›◞ CINCO

2008 Words
Nojento. Era tudo o que se passava na cabeça de Taehyung enquanto observava a bolsinha largada sobre o colchão de sua cama, bem a sua frente. Sentado, ainda enxugando os fios acinzentados, e úmidos por conta do recente banho, com o auxílio da toalha branca e fofa que mantinha ao redor do pescoço, acabava enfim por suspirar, pelo que parecia ser a quarta vez desde que sairia do banheiro. O cheiro adocicado que estava impregnado nela, parecia estar tão entranhado na sua pele quanto no objeto agora vazio, o fazendo se sentir febril e meio entorpecido. E era isso que era nojento. Não o aroma em si, por sinal bem viciante, mas sim como seu corpo reagia a ele; as reações que o levaram a precisar de um banho gelado diga-se de passagem. Ele próprio era. Já fazia pouco mais de uma semana que não via o ômega atrevido de forma alguma. A princípio Taehyung tinha certeza de que ele apareceria no dia seguinte, pronto para comprar briga, ou no outro, ou no que veio após esse. E quando isso não aconteceu, o de cabelos coloridos se perguntou se enfim todas as suas preces haviam sido atendidas. Mas como que quebrando todas as suas expectativas, Jeongguk de alguma forma havia se metido ali. Na sua casa, seu santuário, em forma de um aroma pecaminoso que mesmo agora um tanto mais fraco, ainda parecia tomar conta de tudo, inclusive do próprio Taehyung, invadindo seus pensamentos com aquela cena de um quase beijo e outras imagens nada castas por sinal. Logo o Kim, que tanto fazia questão de sempre deixar claro que repudiava alfas que agiam como animais e usavam a desculpa do instinto, estava justamente fazendo aquilo, cedendo a um lado mais primitivo seu. Talvez o Jeon tivesse razão, talvez no fim Taehyung fosse da mesma laia que todos os alfas os quais criticava, já que nem conseguia aquietar seu p*u. Alfas que nem o homem que havia engravidado sua mãe. Ou talvez estivesse enlouquecendo, lembrando 24h de um garoto que sequer deveria estar recordando da sua existência. Talvez ambas as alternativas. E aquilo o tirava do sério e o frustrava de uma maneira fora do comum. O Kim acabou soltando um baixo grunhido, jogando de vez o corpo contra o colchão macio, olhando o teto por um momento enquanto refletia sobre o que estava fazendo com a sua vida e quando foi que oarecia ter perdido o controle das coisas daquela forma, e só de fato despertou quando ouviu a campainha tocar. O cenho automaticamente se franzindo, afinal não esperava ninguém, logo estaria se colocando de pé, estendendo a toalha no encosto da cadeira frente a sua escrivaninha. — Hoseok talvez? – indagou em voz alta, consigo mesmo, um tanto aéreo, dando um pulinho quando a campainha tocou mais algumas vezes. — Já estou indo! A voz naturalmente grave soou pelo interior do apartamento pequeno e não demorou muito até que tivesse atravessado a sala e estivesse destrancando a porta, agora mantendo um certo palpite de quem poderia ser, só pelo modo impaciente com que tocou a campainha repetidas vezes. Tanto que nem se incomodou de vestir uma camisa, já que no momento usava apenas uma calça folgada de moletom vermelha. E suas suspeitas foram então confirmadas assim que abriu a porta e deu de cara com o garoto baixinho de fios chamativamente azuis. — Nossa... Sempre atende suas visitas assim, é? – fora a primeira coisa que o azulado dissera, enquanto observava o Kim, arqueando uma sobrancelha. Ainda assim, mesmo que seu tom fosse provocativo, a sua expressão continuava impassível como de costume, o que fez Taehyung olhar a si mesmo por um momento, antes de revirar os olhos. — Engraçadinho. – negou, ficando quieto por um momento em seguida, antes de dar espaço a ele para que ele pudesse entrar. — O que está fazendo aqui? O olha vagueou a procura do relógio de parede que havia no cômodo