Quinta-feira – 09h12 | Escritório de PatrickPatrick

1379 Words
Quinta-feira – 09h12 | Escritório de Patrick Patrick ainda tentava se recompor quando viu Lana se levantar novamente, sem dizer uma palavra. Ela saiu com passos firmes, discretos. Minutos depois, retornou com uma bandejinha em mãos: uma xícara fumegante de chá de camomila e um comprimido repousando ao lado, como se fosse parte de um ritual delicado. Ela colocou tudo sobre a mesa dele com suavidade e um sorrisinho de canto. — Aqui está, senhor Patrick. Chá e analgésico. Ele arqueou uma sobrancelha. — Analgésico? Ela assentiu, recuando um passo. — Sim. Porque se o senhor estiver mesmo com dor de cabeça, já resolve os dois de uma vez. Agora, se essa dor continuar persistente, senhor Patrick… com todo respeito, eu recomendo que o senhor procure um neurologista. Ele a encarou, surpreso — e encantado. — Um neurologista? — Sim — ela respondeu, com a voz mansa, mas firme. — Desde que descobriu os problemas com o Hamilton, o senhor vem tendo episódios de dor de cabeça frequentes. Seu corpo pode estar tentando falar algo que o senhor está ignorando. E, com tanto estresse, é sempre bom investigar. Patrick respirou fundo, olhando para ela como quem via uma luz em meio ao caos. Ela se importava. E nem era obrigação dela. — Realmente… você tem razão, Lana. Ela assentiu mais uma vez, satisfeita, e voltou à mesa dela com a mesma elegância contida. Patrick, por sua vez, pegou o chá, mas não tomou. Ficou observando o líquido girando lentamente, enquanto pensamentos — nada médicos — borbulhavam na mente. Meu Deus… eu preciso sair hoje. Preciso sair antes que faça alguma besteira. A tela do celular vibrou. Mensagem de Louis: “E aí, chefe da tentação? Sobreviveu ao tubinho rosa chá ou já pediu baixa?” Logo em seguida, Harry: “Tenho certeza que a dor de cabeça do nosso CEO tem nome e sobrenome. Quer um conselho? Sai hoje. Vai respirar. Ou vai explodir.” Patrick deu um leve sorriso, aquele meio cínico, meio derrotado. Digitou com os dedos firmes: “Hoje. Vamos sair hoje. Onde vai ser?” Louis respondeu com a empolgação típica: “Aquela boate nova na cobertura do Empire, às 22h. Vista-se para esquecer a Lana. Ou para sofrer mais pensando nela. Hahaha” Patrick largou o celular na mesa e tomou um gole do chá. Mas, ao olhar de novo para Lana, concentrada, com a mão segurando a caneta entre os lábios e o olhar atento nas planilhas... Ele soube: Nem saindo do país ele ia conseguir esquecer aquilo ali. Ele ainda estava lá. Encostado na cadeira, a xícara de chá praticamente esquecida na mão, enquanto o olhar não se movia da mulher sentada a poucos metros de distância. Lana revisava uma planilha, mordeu levemente o lábio inferior ao encontrar um dado inconsistente. Franziu o cenho, apertou os olhos e soltou um leve suspiro. Então, se inclinou para pegar um arquivo. Patrick acompanhou cada gesto, como se fosse uma coreografia desenhada para enlouquecer CEOs em recuperação emocional. Aquilo não era normal. Aquilo era tortura. E do tipo que ele estava começando a gostar. Ela se levantou, pegou uma pasta sobre a estante, e quando virou de costas... Pronto. Mais uma vez. Aquele vestido rosa chá marcava as curvas dela com perfeição. O quadril, desenhado. A cintura, cinturada como se tivesse sido moldada sob encomenda. O salto nude deixava as pernas ainda mais longas e elegantes. A bolsa combinando dava o toque final da mulher madura, pronta para qualquer desafio. Patrick sentiu o calor subir. Literalmente. Como é que eu vou trabalhar assim? — pensou. Tentou se ajeitar na cadeira, mas o corpo já havia decidido por conta própria que não seria uma manhã de paz. Ele soltou um palavrão baixinho e virou a cadeira de leve, tentando disfarçar a evidente ereção. A mente dele virou um campo de guerra. Entre os neurônios da decência e os hormônios da perdição, só dava empate técnico. Lana voltou, estendeu a pasta com um leve sorriso: — Aqui está o relatório