SARA Os últimos dois anos passaram como um borrão. É como se eu tivesse pisado num trem desgovernado, sem saber onde tava indo, sem conseguir parar. O Rio me engoliu, me mastigou, me cuspiu, e eu me deixei levar. Drogas, roubos, coisas que eu nunca imaginei fazer... tudo virou rotina. Eu não sou mais a Sara que fugiu de casa, com o caderno na mão e a foto da mãe no bolso. Aquela guria morreu em algum momento, entre uma noite fria no asfalto e uma manhã de ressaca. A única coisa que me segurou, que me fez sentir que ainda tinha um pedaço de mim viva, foi a Biruta. E agora ela se foi. Perdi ela, a única pessoa que me restava, e o vazio tá me engolindo. Mas, no meio dessa dor, apareceu a Dona Cássia. E, pela primeira vez em muito tempo, eu tô pensando em confiar. --- Esses dois anos na

