A manhã de terça-feira começou ensolarada, mas a energia dentro da empresa era outra. Após o jantar da noite anterior, os funcionários ainda comentavam, entre sorrisos e admiração, sobre a homenagem feita a Lana Alves — a assistente que virou símbolo de honra.
Na sala de reuniões, Patrick conversava com Louis e Harry sobre os próximos passos da diretoria.
— Os contratos precisam ser revistos com lupa. Já conversei com o jurídico para começarmos auditorias externas — disse Patrick, ajustando os punhos da camisa.
Louis assentiu.
— E eu quero que reforcem a segurança da Lana. O nome dela virou público. A gente não sabe o que pode vir.
Harry, no canto, mexia no celular com uma expressão maliciosa.
— Falando em segurança... temos visita.
Patrick levantou o olhar.
— Quem?
Harry girou o celular e mostrou a imagem captada pelas câmeras da recepção: Britney Evans, em um vestido vermelho colado ao corpo, salto alto, óculos escuros e um sorriso debochado no rosto, empurrando a porta de entrada como se fosse dona do prédio.
Patrick respirou fundo.
— Ela veio causar.
— E vai sair causando... danos a si mesma — disse Louis, já se levantando.
Na recepção, Shirley se colocou imediatamente entre Britney e os elevadores.
— Bom dia, senhorita Britney. Em que posso ajudar?
— Pode sair da minha frente, querida. Eu vim falar com o Patrick. E ele vai me receber — respondeu ela, tirando os óculos com um estalo de diva frustrada.
— O senhor Patrick está em reunião. E você não tem autorização para subir — respondeu Shirley, calma, mas firme.
Clara, que assistia tudo de sua mesa, já discretamente acionava a segurança.
Britney deu uma risada seca.
— Você acha que pode me impedir de falar com ele? Eu tenho informações que derrubam metade dessa empresa. Vocês acham que vão me jogar pra escanteio como fizeram com o Hamilton? Pois eu tenho prints, contas, nomes, e se ele não me ouvir, eu vou direto pra imprensa.
— Já deviam ter ido direto pra polícia — murmurou Clara do canto.
— O que disse, querida? — retrucou Britney.
— Eu disse que você está gritando demais pra alguém que tem culpa no cartório — Clara respondeu, levantando-se e cruzando os braços.
Antes que Britney respondesse, os elevadores se abriram. Louis e Harry surgiram primeiro, seguidos por Patrick, que caminhava devagar, com as mãos nos bolsos e o olhar gélido.
— Britney — disse Patrick, com um tom de voz que paralisava.
— Patrick. Amor. Finalmente alguém que tem autoridade nesse galinheiro — ela respondeu, tentando recuperar a pose. — Eu vim resolver as coisas. Porque você sabe que tudo isso está indo longe demais.
Patrick parou à frente dela, encarando-a nos olhos.
— O que está indo longe demais é a sua ousadia em colocar os pés aqui depois de tudo o que foi descoberto. Você recebeu presentes comprados com dinheiro desviado da empresa. Tem registros de contas pagas em seu nome com verba ilícita. Você sabia, Britney. Você se calou. E isso... é cumplicidade.
O sorriso dela sumiu.
— Eu não sabia de nada. Richard nunca me contou nada. Eu...
— Britney — interrompeu Harry, aproximando-se com uma pasta nas mãos. — Aqui tem os comprovantes de transferência, as assinaturas nos contratos ocultos, os prints das mensagens entre você e o contador dele. E uma lista de produtos comprados com cartões vinculados à empresa. Tudo no seu nome. Se você quiser, posso mandar entregar pessoalmente ao delegado que está cuidando do caso.
— Isso é perseguição! — ela gritou, agora visivelmente abalada.
Patrick se aproximou um passo mais.
— Não. Isso é justiça.
Nesse momento, os seguranças chegaram. Clara apenas sinalizou discretamente. Os dois homens se posicionaram ao lado de Britney, mas ainda não a tocaram.
— Eu ainda tenho amigos na imprensa. Se vocês acham que vão me calar, estão enganados — rosnou ela, agora mais pálida.
Louis sorriu de lado.
— Pode tentar. Mas quando a matéria sair, lembre-se de explicar por que estava recebendo presentes pagos com verba suja.
— E mais uma coisa — disse Patrick, com voz grave. — A próxima vez que você pisar aqui sem autorização, não será retirada pela segurança da empresa... será pela polícia. E se abrir a boca em público pra nos difamar, você mesma estará cavando sua cela.
Silêncio.
Shirley quebrou com ironia:
— A saída ainda é a mesma, flor.
Com os dentes cerrados e o rosto em chamas, Britney girou nos saltos, empinou o queixo e saiu escoltada, com os olhares dos funcionários a acompanhando como uma avalanche silenciosa de julgamento.
Quando as portas se fecharam atrás dela, Lana apareceu no corredor, vinda do setor de auditoria. Patrick a viu e se aproximou imediatamente.
— Você ouviu?
— Parte — respondeu ela, calma, mas com os olhos atentos. — Ela está mais desesperada do que perigosa.
— E mesmo assim, ainda merece cautela — disse ele, tocando levemente sua mão.
— Eu tô bem, Patrick. Eu tenho você. E a verdade. Isso basta.
Ele sorriu de leve.
— É. Isso basta.
Harry, atrás deles, deu um assobio discreto.
— Se fosse novela, agora entrava a vinheta: “Justiça foi feita!”
Clara gargalhou. Shirley piscou para Lana e sussurrou:
— Quando a mulher certa chega... a sujeira levanta sozinha.
E Lana sorriu. Porque, no fundo, ela sabia. A sujeira ainda viria. Mas agora... ela não andava mais sozinha.