Thor Narrando
A noite tava pegando fogo, céu limpo, som estralando no talo e o morro pulsando igual coração de cria na linha de frente. A Patrícia veio com aquela cara de safadä e atitude de mulher feita, depois daquela mamada sinistra que me deixou zonzão. A mina sabia o que fazia, não era só charme, era entrega. E como era a primeira vez dela, eu ia fazer valer cada segundo.
Meu paü tava estalando, latejando grosso, pronto pra invadir território. Ela veio por cima, sentando no meu colo com desejo e toda safadä, segurando o meu paü com a mão firme, tipo dizendo “hoje tu é meu”.
— Tu tem certeza que vai sentar mesmo? — mandei na maldade, segurando firme na cintura dela, olho no olho, sentindo o clima.
— Tenho, Thor... Se é pra entrar, então abre esse caminho. E abre direito, sem dó — ela devolveu com aquele olhar que desmonta qualquer bandidø, quente, molhada, decidida.
Ela começou a roçar, devagar, encaixando a cabeça do meu p*u bem na entrada da xotinha apertada, molhada, quente pra caralhø. O bagulho ficou sério. Meu coração deu aquela disparada, como se tivesse na contenção com os cria do lado. Puxei a capa no reflexo, mas...
— INVASÃO, PØRRA!!! — gritei no instinto, voz rasgada de cria, o som dos fogos rasgando o céu igual tiro de fuzil em madrugada nervosa.
Arranquei ela do meu colo no impulso, joguei no sofá com cuidado, mas rápido, adrenalina no talo. Ela caiu de quatro, rindo, segurando o vestido e a cara de quem tava bolada e excitada ao mesmo tempo.
— Não creio, mané... Na minha vez, invasão? — falou debochada, ajeitando o cabelo e puxando o ar, ainda tremendo.
— Veste essa pørra aí, Patrícia! E entra! — falei já sacando o rádio, o coração ainda no peito martelando.
Rádio on
— THOR, PØRRA! CADÊ TU, CARALHØ?! — a voz do Pinscher pipocou no chiado.
— Tô indo, já tô na pista! — respondi na bota, arrumando o cinto.
— Thor, tô na laje do lado de casa! — Pinscher falou.
— Thor! Pinscher! Cadê vocês, desgraça?! — o coroa do Pinscher berrou do outro lado.
Patrícia se vestiu rápido, ajeitando o vestido no corpo e me olhando com aquele olhar cheios de tesãø.
— Calma, gostoso... isso aqui não vai terminar assim não. Ainda quero o meu presente — falou no sussurro, antes da primeira rajada cantar dentro do morro.
Meu sangue gelou. Eu jurando que ia descarregar um pente, mas na real eu vou mesmo e eu um pente de bala e não de leite, caralhø.
Sai com a arma em punho, dedo no gatilho, a mente funcionando a mil por hora. Cruzei pela parte de trás da casa, saindo pela varanda lateral que dava acesso à casa da Dannyele. O som dos fogos já tinha dado lugar às rajadas secas dos primeiros tiros. Os cria já tavam trocando.
Entrei na casa da família sem bater, sem pedir, sem pensar. A pørra do corredor tá escuro, mas eu conhecia cada canto desse barraco. Quando virei na direção da sala, dei de cara com a Dannyele — só de camisola, cabelo bagunçado, cara de quem tinha acabado de acordar ou de quem tava fazendo outra coisa.
Parei no impulso, encarando ela. Com a pørra do coração batendo na nuca.
— Que pørra é essa, Thor?! — ela franziu a testa, vindo na minha direção.
— VOCÊ E A PATRÍCIA SOBEM! AGORA! — gritei, a voz rasgada no meio do caos.
Ela travou por um segundo, mas entendeu o recado. Patrícia apareceu pela porta correndo, os olhos arregalados. Quando viu a mãe, correu direto pra ela.
— MÃE!
— Sobe! — Dannyele puxou a filha pelo braço, e as duas sumiram escada acima.
Eu já tava virando pra sair quando a Dannyele surgiu de novo na escada, segurando um colete.
— THOR! — ela lançou o colete pra mim.
Segurei no ar, arranquei a blusa mesmo, no meio da sala, o suor descendo pelas costas. Enfiei o colete com pressa, puxei a camisa de novo por cima e corri pra fora com o rádio chiando.
Rádio on
— PINSCHER! — berrei no rádio.
— Tão subindo, grandão! — a voz dele veio urgente. — Tão subindo na pista principal, eu vou pela laje! Preciso de reforço, Thor! Tão vindo com ódio!
— Tô na contenção. Vamo virar essa pørra. — Gritei e saí correndo com o dedo firme no gatilho.
O morro é deles. Mas a família é minha. E ninguém ia tomar.
O rádio seguia chiando no meu ouvido, e eu descendo igual um raio no beco da laje. Cada passada minha era tiro comendo solto no ar, os pipoco rasgando o céu da madrugada. Coração no pescoço, alma blindada no peitø, eu tô igual a fúria que a favela pariu.
