Capítulo 03 Danny

1397 Words
Dannyele Narrando Hoje é o grande dia. A minha bebê tá completando 18 anos. Patrícia vem organizando essa resenha tem pelo menos uns seis meses — desde o início, já avisando geral: não queria BO, não queria treta, queria que tudo saísse perfeito. E, até agora, tá fluindo. Pedro saiu com o pai pro corre cedo, e graças a Deus voltaram intactos, sem notícia de invasão nem estresse. Tá tudo sob controle. Patrícia combinou com as amigas dela, amigas que vem desde o ensino médio e agora estão juntas no cursinho — todas já matriculadas na mesma faculdade — todas vão colar aqui na nossa casa, pra comemorar com ela. O início da noite chegou com tudo pronto. As meninas já começaram a avisar que estavam no pé do Morro. Bruno mandou o Chama e o Marreta buscar as amigas da Paty lá embaixo. Saí do quarto assim que dei aquela última borrifada de perfume. Olhando minha comunidade da sacada do meu quarto. Quando me encostei na grade, vi o Thor chegando lá embaixo. Mal ele saiu do carro, Patrícia já pulou nos braços dele — como sempre fez, desde pequena. Thor sempre foi cria da casa. Filho do coração meu e do Fernando. Irmão pro Pedro, irmão pra Patrícia. Mas o olhar dele… ah, o olhar. Me atingiu em cheio. Meu corpo inteiro arrepiou. Ele me olhou com aquele jeito que conheço muito bem. Abaixei o olhar, desviei o olhar fitando por cima das casas da favela, respirei fundo, bati duas vezes na grade e entrei de volta no quarto. Fui direto pro espelho. Olhei meu reflexo e sussurrei pra mim mesma: — Dannyele, respira fundo. Hoje vai ser só tentação… mas tu sabe o que tem que ser feito. Porque o olhar dele… só me fez lembrar daquela noite. Da maldita reunião. Do jeito como ele me encarava, como me cercava sempre que tinha uma brecha. Como me pressionava contra a parede, não com força, mas com desejo. E isso… isso não pode acontecer de novo. — Meu amor? — a voz do Fernando me tirou dos devaneios. — Meu amor. — Respondi, virando pra ele. Ele me puxou pela cintura e me beijou como sempre beija — firme, presente. O beijo dele me trouxe de volta pro chão. A boca dele na minha é o meu alívio. É o que me ancora. — Vamos descer. A casa tá cheia e a nossa caçula tá fazendo 18. Hora de dar as caras, né? Concordei, dei um selinho nele, ajeitei o cabelo na frente do espelho e peguei na mão dele. Descemos juntos, lado a lado, como tem que ser. Meu nome é Dannyele Gazziero. Sangue italiano, mas carioca da gema. Tenho 43 anos, 1,70 de altura, loira, corpo em dia. Patrícia vive dizendo que tô melhor que muita novinha por aí — e não é mentira, não. Sou advogada, firme na minha profissão, dona de mim. Casada com Fernando, vulgo Rocha — e não é sobrenome, é vulgo mesmo, porque ele é uma rocha. Já tomou seis tiros e segue de pé. Pedro vive brincando que se tomar mais um, já era — que gato só tem sete vidas. Eu sempre corto ele: — Vira essa boca pra lá, garoto. Não quero ser viúva, não. A verdade é essa. Eu amo meu marido. Sou fiel à minha história, à minha casa, à minha família. E por mais que eu veja o que o Thor sente… isso é um sentimento que eu não posso deixar crescer. Cheguei na parte de baixo e já vi a Patrícia com aquele sorriso largo de sempre. Abri os braços, já me preparando pra receber o abraço apertado que ela sempre dava. — Parabéns de novo, minha pequena! — beijei a testa dela com carinho e segurei a mão da minha filha, que logo se soltou pra ir prós braços do pai. Agarrou o pai dela com respeito, com um abraço firme e cheio de carinho. O velho sempre foi linha de frente, um ogro um dos piores do Rio, mas comigo e com os filhos sempre foi um amor. — Felicidades pra nossa Paty. — ele falou sorrindo, com orgulho no olhar. — Ela merece tudo de