Escritório – 15h47
O silêncio do escritório parecia ter um peso novo naquela tarde. Depois do almoço, Patrick voltou ainda mais tenso, como se cada passo da Lana ecoasse direto nos nervos dele. Ela ajeitava as pastas com delicadeza, os dedos longos passando pelas folhas com uma calma quase c***l.
Ele tentava focar no notebook, mas cada vez que ela se curvava ligeiramente para conferir um número ou passar algo para ele, era como se o oxigênio fosse embora do ambiente. Aquela curva da cintura. Aquele aroma doce e discreto. Aquele sussurro de voz a poucos centímetros do seu ouvido.
Era tortura. Da mais requintada.
— Está tudo bem com o senhor, doutor Patrick? — ela perguntou, com aquele tom gentil que ele já associava a coisas que jamais deveria imaginar no ambiente de trabalho.
Ele pigarreou, puxando o colarinho da camisa.
— É... a dor de cabeça continua. Acho que vou repousar por uns vinte minutos, no quarto de descanso. Só isso.
— Deseja que eu leve o chá, senhor? — perguntou, solícita como sempre.
Ele negou com um gesto apressado.
— Não precisa. Já tomei assim que voltei... e o remédio também. Acredito que o efeito está começando.
Ela assentiu com um sorrisinho leve, e voltou a se sentar diante da mesa, cruzando as pernas lentamente. Foi aí que ele se levantou com pressa, a respiração curta. O paletó m*l disfarçava o desconforto.
Ele sumiu pelo corredor interno.
Lana voltou à planilha, mas algo parecia... fora do lugar. Passados alguns minutos, ela achou ter ouvido seu nome. Baixo. Rouco. Como um sussurro.
“Será que ele está m*l?”, pensou. Bateu na porta entreaberta.
— Senhor Patrick?
Silêncio.
Mais um passo adiante. O ambiente estava levemente iluminado, e ela o chamou de novo:
— Doutor Patrick?
E foi então que ela ouviu. Um sussurro grave. Seu nome, outra vez.
Ela parou. O coração disparado. As bochechas queimando.
“Ele está... Ele está dizendo meu nome?”, pensou, sentindo uma onda inexplicável de calor subir pelo peito. Seus olhos se arregalaram, e ela recuou devagar, com o rosto pegando fogo e as mãos suando.
Na sala ao lado, Patrick se apoiava na parede do banheiro, lutando com uma explosão interna que ele não sabia mais esconder. O corpo clamava. A mente já não obedecia.
“Lana…”
Ela saiu rápido, o mais silenciosa possível, e voltou à mesa tentando controlar a respiração. Mas agora ela sabia. E a imagem dele, lá dentro, o sussurro da sua voz, a tensão que ele emanava... tudo isso fazia o estômago dela se contrair de um jeito novo.
— Meu Deus… ele me deseja — sussurrou, com os olhos fixos na tela e os pensamentos… bem longe dali.
Patrick reapareceu no escritório minutos depois, como se nada tivesse acontecido. O paletó recolocado às pressas, o cabelo ainda ligeiramente úmido nas têmporas, e a expressão... quase sóbria. Quase.
Lana não olhou diretamente para ele — não conseguia. Os olhos dela estavam fixos no computador, mas os dedos erravam o teclado, e ela teve que apagar o mesmo parágrafo três vezes.
Ele parou atrás da cadeira dela, silencioso por alguns instantes, observando a nuca delicada, o coque frouxo, e aquele vestido rosa que parecia ter sido feito sob medida. O tecido moldava cada curva com precisão matemática. Era o tipo de roupa que deveria ser ilegal naquele escritório.
— Está tudo certo com as planilhas, Lana? — perguntou, a voz mais grave do que gostaria.
Ela virou o rosto devagar. A respiração um pouco descompassada.
— Está… está sim. Só estou com um pouco de dificuldade pra formatar os gráficos. Mas nada que eu não consiga resolver.
Ele assentiu, e deu a volta para se sentar à própria mesa. A cadeira giratória pareceu mais quente que o normal. Como se ainda houvesse ali vestígios de agitação.
Tentou se concentrar, mas os olhos escapavam o tempo todo para o decote delicado, sutil, que o vestido formava no b***o dela. Era discreto. Mas, para ele, é escandaloso. Porque agora ele sabia. Ela ouvira.
Será que tinha entendido o contexto? Ou achou que ele estava m*l mesmo?
