A Lana desmaiou aqui no hospital. — a voz dele saiu entrecortada, tentando se manter firme. — A pressão dela subiu muito. O susto foi grande. Nós estávamos saindo da UTI neonatal quando vimos a mãe da Brittany chegando baleada... foi uma cena horrível.
Do outro lado da linha, o silêncio pesado dos pais da Lana só foi quebrado pela voz aflita de Tereza:
— Meu Deus! Ela está bem? O bebê está bem?
— Ela já está sendo medicada. Os médicos disseram que o bebê está bem, graças a Deus... mas eu não quero que ela volte pra casa agora. — Patrick suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Foi muito forte o que ela passou. Eu pedi pra deixá-la em observação por, pelo menos, dois dias. Ela precisa de repouso, cuidados... e eu quero ela perto. Aqui. Comigo.
— Claro, filho... claro! Nós vamos pra aí agora mesmo! — disse Francisco, com a voz decidida. — Vamos levar roupas, os itens de higiene dela, tudo. E ficamos com ela o tempo que for preciso.
— Tragam também alguma coisa confortável pra ela vestir... pijama de algodão, meia, chinelo... essas coisas. — completou Patrick. — Ela vai ficar no quarto ao lado da ala especial. Eu já pedi pra prepararem tudo. E por favor... tentem acalmá-la. Evitem falar de mais problemas. O clima aqui tá muito pesado... a mãe da Brittany está entre a vida e a morte, e o Drew está arrasado. Mas a Brittany não pode saber. A médica proibiu.
Tereza chorava baixinho, mas ainda conseguiu responder:
— Vamos pegar tudo agora mesmo, filho. Me mantenha informada. E cuide da nossa menina por nós.
— Eu tô cuidando, dona Tereza. Com todo o amor que ela merece. E vou continuar cuidando.
Ele desligou o telefone e retornou ao quarto onde Lana descansava, agora sob efeito leve dos sedativos. Observando-a ali, tão frágil e serena, Patrick jurou em silêncio que nada mais a abalaria — nem o passado, nem o presente, nem as sombras dos outros.
O clima no hospital era pesado, carregado de tensão, sussurros e olhares preocupados. Na ala onde Lana estava sendo mantida em observação, Patrick permanecia firme ao lado da cama dela, checando os sinais vitais no monitor, acariciando de leve os cabelos da mulher que amava.
Foi então que os pais dela, Francisco e Tereza, chegaram com uma mala pequena e sacolas com roupas, cobertores e itens pessoais.
— Ela está melhor? — perguntou dona Tereza, se aproximando devagar da cama da filha, enquanto os olhos marejavam.
Patrick fez que sim com a cabeça.
— A pressão já estabilizou, o bebê está bem... Ela está dormindo. Mas passou um susto enorme. Eu preferi deixá-la internada e em total repouso. Não quero arriscar.
Francisco o cumprimentou com um aperto de mão firme.
— Obrigado, meu filho. Por cuidar dela... e do nosso netinho.
— Sempre. — Patrick respondeu com sinceridade.
Tereza olhou para o marido e disse com voz baixa:
— Vamos avisar a Lena. Ela tem o direito de saber.
Francisco assentiu.
Na casa de Francisco e Tereza, Lena estava se arrumando com um vestido leve e o cabelo preso em um coque despretensioso. No sofá da sala, Luc, o rapaz que ela havia conhecido na faculdade e que nos últimos dias vinha insistindo em conquistá-la, sorria ao vê-la tão animada.
— Você está linda... Vai ser difícil alguém prestar atenção no filme com você do meu lado.
Ela riu e pegou a bolsa.
— Exagerado. Vamos? — disse, prestes a sair quando o celular tocou. Era a mãe.
— Mãe? Tá tudo bem?
Do outro lado, a voz de Tereza tremia.
— Não, minha filha. A Lana passou m*l, desmaiou no hospital. Está em observação. Precisamos que você venha agora. Patrick está lá, ela está estável, mas... foi forte. Te explico tudo aqui.
Lena empalideceu. Luc, vendo a expressão dela, segurou sua mão.
— Aconteceu alguma coisa com sua irmã?
Ela assentiu com os olhos cheios de lágrimas.
— Sim... Eu preciso ir para o hospital agora. Desculpa, Luc... nosso cinema vai ter que esperar.
Ele se levantou.
— Eu vou com você. Não vou te deixar sozinha.
Ela não discutiu. Aceitou a presença dele e foram juntos.
No Hospital
Cerca de meia hora depois, Lena chegou com Luc de mãos dadas. Estava visivelmente abalada, mas aliviada por encontrar a irmã sendo bem cuidada.
Foi recebida por Patrick e pela mãe. Enquanto isso, no corredor do hospital, Harry e Louis chegaram logo atrás, trazendo lanches e suco para todos. Vinham de uma reunião de trabalho, ainda com os blazers no braço.
