Dois Dias Depois
POV Olivia
— Sei que você não quer vê-los, Oli, mas todos precisamos sentar e conversar. O divórcio vai acontecer, e eu não quero que você tome uma decisão só para poupar meus sentimentos. Ela é sua mãe — ele disse.
— Não, ela deixou de ser minha mãe dois dias atrás.
Pude ver que ele queria falar mais, mas uma batida na porta o fez ir atendê-la.
— Olá, Charles, obrigada por aceitar sentar e conversar.
— Só concordei por causa da Oli, Evelyn.
Não sei o que esperava, mas certamente não que Xavier entrasse na sala logo atrás da minha mãe.
— Que diabos ele está fazendo aqui? Ele não faz parte desta família. Vou embora se ele ficar — eu disse.
— Oli — minha mãe começou a falar.
— Olivia. Você não pode mais me chamar de Oli — respondi.
Dor e tristeza brilharam nos olhos dela, mas não consegui me importar.
— Olivia, sei que está chateada, mas não vai desrespeitar sua mãe — Xavier falou.
— Ela não é minha mãe. Só aceitei falar com ela porque meu pai me pediu. Sinceramente, não tenho nada a dizer a vocês. Vou ficar com meu pai até me formar e depois vou para a faculdade, como planejei. Não vou abandoná-lo como Evelyn e Connor fizeram.
— Olivia, por favor. Eu te amo — disse minha mãe.
— Você devia ter pensado nisso antes de trair o papai.
Virei para meu pai.
— Já falei tudo que tinha para dizer. Posso ir para o meu quarto?
— Olivia, por favor, vem sentar e conversar com a gente — disse Connor.
— Não, você está no mesmo barco que ela. Você escolheu uma traidora em vez do nosso pai. Não é mais meu irmão.
— Chega, você não é mais criança, Olivia. As coisas nem sempre saem como planejamos e precisamos aprender a nos adaptar. Agora desce aqui e se comporte como adulta — disse Xavier.
Olhei para ele com a raiva crescendo dentro de mim.
— Vai se f***r. Você não é nada para mim. Não manda em mim nem em como devo agir.
Me virei e um rosnado baixo me fez olhar a tempo de ver minha mãe abraçando aquele i****a.
— Muito bonito, Evelyn. Por que você não deixa ele te f*der na frente do papai? Eu nunca soube que você era um monstro assim. Ainda bem que percebi agora. Vocês podem ir embora porque eu terminei de falar com todos vocês.
— Olivia, se você não vier conversar, não teremos outra opção a não ser levar seu pai ao tribunal pela custódia — disse Xavier.
— Xavier, por favor — implorou minha mãe.
— Não, Evelyn. Isso não está em discussão. Ela está agindo como uma criança mimada. Nem está dando chance para você explicar o que está acontecendo — falou Xavier.
— Isso está acontecendo porque minha mãe é uma p*** que traiu meu pai.
— Oli, chega. Vai para o seu quarto que eu já subo — disse meu pai.
Subi as escadas batendo os pés, mas não fui para meu quarto. Sentei no patamar e ouvi o resto da conversa.
— Você não vai entrar na minha casa e ameaçar minha filha de novo, Xavier. Não importa quem você é ou de onde veio, esta é minha casa e essa menina é minha filha, por mais que você queira que ela seja sua — disse meu pai.
Bati o punho no ar, orgulhosa dele por ter colocado aquele homem no lugar.
— Charles, por favor, não piore as coisas — falou minha mãe.
— Piorar o quê, Evelyn? Você destruiu nossas vidas, levou o Connor de mim e agora quer levar a Oli. Qualquer que seja o motivo, você está nos machucando, a mim e à Oli. Foi você quem quebrou os votos sabendo que isso podia acontecer. Não vou forçar a Oli a ir com você — ele respondeu.
— Pai, ninguém vai me tirar de você. Eu te amo, mas a matilha é meu lugar. Sempre serei seu filho — disse Connor.
Que diabos ele está falando, matilha? Será que Xavier é de algum tipo de culto?
— Charles, Evelyn nunca quis te magoar. Sei que você não entende o vínculo que temos, mas ele não pode ser controlado — disse Xavier.
Que diabos ele está falando?
— Sinceramente, Xavier, eu não ligo. Ela fez a escolha dela, mas não vou forçar a Oli a deixar a única casa que ela conhece — falou meu pai.
— Então não nos deixa escolha. Olivia precisa estar na matilha quando fizer dezoito anos, ou estará colocando ela e nossa espécie em perigo. Ele não vai ouvir, Evelyn. Devemos ir embora — disse Xavier.
— Charles, eu não quis te magoar. Eu amava nossa vida juntos. Nunca esperava encontrar o Xavier — disse ela, a voz falhando em cada palavra.
— Não é suficiente, Evelyn. Você me destruiu e eu não tenho escolha a não ser me manter firme por causa da Oli — disse meu pai.