"Ela viu? Ela ouviu?"
A mente dele estava mais barulhenta que a rua em dia de jogo. E tudo girava ao redor daquele nome: Lana.
Por outro lado, Lana fingia. Fingia que não sentia os olhos dele nela. Fingia que não estava se lembrando do que tinha visto. Mas seu corpo traía o disfarce — a pele quente demais, os pelos eriçados, e o coração que parecia um tambor em ensaio geral.
"Ele disse meu nome..."
Foi então que o celular dele vibrou.
Mensagem no grupo “Irmãos e Primos”
Louis:
"E aí, CEO dos Nervos à Flor da Pele. Tá respirando ainda ou a Lana já te matou só com a saia de hoje?"
Harry:
"Aposta mantida, viu? Eu continuo dizendo: você não dura até o fim do mês. Ela vai te derrubar antes. Literalmente."
Patrick fechou os olhos, pressionando os dedos nas têmporas.
E Lana, vendo de canto de olho aquele suspiro arrastado, decidiu quebrar o silêncio:
— A dor de cabeça voltou, senhor Patrick?
Ele ergueu os olhos para ela, e tentou sorrir. Mas era um sorriso torto. Um sorriso que escondia o caos.
— Um pouco. Mas já estou acostumado com dias difíceis.
Ela arqueou levemente uma sobrancelha.
— Se o senhor quiser, posso ver um horário no neurologista.
Ele sorriu de verdade agora. Irônico.
— Se você quiser marcar também um cardiologista, talvez ajude.
Ela riu baixinho, sem saber o que responder, mas com as bochechas ainda mais coradas.
E ele pensou: Essa mulher vai me levar à falência emocional. E física também.
A tarde escorria lenta, como se o tempo fizesse questão de torturar os dois.
Patrick já havia relido o mesmo parágrafo cinco vezes. Os números na planilha flutuavam. E cada vez que Lana ajeitava o coque com os dedos, ele precisava respirar fundo pra não fazer uma besteira.
"Você é o CEO. O chefe. O profissional."
Mas aquela mulher...
Lana, por sua vez, sentia os olhos dele. Sabia que estavam sobre ela. E tentava disfarçar, mas o corpo não obedecia. O calor era demais. A memória do que presenciou — dele dizendo seu nome daquele jeito — ainda pulsava dentro dela.
Quando levantou para entregar um relatório impresso, Patrick travou.
O quadril dela balançava com um ritmo sereno, mas intenso. O vestido rosa claro desenhava cada centímetro como uma provocação divina.
Ela se aproximou com um sorriso educado, mas havia algo novo no olhar. Um brilho diferente. Como se também soubesse. Como se sentisse.
— Aqui está o relatório, senhor Patrick.
— Obrigado Lana — ele respondeu, com um leve pigarro.
E quando pegou o papel, os dedos dele roçaram de leve os dela. Rápido. Inocente. Mas a faísca foi real.
Ela se afastou discretamente. Sentou-se de volta, mordeu o lábio, cruzou as pernas. E ele… sentiu a garganta secar.
Na cabeça dele, o vestido estava no chão.
A mente viajava, indomável. Já não era mais só atração física. Era química. Desejo cru. Uma vontade absurda de sentir a pele dela. De descobrir cada suspiro. Cada reação.
O celular vibrou de novo.
Louis:
"CEO, vai querer um whisky hoje? Ou já vai chegar bêbado de Lana?"
Harry:
"Já vi esse olhar antes no espelho do meu banheiro."
Patrick bufou, jogou o celular na gaveta e fechou os olhos por dois segundos.
— Lana — ele chamou, quase rouco.
Ela virou-se imediatamente.
— Sim, senhor?
— Você pode ir encerrando hoje. Já são quase seis. E eu… eu preciso… de um pouco de ar.
— Claro, senhor Patrick.
Ela se levantou com elegância. Pegou sua bolsa, ajeitou o vestido discretamente. E antes de sair, lançou um último olhar por cima do ombro.
— Até amanhã, doutor Patrick.
Ele não respondeu de imediato. Apenas a observou sair. O som do salto ecoando outra vez, marcando o fim de mais um dia de tortura deliciosa.
Quando a porta se fechou, ele soltou o ar preso nos pulmões.
— Isso tá indo longe demais…
Mas não era um lamento.
Era uma constatação. Um aviso para si mesmo de que não conseguiria resistir por muito tempo.