Lidando Com Incerteza

1022 Words
**Dante** Aquele era o terceiro dia de Luna e a sua amiga na nossa alcateia. Eu me pegava olhando para Diana a cada pequeno segundo que conseguia. O cheiro dela havia mudado para mim, tornando-se mais forte, e aquilo apenas reforçava a minha convicção de que ela era minha companheira. Já havia questionado o meu lobo sobre isso, e ele estava cem por cento certo de que Diana era nossa. Sempre fui mais reservado, então apenas a observava à distância, sem a importunar, mas algo me dizia que os meus olhares não tinham passado despercebidos pela pequena morena de olhos castanhos. Diana fugia de mim como o d***o foge da cruz, como se eu pudesse fazer algo terrível com ela a qualquer momento. Eu via como ela se assustava sempre que havia alguém por perto ou quando as pessoas se dirigiam a ela; Diana fugia na primeira oportunidade. Eu entendia aquilo, depois do que havia visto na alcateia de Alfa James, sempre teria um enorme respeito tanto pela minha Luna quanto por Diana. Chego em casa e entro com um pesado suspiro. Posso ouvir de longe os passos da minha avó se aproximando. Era sempre assim: ela sempre tinha uma xícara de chocolate quente para mim quando eu chegava do trabalho, não importava a hora, e não adiantava eu ou o meu avô dizer para ela não fazer aquilo, dona Lídia não nos ouvia. — Chegou cedo hoje, querido — diz ela, dando-me um beijo na bochecha. — Venha, o seu avô está na varanda nos esperando. Não digo nada, apenas a sigo em silêncio. Os fundos da minha casa têm um amplo quintal e, àquela hora, a vista do pôr do sol era incrível. Aquilo sempre me trazia paz; estar ali com a minha família era a melhor terapia que eu poderia querer. Sento-me e pego a xícara que a minha avó me oferecia. — Que cara é essa, garoto? — pergunta o meu avô ao ver o meu olhar distante. Viro-me e encaro os seus olhos perspicazes. Eu ainda não sabia como tinha escondido as minhas desconfianças dele por tanto tempo. — Nada passa por você, vovô — digo enquanto tomo um gole do meu chocolate. — Tenho anos de experiência, e te criei. Seria difícil me enganar — diz ele com um sorriso de canto. — Está assim desde que voltou da alcateia de Alfa James. Aconteceu algo com a Luna? — pergunta a minha avó, com olhos preocupados. — Não, avó, a Luna está se recuperando bem. Vai levar um tempo até ela se recuperar totalmente, mas sabemos que o Alfa vai cuidar disso. — Verdade — diz ela com um sorriso. — Fenrir esperou muitos anos por sua companheira, jamais a deixaria. Os meus avós tinham sido bons amigos do nosso Alfa. Eles o viram crescer e assumir a alcateia, e tinham grande carinho e respeito por ele. — Mas não é isso que está te incomodando — continua o meu avô de forma tranquila. Às vezes, eu invejava aquela tranquilidade dele; parecia que nada jamais o abalava. — Não, trouxemos outra pessoa junto com a Luna — digo, e vejo os olhos da minha avó brilharem. Eu já sabia o que se passava pela cabeça dela. — Quem é ela, querido? — pergunta ela, visivelmente animada. — Ao que parece, era a única amiga que a Luna tinha naquela alcateia — digo com desgosto. Jamais veria aquele lugar com bons olhos depois de tudo o que vimos lá. Ainda me lembro de uma das serviçais contando que tanto a Luna quanto Diana reviravam o lixo para comer. — Acalme-se, Dante — pede o meu avô, segurando o meu braço. Eu podia sentir a autoridade emanar dele enquanto falava comigo. — O que te deixou assim, querido? — pergunta a minha avó, com olhos preocupados. — Algo que um m****o da alcateia de Alfa James me disse — digo, mas ainda sentia a frustração e a raiva revirando no meu peito. — O que foi, filho? — pede o meu avô, e eu sabia, pela forma como ele me olhava, que não aceitaria uma recusa da minha parte. — Disseram-me que tanto a Luna quanto a sua amiga reviravam o lixo para comer — digo, e vejo os seus olhos mudarem de cor, um sinal claro de que o seu lobo não havia gostado daquela conversa. Os lobos eram muito fiéis aos seus líderes, e saber que a futura Luna era maltratada os fazia querer justiça por ela. — Como ousaram fazer isso com a nossa Luna! — diz ele, visivelmente zangado. — Acalme-se, ela está segura agora, aqui conosco — diz a minha avó, tentando acalmá-lo. — Me explique isso direito, Dante. Sei que não nos contou tudo, e respeito a sua lealdade, mas ao menos esclareça isso para nós. — A Luna era agredida na sua antiga matilha, pai. O Alfa a espancava e não lhe dava comida. Até onde sei, ela e a sua amiga roubavam comida ou reviravam o lixo quando estavam com fome — podia sentir a aura do meu avô se expandindo com as minhas palavras, e partilhava da mesma revolta que ele sentia. — Meu Deus! Que horror — diz a minha avó, chocada com tudo aquilo. — Aquele canalha! Se não estivesse morto, eu mesmo o mataria por tamanho desrespeito com a nossa Luna — diz o meu avô. — Também não sei o que ele tinha na cabeça para fazer isso com as duas. Se vissem as marcas que ela tinha quando a encontramos, ficariam horrorizados — digo, sacudindo a cabeça, tentando apagar a imagem da minha mente. — O importante é que vocês a encontraram, e sei que agora Fenrir cuidará muito bem dela, querido — diz a minha avó, tentando amenizar os ânimos. — Sim, ela está segura agora com ele. — Mas o que te deixou chateado? Sei que isso é algo terrível, mas conheço-o o suficiente para saber que há algo mais te incomodando. — Acho que encontrei a minha companheira — digo com um suspiro. — O QUÊ?! — perguntam os dois, chocados.
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