rosa suavizava ainda mais os traços do rosto. E, ao mesmo tempo, como aquele corpo era um escândalo silencioso.
Patrick sentou-se bruscamente.
Pegou uma caneta e começou a rabiscar um papel qualquer, como se fosse o documento mais importante da empresa.
Mas não era. Porque a mente dele estava presa no som do perfume dela. No modo como o quadril balançava levemente quando ela caminhava. E no jeito que os s***s dela subiam e desciam conforme ela respirava concentrada.
Aquilo não era uma assistente. Era uma provocação divina em forma de mulher.
— Senhor Patrick? — a voz dela interrompeu o devaneio dele de novo.
— Sim?
— A planilha da filial da Argentina está com divergência nos custos de logística. Eu separei os dados pra análise, se quiser revisar.
Ele pigarreou.
— Sim, claro. Traga até aqui.
Ela levou. Inclinou-se levemente sobre a mesa para mostrar o arquivo e... pronto.
Ele perdeu o resto da sanidade.
A visão do decote discreto. O cheiro do shampoo. A pele quase encostando na dele. Ele até fechou os olhos por um instante.
— Está tudo bem, senhor? — ela perguntou, inclinando a cabeça, preocupada.
Ele assentiu.
— Está sim. Só… muita coisa pra resolver hoje.
Mas o que ele não disse é que a maior coisa a ser resolvida naquele momento… era ele mesmo.
Porque o coração já estava entregue, o corpo já estava em alerta. E a alma? Essa já implorava por um motivo pra cruzar a linha.