Três meses depois... As dores vieram de repente, uma fisgada forte que fez Britney derrubar o copo de suco que segurava. Ela segurou a barriga com as duas mãos, os olhos arregalados, sentindo o útero enrijecer. O pai dela, Drew, estava por perto e correu até ela no mesmo instante.
— Pai... Pai, eu acho que... — ela disse, com os olhos marejados. — Eu acho que tá chegando... Eles querem nascer!
Drew não perdeu tempo. Ligou para o obstetra, pegou os documentos e a bolsa maternidade — que Britney já havia deixado pronta com todo o capricho — e a levou às pressas para o hospital. No caminho, ela pediu, com lágrimas nos olhos:
— Pai... Por favor... Liga pra Lana. Diz que eu preciso dela aqui. Eu quero que ela esteja comigo... E pede pra trazer a Lena e a Nisse também. Elas são minha força agora.
No hospital, já instalada na ala de pré-parto, Britney tremia. Estava com apenas sete meses de gestação e sabia que os bebês ainda eram frágeis. As contrações vinham intensas e o obstetra confirmou: o parto teria que acontecer. Não podiam mais esperar.
Lana chegou antes mesmo que Drew desligasse o telefone. De mãos dadas com a irmã Lena e a prima Nice, ela correu pelos corredores, coração disparado.
— Britney! — ela entrou no quarto e, sem pensar duas vezes, segurou a mão da ex-rival, agora amiga.
— Você veio... — Britney sorriu, com lágrimas. — Obrigada, Lana. Eu tô com medo. Muito medo.
— E você não está sozinha. Nós estamos aqui — Lana disse firme. — Eu vou ficar com você. Até o fim.
Na sala de parto, Britney foi levada com urgência. Drew, do lado de fora, preencheu os documentos e solicitou que colhessem o material genético do cordão umbilical para o teste de DNA. A própria Britney havia assinado previamente, com firmeza. Ela precisava saber, mesmo já sentindo no fundo da alma que o Patrick não era o pai.
O parto foi delicado, mas milagroso. Primeiro veio o choro suave da menina, depois o berro mais forte do menino. Os médicos anunciaram:
— É um casal! Prematuros, mas reagiram muito bem. Serão levados para a incubadora, por segurança.
Lana chorava, segurando a mão de Britney até o fim. E Britney, ainda sob os efeitos da anestesia, disse com um sorriso quebrado:
— Eles são lindos, não são?
— São sim. E são abençoados por terem você, Britney.
Na manhã seguinte, ainda no leito, Britney recebeu a visita do pai. Ele estava sério, mas com ternura nos olhos.
— O exame ficou pronto, minha filha.
— E então? — ela perguntou, já sabendo a resposta.
— Patrick não é o pai. Os bebês... são filhos do Richard.
Ela assentiu, sem surpresa, e olhou pela janela da maternidade.
— Eu já sentia. Mas sabe, pai... Eles não têm nada dele. Nada. Eles são... são meus. Só meus. E eu quero que sejam registrados com o meu sobrenome. O Richard não precisa saber.
— E assim será — Drew disse, com orgulho. — Você é uma leoa, minha filha.
Ela sorriu e pediu:
— Quando a Lana vier, diz que eu quero ver ela, a Lena e a Nice. Diz que... que elas são minhas irmãs do coração. E que eu quero que elas vejam os bebês. A Lana segurou minha mão quando ninguém mais o faria. E por isso... ela vai ser sempre parte da nossa vida.
Drew assentiu, com os olhos úmidos.
"Perdão, Recomeço e o Amor Que Permanece"
O clima na maternidade estava suave, com o cheiro discreto de lavanda e o som distante dos monitores cardíacos. Britney estava sentada na poltrona ao lado da incubadora dos gêmeos, envolta num roupão floral, os cabelos presos num coque simples, mas o rosto... ah, o rosto estava iluminado com algo que ela nunca havia experimentado: paz.
Quando Lana entrou no quarto acompanhada de Patrick, Britney sentiu os olhos se encherem. Ela sorriu, e logo estendeu a mão.
— Vocês vieram. Eu estava esperando vocês.
Patrick se aproximou, cauteloso, mas gentil. Britney não hesitou. Encarou-o com sinceridade.
— Patrick... — sua voz saiu firme, mas doce. — Eu sei que errei com você. Com vocês dois. E eu não espero que você esqueça o que aconteceu... mas eu quero que você me perdoe. Não por mim, mas por eles — apontou para os dois pequenos, adormecidos em suas incubadoras.
Patrick a observou por alguns segundos, depois olhou para Lana. A companheira assentiu com um leve sorriso, confirmando:
— Eu já perdoei, Britney. E eu sou tia agora. Tia e madrinha. E eu aceito esse presente com alegria.
Britney segurou a emoção, respirou fundo e virou-se novamente para Patrick.
— Eu já pedi pra Lana, mas agora eu quero te perguntar... Você aceita ser o padrinho dos meus filhos? Mesmo eles não sendo seus, nem filhos da Lana... São só meus. Mas são a melhor parte de mim. E eles precisam de pessoas boas ao redor.
Patrick sorriu, emocionado.
— Será uma honra ser padrinho. Obrigado por confiar nisso.
As lágrimas rolaram pelo rosto de Britney.
— Obrigada por me perdoar, Patrick. Eu não estou mais sozinha. Eu tenho filhos. E agora tenho vocês. Eu prometo que eu vou ser a melhor mãe do mundo pra eles. E sabe... — ela riu, limpando o rosto com o lenço — eu vou voltar a trabalhar. Eu sou arquiteta, lembra? Pois é. Conversei com o papai e, quando os bebês completarem seis meses, eu vou abrir meu próprio escritório.
