SARA Eu tô no Rio há dois dias, e parece que faz uma vida. Depois de dormir na porta daquela loja de bijuterias, com o asfalto duro como cama e o vento cortando o moletom, eu achei que não podia ficar pior. Mas o Rio não facilita. É uma cidade que te engole, te mastiga e cospe, e tu fica ali, tentando não desaparecer. Eu tava exausta, com a barriga roncando e o coração pesado, carregando o peso do Fábio, da Pri, do meu pai, de tudo que me fez fugir. Mas, mesmo no meio desse inferno, algo aconteceu. Um gesto pequeno, simples, que mudou tudo. Não resolveu minha vida, mas aqueceu algo dentro de mim que eu achava que tava morto. Depois daquela primeira noite na rua, eu passei o dia andando, tentando achar um jeito de sobreviver. O dinheiro que sobrou da Clara, tava guardado na meia, dent