O som da porta se fechando ecoou no silêncio. Espiei escada abaixo e vi meu pai encostar a cabeça na parede. O jeito como os ombros dele se mexiam me disse que ele estava chorando. Meu peito apertou ao ver aquilo. Acho que nunca tinha visto meu pai chorar assim.
Desci as escadas e envolvi os braços na cintura dele. Ele ficou tenso no começo, mas se virou e me abraçou.
— Vamos ficar bem, Oli — ele disse.
Não sei se ele tentava me convencer ou a si mesmo.
***
Duas semanas depois
— Oli, anda logo, ou vamos nos atrasar. Isso não vai parecer bom para o juiz — meu pai gritou lá de baixo.
Fiel à palavra dele, Xavier fez minha mãe pedir à justiça a guarda total. Não tenho dúvida de que, com dezessete anos, o juiz vai me perguntar onde eu quero morar. Poxa, em seis meses vou fazer dezoito e só eu vou ter voz nessa decisão. Só espero que, depois de hoje, minha mãe nos deixe em paz.
A viagem até o tribunal foi em um silêncio confortável. Cada um perdido em seus próprios pensamentos. Meu pai desligar a caminhonete me fez estender a mão para abrir a porta, mas a mão dele no meu antebraço me parou.
— Não importa o que aconteça hoje, Oli, quero que você lembre que eu te amo. Você sempre vai ser minha Garota Oli.
— Pai, fica tranquilo. Nenhum juiz vai me obrigar a morar com a mamãe. Eu não sou criança que não sabe pensar por si mesma.
— Eu sei, mas só quero que você guarde o que eu disse — ele falou. Eu odiava a tristeza que via nos olhos dele.
Estendi os braços e o abracei.
— Eu te amo, pai. Não importa o que aconteça.
Ele beijou minha testa e nós dois saímos da caminhonete bem na hora em que minha antiga família e Xavier desciam a calçada.
— Oli — chamou Connor, mas não o reconheci.
Entramos no tribunal e nos sentamos atrás de uma longa mesa. Alguns minutos depois, a juíza se acomodou no banco.
— Estamos aqui para decidir a guarda de Olivia Crocker. Ambos os lados apresentarão os motivos para pedir a guarda total, e eu decidirei o que for melhor para a criança — disse a juíza.
Não demorou para os dois lados exporem seus argumentos e, honestamente, os da minha mãe não convenceram nada.
— Ela é minha única filha e uma jovem deve estar com a mãe. Charles é um bom pai, mas ele não entende o que uma garota enfrenta nessa fase da vida — ela disse.
Que porcaria.
A juíza pediu minha opinião, e o advogado do meu pai falou em nome dele.
— Bem, essa decisão nunca é fácil. Muitos fatores influenciam a decisão da guarda de um menor. Eu revisei as duas petições e levei em conta tudo que foi apresentado aqui hoje. No caso da guarda de Olivia Crocker, a guarda total fica com Evelyn Crocker — declarou a juíza.
Levantei-me imediatamente.
— Não, eu não vou com ela.
Ela bateu o martelo e meu pai me puxou.
— Sei que está chateada, senhorita Crocker, mas minha decisão é final — disse a juíza.
Meu pai me abraçou e lágrimas escorreram pelo meu rosto.
— Vai ficar tudo bem, Oli. Eu sei que está chateada, mas é só por seis meses. Depois ninguém mais decide onde você vai morar — disse ele.
— Não, pai, por favor, não me faça ir com eles.
— Ah, querida, eu queria poder impedir isso, mas você ouviu a juíza. Só lembra que são só seis meses — repetiu.
— Oli — disse Connor.
Virei e vi um brilho de compaixão nos olhos dele.
— Oli, está na hora de ir — falou Connor.
— Não vou agora. Tenho que pegar minhas coisas e ver se o pai está bem. Eu sei que você não liga pra ele, mas eu ligo.
— Oli, eu ligo — começou a dizer.
— Besteira. Você tem um pai novo agora. Me deixa em paz. Já disse que não sou mais sua irmã.
— Olivia, chega. Você vai com a gente agora. Vou mandar alguém pegar suas coisas — disse Xavier.
— Seis meses, Oli, e vamos falar todos os dias — meu pai disse.
Beijei sua bochecha e me virei.
— Tá bom, eu vou, mas vou fazer vocês todos se arrependerem de terem me deixado e meu pai em paz.
Empurrei Connor e Xavier para o lado. Minha mãe tentou me segurar, mas eu desviei rápido.
Quando cheguei na calçada, esperei eles alcançarem.
— Esse é o carro, Oli — disse Connor.
— Não sei quantas vezes vou repetir, mas não me chame de Oli. Aliás, não fala comigo.
Entrei no banco de trás e coloquei o cinto.
Foquei na janela enquanto as outras portas se fechavam ao meu redor.
— Olivia, eu sei que você está com raiva.
Olhei para ela com desprezo antes de voltar a olhar pela janela.
Eu falei sério. Eles vão desejar nunca terem me pedido para morar com eles.