Dobrei a esquina da oficina e trombei com o Rocha — o velho Rocha, coroa do Pinscher — com a metralhadora pendurada no ombro, colete por cima da camisa do Flamengo. Sangue nos olhos. A tropa já tava formada, os cria no posicionamento.
— NINGUÉM SOBE O MORRO DO AMOR! — ele gritou, voz de trovão, apontando com o dedo grosso pras vielas.
— Bora, pørra! — eu gritei junto, batendo palma, chamando a responsa. — A contenção é aqui, família! Aqui é comando, caralhø!
Começou a rajada. A pørra da bala zunia de um lado pro outro, parecendo marimbondo do inferno. Um cria caiu perto, mas já levantou, sangue na cara, ódio na mira. Eu e Pinscher corremos juntos, metendo o pé na parede, pulando quintal, desviando das granada caseira que explodia igual bomba de São João.
— ROCHA! ABAIXA, CARALHØ! — gritei, vendo ele no topo de uma laje, exposto demais.
O velho riu, sem medo nenhum, mas se jogou atrás do muro.
— Tô véio, mas ainda sei quando a bala quer meu couro! — ele respondeu.
— ENTÃO VEM COMIGO, VELHOTE! — puxei ele pela gola, rindo no meio do caos.
O céu clareava com o fogo cruzado. Cada canto do morro é guerra. Mas esse chão é nosso, pørra. Nosso suor, nosso sangue, nossa história.
E eu? Eu sou o martelo do Salgueiro, mas hoje eu tô aqui, pelo o Morro do Amor pelos amigos.
— VAMO BOTAR ELES PRA CORRER! — gritei, e a tropa respondeu com bala.
— Essa pørra deve ser os milicos. — Pinscher rosnou pulando a laje.
— Era pra ser só uma resenha de aniversário, pørra. — Gritei derrubando dois no beco a minha direita.
O morro tá tremendo, parecia que a terra ia rachar no meio. O céu já não tinha mais estrela, só labareda de tiro e fumaça subindo com o cheiro de pólvora. Eu tentava pensar, mas o barulho é ensurdecedor, e a única coisa que me guiava é o instinto e a pørra do ódio.
— VÃO PRA LATERAL, FAMÍLIA! SEGURA A ENTRADA DA FAVELA! — gritei, vendo o caveirão forçando lá embaixo, igual demônio querendo romper o portão do inferno.
Foi aí que veio a pørra de uma voz, cortando e o alto-falante, estourando a paz que já tinha virado lenda:
— ROCHA! ESSA É A ÚLTIMA GUERRA QUE TU LUTA! — A voz do outro lado do fogo.
Todo mundo travou. Até a bala pareceu pausar por um segundo. Rocha olhou pro alto, riu com aquela risada grossa de quem já mandou muita alma pro colo do capeta.
— ENTÃO VEM ME PEGAR, FILHO DA PUTÄ! — ele berrou, peito aberto, dedo no gatilho.
Só que quando ele falou isso, a guerra triplicou. Os tiro vinham de tudo que era lado, e o caveirão empurrando o portão como se fosse de papel.
— COROA, NÃO FAZ ISSO! SE ABAIXA, PÔ! — Pinscher gritou, lá de cima.
Mas o Rocha que eu conheço não é de abaixar cabeça.
— EU JÁ CORRI DE MUITA GUERRA, MAS DESSA EU VOU MORRER DE FRENTE! — Ele berrou atirando na direção do caveirão.
— VAMOS MATAR VOCÊ E TEU FILHO HOJE. A PRÓXIMA É SUA MULHER… E A TUA FILHINHA, DEPOIS DE A GENTE USAR ELA. — O desgraçado por trás alto-falante respondeu, voz fria, debochada, escorrendo veneno.
Olhei pro Pinscher com a pørra do sangue fervendo. Senti minha alma gritar. O morro inteiro também porque explodiu em tiros refletindo o ódio. E agora, não é mais só uma invasão… é uma sentença. E a gente vai rasgar ela na bala.
— Que pørra é essa? — perguntei olhando pro céu.
O barulho do helicóptero cortando o céu fez o chão tremer mais do que os tiros. As luzes do caveirão refletiam nas poças de sangue espalhadas pela pista. Rocha corria, arma na mão, peito aberto, encarando a morte de frente como sempre fez.
— Coroa... — Pinscher gritou pelo coroa.
— VEM ENTÃO, PØRRA! — ele gritou, disparando contra o céu.
O helicóptero virou, apontando o facho direto nele. Um segundo depois, o estampido seco da rajada encheu o ar.
— Não... — gritei pulando um container, sentindo as balas passar por mim.
Rocha caiu. Antes deu chegar nele.
— NÃÃÃO, MEU COROA, NÃÃÃO! — o grito do Pinscher cortou a noite, doído, desesperado, como se rasgasse a alma da favela.
Continua...