que compunha sala e cozinha, sendo divididos apenas por uma pequena ilha. — Não fala assim, parece até que nem está feliz em me ver. – o Min fez uma careta, negando, antes de enfim entrar na residência alheia quando tinha a chance, sem fazer muita cerimônia. — Não seja tão dramático, Yoongi. – soltou, em meio a um resmungo baixo, vendo o mais baixo dar de ombros e retirar os sapatos, os deixando num cantinho, antes que continuasse a circular livremente pelo local pequeno. — Vim me certificar de que está vivo, já que decidiu que não iria mais atender ligações. E trouxe o jantar, vejam só. – disse simplesmente, mostrando a sacola que trouxera, antes de a deixar sobre o balcão que divida os dois cômodos, se apoiando no mesmo, enquanto olhava o mais novo, semicerrando os olhos. — E pra você é hyung. A fala final um tanto contrariada do Min arrancou um riso fácil do alfa, quase que automático, que assim que fechou a porta devidamente, seguiu até onde ele estava. — Por que eu sinto que não é o único motivo pra você ter vindo aqui, ein? — Porque você é muito desconfiado. – retrucou, negando, antes de focar no que havia trago, retirando calmamente da sacola. — A gente é família, Taehyung. E família se cuida. Agora vem, me ajuda aqui, eu estou com fome. O Kim ficou quieto por um momento diante da fala alheia, observando o primo, antes de por fim afirmar, indo ajudá-lo, naquela paciência. Talvez nunca fosse acostumar com o modo como o baixinho o tratava. Era fato, tinham o mesmo sangue, cresceram juntos praticamente, nos corredores do casarão da família Min. Mas diferente do mais velho, o Kim não passava de um bastardo, e aquilo sempre lhe fora deixado bem claro. Nada muito fora daquele clichê onde o homem influente trai a esposa com a empregada e o resto da história é bastante intuitivo. Talvez a única pessoa daquela família que nunca o tratou m*l, ou desprezou-o, fora o próprio Yoongi, que sempre fazia questão de lembra-lo que eram sangue um do outro. Mas não como se Taehyung sentisse que precisava do que aquilo, pelo contrário. De fato a única pessoa qhe considerava de verdade, dentro daquele ninho de cobras, era o baixinho. Ainda assim, não era exatamente o mais agradável dos assuntos, e cortando então a linha de pensamentos com um suspiro audível que chamou a atenção do azulado prontamente, logo o de cabelos cinzentos estaria puxando uma dos bancos vermelhos que havia a frente do balcão, enfim sentando. — Então... – o Min começou após algum tempo naquele silêncio estranhamente confortável e ao que de certa forma já estavam acostumados, enquanto se acomodava na banco próximo ao lado do primo, recebendo apenas um "hm" em resposta, que o incentivou a continuar. — Eu estive pensando. Você e o Jeongguk... E o Kim, que até então comia despreocupado, só precisou da menção ao nome alheio para que quase sufocasse com o pedaço do frango frito, que desceu de forma lenta e apertada pela garganta, quase que inteiro, o fazendo tossir um pouco por consequência, apoiando uma mão a frente da boca, sentindo os olhos marejarem. — Wow, calma lá. Eu nem perguntei nada ainda. – o Min franziu o cenho, oferecendo a latinha de refrigerante que há pouco havia aberto, o vendo aceitar e não tardar a beber alguns goles apressados, sob o olhar atento do mais baixo, que acabava por suspirar. — Eu sabia... que iria falar dele. – disse entre pausas, conforme se recuperava e afastava o objeto metálico da boca, a voz ainda afetada. Limpava a garganta, negando. — Eu não precisaria perguntar se você simplesmente falasse. Na verdade, os dois. – Yoongi resmungou, recebendo um olhar ligeiramente surpreso do primo embora este tivesse tentado disfarçar. O de fios azuis supirou. — Olha, eu não tenho ideia do que exatamente roulou ou rola entre vocês, mas desde o dia em que me mandou