bom. — respondi, olhando minha filha que faz sinal pras amigas. — Paizinho... — Patrícia puxou o braço dele e apontou com a cabeça — Já viu quem tá aí? — Quem, meu amor? — Fernando perguntou olhando em volta. — O Thor. — Patrícia falou me fazendo engolir seco. — E o Mestre veio junto? — Fernando perguntou pelo pai do Thor. — Não, só o Thor mesmo. — Ela respondeu e ele fez um sinal com a cabeça, beijou a cabeça da Patrícia. — Vou lá ver os aliados. — Sussurrou me dando outro selinho. Só balancei a cabeça, sabendo que ele ia circular e fazer aquele mapeamento da segurança dele. Fui seguindo pra cozinha, o cheiro de tempero e os salgados recém-assado invadindo meu nariz, mas não deu nem tempo de chegar que senti aquele peito colar nas minhas costas. Travei. Essa energia, esse calor... é ele. — Pelo amor de Deus, não faz isso aqui. — Sussurrei. — Que saudade que eu tava do seu cheiro, gostosa... — Por favor, Thor... mantém distância. O Fernando está ali fora. — Føda-se o Fernando. Eu tenho um desejo por tu, desejo de cria. Não é porque tu é casada que esse desejo vai passar. Tu sabe disso. Já tem quatro anos... quatro anos que eu sonho com tua pele, com tua boca, com tua bøceta... O sussurro dele me fez fechar os olhos por dois segundos. Só dois segundos, mas foi o bastante pra minha sanidade vacilar. O barulho de alguém limpando a garganta me trouxe de volta. — Tá tudo bem? — Pedro perguntou. — Tá sim. Tô só pedindo pra tia um copo de água gelada. — Thor respondeu e eu aproveitei pra me afastar. — Desde quando tu precisa pedir copo d'água aqui, viadø? Tu pode chegar e abrir a geladeira, pô! — Pedro falou. — Foi isso que eu falei pra ele, meu filho. Thor, fica à vontade. — dei aquele sorriso educado, escondendo a tensão. — Tô indo ali na área da piscina levar uns docinhos. Saí de perto dele respirando fundo, sentindo o peso da presença dele atrás de mim. Ele vai marcar em cima... dentro da minha casa... com meu marido aqui. E o pior? Eu estou tremia por dentro. A festa foi rolando solta, música tocando alto, geral sorrindo e comendo, e eu tentando me esconder no meu próprio mundo. Só que Fernando não deixa. Do nada ele me puxa pro colo dele, rindo alto, fazendo graça com o povo em volta. Me acomodo nos braços dele, meio sem graça, mas tentando parecer natural. A mão dele passeia pela minha cintura como sempre faz. Olho pro outro lado e quase me engasgo com o próprio ar. Thor. Tá lá, encostado na roda dos cria, com um copo na mão e aquele sorriso malicioso no canto da boca. Ele nem tenta disfarçar. Me come com os olhos. Descarado. O peitø até aperta. Tento disfarçar, mas a tensão bate no rosto. Sinto. Respirei aliviada quando Patrícia se aproxima dele, joga os braços no pescoço dele como se fosse dona do pedaço. Ele sorri com educação, meio frio, mas não afasta. Ela chama duas amigas e aponta pro Thor. Sussurra algo no ouvido delas. "Pronto, começou o desfile", penso comigo mesma. Pra se amostrarem pra ele. As duas se aproximam, rindo feito b***a. Cada uma cumprimenta o Thor com um beijinho na bochecha, mas a tal da Jordana força o beijo quase na boca. Ridícula. — Para com isso, garota. O Thor não beija na boca. — Patrícia fala puxando ela pelo braço. Eu não me aguento e sorrio pelo nariz. Só eu sei o gosto daquela boca. Só eu sei que pois a única boca que ele beijou foi a minha. A única. Como ele fala, é com a que ele sonha. Como pode isso? Fernando me olha. — Tá bem, amor? — Estou sim — respondo baixo, fingindo tranquilidade. Balanço a cabeça como se dissesse pra mim mesma: “Se ele se engraçar com uma dessas, melhor. Melhor do que ficar atrás de mim.” Mas o olhar dele... continua cravado em mim. Continua....
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