Quando Harry entrou e viu Lena... de mãos dadas com outro homem, seus passos vacilaram.
Ficou parado na porta, sem conseguir se mover.
O olhar dele encontrou o dela.
Ela sorriu de leve, em respeito. Mas não soltou a mão de Lucas.
Louis, que percebeu tudo no instante em que aconteceu, sussurrou:
— Aí, cara... você perdeu o timing.
Harry mordeu os lábios e desviou o olhar. Uma pontada no peito fez seu coração pesar.
— É... acho que perdi mesmo.
Ele ficou em silêncio, observando de longe, enquanto Luc falava com Francisco e Tereza, e Lena sentava ao lado da irmã, acariciando sua mão com ternura.
Louis colocou a mão no ombro dele.
— Ainda tem tempo, se você quiser lutar. Mas vai ter que ser com o coração na mão e os pés no chão. Porque essa aí... não é qualquer uma.
Harry ficou observando Lena, com um olhar que misturava tristeza e arrependimento.
E no fundo, ele sabia... precisaria provar que estava ali não só por amor — mas para ser merecedor.
Corações em Suspenso”
Mais tarde naquela noite, os corredores do hospital ainda estavam agitados. Médicos e enfermeiros cruzavam de um lado a outro com passos apressados, pranchetas nas mãos, vozes abafadas por máscaras.
Na sala de espera, Drew permanecia de pé, de braços cruzados, diante da porta da cirurgia. O olhar perdido, o rosto abatido, o peito arfando com o peso da culpa e da preocupação.
Patrick havia voltado do quarto de observação da Lana, e estava ao lado dele.
— Você não tem culpa de nada, Drew. Você fez o que podia. Você deu chances… Mas a vida cobra.
Drew assentiu, engolindo em seco.
— Eu sei. Mas ela é a mãe da minha filha. Eu não posso deixá-la morrer assim… sozinha.
Foi então que as portas se abriram novamente, e a família de Lana apareceu: Nice, ao lado de Francisco e Tereza, vinham caminhando apressados.
— Cadê minha prima? — perguntou Nice, assim que viu Patrick.
— Ela está estável. Está dormindo. A pressão estabilizou. Mas o susto foi forte, e o médico quer que ela fique dois dias em observação.
— Graças a Deus... — Tereza murmurou, colocando a mão no coração.
— E a Maris? — perguntou Francisco.
Patrick olhou para Drew, e foi ele quem respondeu:
— Ela ainda está na mesa de cirurgia. Teve duas paradas cardíacas. O neurocirurgião está tentando remover o projétil... mas já avisaram que, se ela sobreviver, pode ficar paraplégica.
O silêncio que se instalou foi doloroso.
— Ninguém avisou a Brittany? — Nice perguntou.
— De jeito nenhum. — Drew se apressou. — Ela está na UTI neonatal, alimentando os gêmeos. Não pode sofrer nenhum impacto. Se ela souber, o leite seca. E ela se desestabiliza.
Patrick completou:
— Já dei ordem para que ninguém diga nada. Todos os cuidados médicos estão sendo cobertos por mim e por Drew. Agora é rezar.
Harry em conflito
No outro canto da sala, Harry observava tudo em silêncio. Louis estava ao seu lado, mastigando devagar uma barrinha de proteína.
— E então? Vai continuar calado?
— Ela chegou de mãos dadas com o cara, Louis. O que eu vou dizer? “Ei, desculpe a demora”? — murmurou com amargura.
Louis deu uma risada curta.
— Bom, seria um bom começo.
Harry abaixou os olhos.
— Ela parece feliz. Não vou estragar isso. Eu esperei demais.
Louis colocou a mão no ombro dele.
— Mas se você realmente quiser... vai ter que correr atrás. Essas garotas não são de esperar eternamente. E ela já esperou.
Harry não respondeu.
Mas o olhar dele continuava preso em Lena, que naquele instante saía do quarto da irmã com o rapaz ao lado, rindo baixinho de algo que ele dissera.
E aquilo doeu mais do que qualquer soco.
Emergência na cirurgia
De repente, um alarme soou, e uma enfermeira saiu correndo do centro cirúrgico.
— Chame o Dr. Spencer! Rápido!
Patrick e Drew se levantaram ao mesmo tempo.
— O que aconteceu?!
— Ela entrou em choque hemorrágico! Estamos tentando conter a hemorragia. O projétil rompeu uma veia maior do que imaginávamos. Estamos com a equipe tentando reverter.
Drew agarrou a cadeira mais próxima para não cair. Patrick segurou o amigo pelo braço.
— Segura firme. Eles estão tentando de tudo.
Os outros se aproximaram, a tensão se espalhou como eletricidade no ar.
A enfermeira desapareceu novamente para dentro do centro cirúrgico.
E ficou o silêncio.
Um daqueles silêncios onde todos oram por dentro, cada um à sua maneira.