Patrick riu, lançando um olhar sugestivo para Lana:
— Então já temos uma arquiteta de confiança pra cuidar da decoração da nossa casa, né amor?
Lana sorriu, pegando na mão dele.
— E vocês, quando vão casar? — Britney perguntou, animada.
Patrick nem titubeou:
— Na próxima semana. Eu não posso esperar mais. Como você mesma disse, não dá pra adiar muito. Vai que aparece outro e leva meu tesouro?
— Você está certo — Britney respondeu, rindo e enxugando as lágrimas de emoção. — Cuida bem dela, Patrick. Porque ela é especial. E eu... finalmente entendo o que é amor de verdade.
No outro dia...
— Bom dia, minha menina guerreira.
— Bom dia, papai. — Ela sorriu, os olhos brilhando. — Eu quero te dizer os nomes que escolhi.
Ele se aproximou, curioso e emocionado.
— Já decidiu?
— Sim. — Ela olhou para o filho primeiro, acariciando a mantinha azul clara. — O nome dele será Drew Neto. Ele vai carregar o seu nome com orgulho, porque você é o homem que sempre esteve ao meu lado. Que acreditou em mim até quando nem eu acreditava.
Drew colocou a mão no peito, engolindo seco, visivelmente comovido.
— Minha filha...
Ela então voltou-se para a menininha, encolhida na incubadora ao lado da de seu irmão.
— E ela vai se chamar Alana. — Olhou para o pai com firmeza e serenidade. — Não é só um nome bonito. É um nome que carrega força, dignidade, humildade e amor verdadeiro. Eu dei muito trabalho pra Lana, papai. Mas ela não me pagou com o mesmo veneno. Pelo contrário. Ela me mostrou que existe outro caminho. E eu quero que minha filha cresça sendo como ela: generosa, firme, e de alma limpa.
Drew se sentou na beira da cama e abraçou a filha, emocionado.
— Drew Neto e Alana... nomes de recomeço. Você está fazendo tudo certo, minha filha. Tudo certo.
Ela chorou no ombro dele, em silêncio. Um choro leve, curativo. Não era mais dor. Era libertação.
— Eu quero que você conte pra Lana, quando ela chegar. Eu quero que ela saiba que eu fiz isso de coração. E que eu espero que ela aceite. Se ela quiser, pode até ser a madrinha da Alana... — disse, tímida, como quem oferece um tesouro.
Drew beijou a testa dela e prometeu:
— Eu vou contar. E ela vai se emocionar, eu sei. Você mudou, minha filha. Eles vão ter orgulho da mãe que têm.
E, ali, naquela manhã suave, Britney selava o ciclo de cura e renascimento. Seus filhos tinham nomes de amor, e ela, finalmente, tinha paz.
Os três se abraçaram ali. Entre incubadoras, promessas, e laços que agora não vinham do sangue, mas do coração.
O som constante dos monitores e o sussurro das enfermeiras compunham o cenário delicado da ala neonatal. Nos berços aquecidos, protegidos por redomas transparentes, os gêmeos dormiam. Drew Neto e Alana. Pequenos demais para o mundo lá fora, mas guerreiros desde o nascimento.
Britney, mesmo já liberada pelos médicos para ir para casa, recusou-se a sair do hospital.
— Papai, eu não posso ir. Eu não vou embora sem eles.
Drew, de pé ao lado da cama, acariciou os cabelos da filha e respondeu com doçura:
— Eu resolvi isso. Conversei com a administração. A partir de hoje, você está hospedada aqui, como se fosse um hotel. Eu aluguei uma das suítes privadas do hospital. Assim você pode ficar pertinho deles o tempo que precisar.
Ela o abraçou, aliviada, emocionada, e deixou que as lágrimas corressem pelo rosto.
— Obrigada, papai. Eu... não conseguiria ficar longe. Eles são tão pequenos, tão frágeis... Eles precisam de mim.
— E você precisa deles, minha filha. — Ele beijou a testa dela. — E eu preciso ver vocês três bem. Isso é tudo que importa.
Desde então, todos os dias, Britney se levantava cedo, colocava sua roupa mais confortável e ia até a UTI neonatal. Aprendeu a extrair o leite materno com dedicação e paciência. Alimentava os filhos por sonda, sob orientação das enfermeiras, sempre com mãos trêmulas e olhos marejados.
Cantava baixinho para eles. Tocava a incubadora com o dorso da mão. Conversava com os dois como se já estivessem em seus braços. E toda vez que um dos dois mexia um dedinho ou respirava mais forte, ela sorria com esperança.
As visitas de Lana, Lena e Nisse eram constantes. Elas levavam flores, mimos simples, palavras doces. Mas a presença delas era o que mais fortalecia Britney. E quando Lana descobriu que a menina se chamava Alana, não conteve as lágrimas.
— Você me deu o maior presente que eu podia receber — sussurrou, segurando a mão de Britney.
— E você me ensinou a ser melhor — respondeu Britney. — Agora... eu só quero ser digna desse nome que a minha filha carrega.
Assim seguiram-se os dias. Longos. Intensos. Mas cheios de amor.
Britney não se sentia sozinha. Pela primeira vez em sua vida, ela se sentia mãe. E a mulher que estava nascendo junto com aqueles bebês era muito mais forte do que qualquer versão dela do passado.