mensagem perguntando seu eu conhecia o Jeongguk, que as coisas começaram a ficar estranhas. O Goo tá lá, todo aéreo e quieto há dias, e eu o conheço há tempo o bastante pra saber que esse não é normal dele, e você... Você tem me evitado descaradamente. E eu também te conheço há tempo o suficiente pra saber que é porque sabe que se eu pressionar você vai abrir o jogo. Taehyung ficou quieto por um momento, como que engolindo cada palavra, soltando lentamente o ar em seguida, virando o rosto e olhando para um ponto fixo no balcão. Talvez a informação de que o moreno também estava afetado de alguma forma, o tivesse pego de surpresa. — Olha, não... Aconteceu nada demais, nada que eu não tenha te contado quando me ligou de madrugada e veio me interrogar todo sugestivo. – teria ponderado, antes de começar, ouvindo o o mais velho suspirar. — Bom... Talvez um beijo. Deixou a frase no ar, após um momento quieto e meio aéreo, e então o silêncio se fez presente, enquanto a figura de um Yoongi muito surpreso o observava. O mais alto quase conseguia ouvir o som da mente dele trabalhando — O... O quê? — Indireto. – pontuou, deixando claro. — Por cima da máscara dele. Nem sei se pode ser considerado um beijo, só... Foi um acidente. Ele veio pra cima de mim e... Ah, quer saber, isso nem é importante. – se interrompeu ao notar para onde sua linha de raciocínio o estava levando, antes de então suspirar pesado, bufando e bagunçando os próprios fios. — Seu amigo é complicado, e maluco. E acho que talvez eu esteja enlouquecendo também. A confissão veio facilmente, enquanto o alfa ainda olhava o balcão, no qual estaria apoiando o peso do corpo logo em seguida. E Yoongi, que estava tentando lidar com as informações que lhe foram ditas, acabou por soltar o ar lentamemente, meio incerto. — O Jeongguk é... Difícil. E tem os motivos dele pra ser como é. Mas você também não é fácil e nem tão diferente, Tae, então sem julgamentos apressados. – diria, conforme apoiava uma mão na nuca, pensativo sobre aquilo. — Eu nem sei o que fazer com essas informações que me deu. — Relaxa. Eu acho que não 'to falando coisa com coisa também. – suspirou, um pouco frustrado ao olhar o mais velho, que somente balançou a cabeça em negativa. — Se está confuso sobre ele, especialmente, sugiro que tente conhecê-lo e entendê-lo... Não vai ser simples ou fácil, mas vale a pena. – garantiu, escolhendo bem cada palavra. — Só... Toma cuidado se decidir fazer isso. Ele é sensível, por mais que não pareça. E eu não quero nenhum dos dois machucado. Taehyung acabou afirmado, por mais que ainda refletisse sobre aquelas palavras. — Tudo bem, hyung. Fica tranquilo, ok? – disse por fim, encolhendo os ombros, logo focando em sua bebida mais uma vez, da qual tomava um gole. — Vocês... São bem próximos, né? Tipo...? — Hm? Oh... Não. Somos apenas amigos. – negou, balançando a cabeça de um lado a outro, embora ainda observasso de cabelos acinzentados. Arqueou uma sobrancelha. — Por quê? Ciúmes? A pergunta pegou Taehyung de surpresa, mais ums vez naquele início de noite, observando primo um tabto abismado com a insinuação. — O quê? N-não, claro que não! – a resposta veio rápida, com leve tom de incerteza e acompanhada de um riso nervoso. — Até parece que eu sinto ciúmes de você, Yoongi. Foi só curiosidade. — Vou tentar não me sentir ofendido. - o rosto do mais baixo retorceu numa careta. Mas logo ele suspiro e deu de ombros. — De toda forma, não era de mim que eu estava falando. Após a resposta curta, o Min tornou a comer assim como o Kim, e o silêncio tornou a reinar no local. Mas o interior de Taehyung nunca esteve tão barulhento como após aquela suposição absurda - ao seu ver. Afinal, não havia o menor sentido nele sentir ciúmes do moreno, não é?
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