**Diana**
Estava sentada à mesa de jantar em silêncio; ao meu lado estava Dante, e à minha frente, como sempre, o Beta Ethan. Pelo que parecia, o Alfa Fenrir e Zara não viriam jantar connosco, permanecendo no quarto. Eu podia entender aquilo, mas agora não tinha como fugir da presença marcante de Dante e daquele cheiro agradável que vinha dele, ficando cada vez mais forte. Eu me segurava no meu lugar para não me inclinar e inalar mais do seu aroma.
— Está gostando daqui, Diana? — pergunta o Beta Ethan depois de um longo silêncio.
— Vocês têm sido bons comigo, Beta Ethan — digo, com a cabeça baixa.
— Não foi o que perguntei, Diana. Pode sempre dizer o que pensa para nós, e não precisa baixar a cabeça sempre que se dirige a mim ou a qualquer outro; estamos em família aqui — diz ele com um sorriso.
Eu ainda não via aquelas pessoas como a minha família, mas, de certa forma, o Beta Ethan tinha razão: eles tratavam-me com dignidade e sempre cuidavam de mim, independentemente de quem eu era.
— Eu gosto daqui, é diferente da minha antiga alcateia. Dante disse-me que posso estudar — digo, sem conseguir esconder a empolgação na minha voz.
Vejo Ethan olhar para Dante, que dá de ombros. Não entendi, mas não devia meter-me nos assuntos deles.
— Sim, temos uma escola aqui na alcateia, e pode estudar lá, se quiser — diz ele.
— Eu quero muito — digo-lhe.
— Então, amanhã te levarei lá para fazer a tua matrícula — diz Dante.
— Estudou até qual série, Diana? — pergunta o Beta Ethan.
— Eu nunca estudei, Beta Ethan. Não podíamos na nossa alcateia; o que eu e Zara sabemos, aprendemos olhando os livros velhos que a filha do Alfa James descartava — digo, e vejo o seu rosto fechar-se. Por instinto, encolho-me mais no meu lugar.
— Desculpe-me, é que fico bravo ao saber dessas coisas — diz o Beta Ethan, ao perceber o meu estado.
Apenas aceno para ele, sabendo que não conseguiria dizer nada. Sentia o pânico tomar conta do meu corpo. Olhava para o prato em desespero, pois não conseguiria comer nada por causa do medo. Sinto quando Dante se aproxima de mim e envolve os seus braços nos meus ombros, puxando o meu rosto para o seu peito.
Eu não sabia o que ele estava fazendo, mas quando o seu cheiro invade as minhas narinas, inalo profundamente; a minha respiração vai-se acalmando e o medo passando à medida que sinto mais do seu cheiro.
— Está melhor? — pergunta ele em voz baixa.
Quando percebo como ele me segurava, afasto-me rapidamente, mas podia ver o sorriso de canto nos seus lábios. Olho para o Beta Ethan e fico grata por ele estar concentrado na sua comida e não no que estávamos a fazer.
— Obrigada — digo a Dante.
Voltamos a comer em silêncio. A cada dia que passava, a minha reação a Dante ficava mais forte, e aquilo confundia-me terrivelmente. Precisava de achar um jeito de descobrir o que era tudo aquilo e por que não conseguia resistir a ele.
— Acho que vou indo — diz o Beta Ethan, levantando-se. — Boa noite para vocês.
— Boa noite, Beta Ethan — digo, levantando-me quando ele sai.
— Quer sobremesa? — pergunta Dante, também se levantando.
— Eu não sei — digo, não querendo dar mais trabalho a eles do que já estavam a ter.
— Pensa o seguinte: como o Ethan deixou a louça para lavarmos, podemos pegar a sobremesa como recompensa — diz ele, apontando para a mesa. Os meus olhos arregalam-se ao entender o que ele tinha dito.
— Não pensou que ele estava cansado, não é? Era apenas uma desculpa para fugir da louça — diz Dante, já recolhendo os pratos sujos.
Olho para ele e começo a rir ao pensar em como o Beta Ethan nos enganara.
— Não sabia que ele era assim — digo, enquanto retiro os copos da mesa e o acompanho até à cozinha.
— Ethan é um preguiçoso na cozinha, Diana; sempre que puder, vai tentar escapar das suas obrigações — diz Dante, abrindo a lava-louças e organizando a louça suja.
— Mas é na máquina; ele não devia fugir — digo, surpresa. Na alcateia do Alfa James, éramos obrigados a lavar a louça à mão; ele não gostava que usássemos a máquina que havia na casa da matilha.
— Mesmo assim, ele foge — responde ele, rindo.
Rapidamente organizamos tudo, limpamos a mesa e guardamos a comida que havia sobrado no frigorífico. Tinha sido divertido fazer aquilo com Dante, e pude perceber que, apesar do tamanho e do olhar assustador, ele era um homem instruído na arte de cuidar do lar. Isso fez-me pensar na senhora que nos visitara naquele dia.
— Sabe se virar muito bem — digo, quando terminamos, enquanto ele pega uma torta de morango do frigorífico.
— A minha avó cuidou disso. Ela dizia que não era por eu ser homem que iria deixar o serviço da casa apenas para ela; segundo ela, se todos sujam, todos limpam — diz ele, colocando um prato à minha frente com uma fatia de torta.
— Ela está certa; serviço de casa é cansativo, às vezes — digo, lembrando das várias vezes em que era acordada de noite porque alguém da casa da matilha queria algo. Eles nem sequer pegavam um copo de água na cozinha; tudo era feito pelos ómegas.
— E os seus pais, Diana? — pergunta ele.
— Os meus pais eram ómegas na alcateia do Alfa James, e, num dos ataques que sofremos, eles foram mortos. Assim que atingi uma certa idade, comecei a trabalhar na casa da alcateia. Alfa James dizia que eu tinha de pagar pelo prejuízo que causava a ele — digo, lembrando-me das várias noites em que dormia sem comer ou trabalhava para não ser castigada no dia seguinte, algo que logo descobri não adiantar, pois ele sempre arranjava uma desculpa para me castigar.
Saio dos meus pensamentos com o som de um rosnado ameaçador; quando olho para Dante, encontro os seus olhos negros a me fitar de forma ameaçadora. Assustada, deixo o prato com a torta cair e afasto-me, caindo no chão.