SARA O ônibus sacolejava na estrada, e eu tava ali, encolhida na poltrona da janela, com a mochila apertada contra o peito como se fosse um escudo. O vidro tava frio na minha testa, e o mundo lá fora passava embaçado, uma mistura de postes, árvores e luzes que eu m*l enxergava. Eu tava livre, mas não me sentia assim. Era como se o peso da casa, do Fábio, da Pri, do pai, ainda estivesse grudado em mim, como uma sombra que não larga. Durante a viagem pra Porto Alegre, as memórias da minha mãe vieram como uma enxurrada, e eu chorei em silêncio, com as lágrimas escorrendo quentes pelo rosto, pingando no moletom. Ninguém no ônibus notou. Ou, se notou, não ligou. Melhor assim. Eu pensava nela, na minha mãe. No jeito que ela ria, com aquele som que parecia música, e no cheiro de lavanda qu

