####O Reencontro

1019 Words
A psicóloga entrou no quarto de Maris em silêncio. Ela estava acordada, deitada com a cabeça voltada para a janela, como quem procurava no horizonte algo que não sabia nomear. — Dona Maris… — chamou com doçura. — A senhora está pronta? Maris girou lentamente o rosto, os olhos ainda úmidos, mas lúcidos. — Ela… vem? A voz era fraca, entrecortada. A psicóloga aproximou-se, sentando-se ao lado da cama. — Sim. Ela vem. Mas antes, eu quero que a senhora respire fundo comigo. Vamos fazer isso juntas, tá? As duas inspiraram e expiraram com calma. — Eu preciso que a senhora esteja ciente de que ela também está fragilizada. Ela é forte, mas ainda está se recuperando. Então, tente não segurar o choro. Se vier, deixe vir. Mas evite se agitar. Sua filha precisa vê-la com esperança, não com medo. Maris balançou a cabeça, as mãos trêmulas sobre o lençol. — Eu só… eu só quero pedir perdão. A psicóloga sorriu com ternura. — E ela só quer te amar. Nesse instante, ouviu-se um leve som vindo da porta. A psicóloga se levantou, caminhou até lá e abriu devagar. Drew estava com a mão no ombro de Brittany. Ela, sentada na cadeira de rodas, segurava um ursinho de pelúcia — o mesmo que tinha sido colocado entre os bebês, para que absorvessem o cheiro dela nos primeiros dias. — Pronta? — perguntou a psicóloga, olhando para a filha. — Sim. Drew empurrou devagar a cadeira para dentro do quarto. O tempo pareceu suspender. Os olhos de Maris se arregalaram. A respiração dela travou por um segundo. Ela soltou um som quase mudo: — Minha… Brittany… A jovem não respondeu de imediato. Apenas olhou a mãe com um olhar que misturava mágoa, alívio e amor. Depois, as palavras vieram, como se rompendo uma barragem: — Mãe… Ela começou a chorar. Drew ajoelhou-se ao lado dela, segurando a mão da filha. A psicóloga permaneceu em pé, observando a cena com atenção. — Brittany, a sua mãe está viva porque alguém cuidou de você. E agora ela precisa de você para viver de verdade. — Ela olhou para Maris. — E você, Dona Maris, está viva porque alguém acreditou que ainda havia amor para te salvar. Brittany respirou fundo. — Mãe… a senhora me deixou tão sozinha por tanto tempo. Mas eu estou aqui agora. E os seus netos também. Eles precisam de você. Eu também. Maris tentou se erguer na cama, mas o movimento foi limitado. Ainda assim, estendeu a mão. — Filha… me perdoa… por tudo. Eu fui cega, fui… mesquinha. Você é melhor do que eu jamais fui. Brittany segurou a mão da mãe, aproximando-se o máximo que podia na cadeira. — Eu não quero que você se compare a ninguém. Eu só quero que a gente tente… de novo. As duas choraram em silêncio. Drew se afastou um pouco, tentando conter a emoção. A psicóloga se retirou discretamente, deixando para trás uma sala onde, pela primeira vez em muito tempo, a palavra “família” voltava a ter significado. Os Netos Conhecem a Avó Ainda com a mão da filha entrelaçada à sua, Maris respirava fundo, como se quisesse guardar aquele instante no coração para sempre. Brittany enxugava discretamente as lágrimas com o dorso da mão, tentando manter a compostura, mas o olhar revelava o turbilhão que ainda habitava seu peito. Foi então que a porta se entreabriu novamente, e Nice apareceu com um sorriso gentil. — Brittany… Posso? A filha assentiu. Lena veio logo atrás, empurrando suavemente dois bercinhos móveis, adaptados com incubadoras portáteis. Os bebês estavam envoltos em mantas clarinhas, um azul suave e um rosa antigo, com touquinhas combinando. Cada um com suas feições delicadas, respirando com tranquilidade. — Eles estavam dormindo… mas acho que sentiram a falta da mamãe. — disse Nice, com um brilho de emoção nos olhos. Os olhos de Maris se arregalaram. — São… eles? — sussurrou ela, a voz embargada pela emoção. — Sim, mãe. — Brittany sorriu. — Seus netos. Essa aqui é a Ayla, e esse é o pequeno Noah. Maris levou a mão livre à boca, e lágrimas começaram a escorrer. Brittany, com um esforço cuidadoso, se inclinou um pouco e beijou a testa da mãe. — Eu dei o nome da menina em homenagem à Ayla, a amiga da loja…, aquela que me deu apoio no início da gravidez. E o Noah… bom, foi o Drew quem sugeriu, né, pai? Drew sorriu emocionado. — É um nome que carrega esperança, reconstrução… achei que combinava com a nova fase da nossa família. Mice aproximou a incubadora de Ayla até o lado da cama de Maris, e ela pôde ver, de pertinho, o rostinho da neta. A bebê se mexeu, abrindo um dos olhos devagarinho. — Ela é… tão pequena… — E forte. — disse Brittany, com orgulho. — Como a senhora. — Eu não mereço isso… — murmurou Maris, ainda com os olhos fixos na neta. — Talvez não merecesse antes. Mas agora, está tentando. E isso é tudo o que a gente precisa. — respondeu Brittany, com firmeza e doçura. Nice colocou a mão no ombro de Brittany. — A psicóloga pediu que não nos demoremos, porque a senhora ainda está em recuperação. Mas amanhã, com autorização médica, vamos trazer os dois para passarem um tempinho maior aqui. Maris assentiu, sem conseguir tirar os olhos dos netos. — Eles têm cheiro de esperança. Eu… eu juro por tudo que sou, que vou lutar com todas as minhas forças pra estar ao lado deles… e de vocês. Brittany sorriu, com os olhos marejados de amor. — E nós vamos estar ao lado da senhora também, mãe. Lena se aproximou, pegando levemente na mão de Maris. — E se a senhora não se importar, nós da ala das “filhas emprestadas” também estamos por aqui. Não vamos arredar o pé enquanto a senhora precisar. Drew, emocionado, segurou o ombro de cada uma das meninas como se agradecesse em silêncio. E pela primeira vez em muitos anos, Maris sentiu algo que não sabia mais nomear. Pertencimento. Amor. Família.
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