revisado, senhor Patrick. Tinha algumas inconsistências nos valores, mas corrigi tudo. — Ótimo… — ele respondeu, com a garganta seca. — Excelente trabalho, como sempre. Ela sorriu mais uma vez, tímida, e voltou para sua mesa. Patrick encostou a cabeça no encosto da cadeira e fechou os olhos por um segundo. Você vai enlouquecer, Patrick MacAllister. O celular vibrou novamente. Louis: “E aí? Ela te matou no rosa também? Já tá de luto pelas suas calças, né?” Harry: “Pelo amor de Deus, Patrick. Foca no relatório e não no decote da moça. Ou então manda o currículo pra um asilo, porque tu não vai aguentar mais dois dias.” Ele ignorou. Ou tentou. Mas ao abrir os olhos e ver a silhueta da Lana de novo… o tormento voltou. E o pensamento também: Essa noite eu preciso sair. Ou eu vou acabar fazendo uma loucura. A tarde avançava preguiçosa, mas dentro daquela sala, o tempo parecia escorregar pelos dedos de Patrick. Cada segundo ao lado de Lana era uma batalha perdida entre a razão e o desejo. E ele estava colecionando derrotas. Lana voltou da pausa do almoço com a mesma elegância tranquila de sempre. O vestido rosa chá impecável, sem um vinco sequer. Os cabelos ainda presos no coque bagunçado, como se tivesse acabado de sair de uma capa de revista — mas era só a naturalidade mesmo que deixava tudo mais perigoso. Ela colocou a bolsa na cadeira, ajeitou os papéis e o olhou com cuidado. — O senhor quer o chá agora ou prefere depois da reunião com o setor de contratos? Patrick pigarrou, tentou não parecer abalado. — Pode trazer agora… E, Lana? — Sim? — O analgésico, você já colocou aqui? Ela assentiu, com um sorrisinho leve. — Já está ao lado da xícara. Achei que o senhor poderia precisar. Mas se a dor de cabeça continuar, sinceramente… eu acho que o senhor deveria procurar um neurologista. Desde o episódio com o senhor Richard, o senhor tem tido dores constantes, e isso pode não ser só estresse. Patrick engoliu seco. Até nisso ela presta atenção… — Você tem razão… — ele respondeu mais baixo, tocando a testa. Lana voltou para o lugar dela, se sentou com delicadeza, cruzou as pernas e se debruçou sobre a tela do notebook. Ele viu o colar descer com o movimento, pairando sobre os s***s dela. O tecido fino do vestido fazia tudo parecer mais… próximo. Mais tangível. Mais impossível de ignorar. E ele não ignorou. Passou os próximos vinte minutos assistindo, em silêncio, o sobe e desce sutil do peito dela a cada respiração mais profunda. O lábio inferior que ela mordia quando estava concentrada. O modo como ela franzia o cenho ao revisar os cálculos. E quando ela levantou para pegar um documento… aí foi o fim. Aquele andar. Aquela postura. Aquele corpo. Ele se mexeu inquieto na cadeira. O desconforto era óbvio. A calça não ajudava. O autocontrole estava por um fio. Você vai surtar. Você vai cometer um erro, Patrick. Mas que mulher é essa, meu Deus... O celular vibrou de novo. Louis: “E aí, perdeu a guerra ou tá no modo sobrevivência?” Harry: “Só dois dias pra sexta. Aguenta mais um pouco, irmão. Ou pede férias.” Patrick largou o celular na mesa e bufou alto. — Eu preciso sair hoje. Urgente. Foi aí que Lana o olhou de canto de olho, discretamente. A expressão era de dúvida. Como se disse: Ele não tá bem... Ela mordeu o canto da boca, hesitante. — Doutor Patrick, o senhor quer que eu leve mais chá? Ele fechou os olhos e balançou a cabeça. — Não… Não é isso, Lana. Eu só… preciso respirar um pouco. Pode tocar as planilhas. Se precisar de mim, estarei na sala de descanso. Ele se levantou, com os músculos tensos e o autocontrole se desmanchando a cada passo. A porta da salinha se fechou. Lana ficou olhando. Ele não está bem… Deve ser a Cindy… Deve estar difícil esquecer tudo aquilo. Pobre doutor Patrick. Ela voltou ao notebook, sem saber que, na sala ao lado, o CEO da empresa estava passando o maior sufoco da vida… E o nome da crise? Lana Ferreira.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD