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2141 Words
AYANA Alguns dias se passam e me sinto como no dia do enterro ainda, a casa parece mais fria e cada canto me lembra ele.Ainda não tive coragem de pisar no resort que ele e Daniel tinham, ir lá e ver sua sala vazia vai ser demais para mim.Estou tentando fazer Daniel me ensinar tudo mas ele ainda não quer, então pedi o advogado da família para ficar de olho em tudo porque minha mãe esta receosa .Esse negocio era o sonho dele e ela não quer correr o risco de colocar a perder tudo o que ele construiu e batalhou para ter, ela também tem suas dúvidas com Daniel mas em relação a sua idade, ela tem medo que ele tome decisões arriscadas demais. Me sento na cama e observo o quarto, minha mente esta vazia parece que nem lembro quem sou direito.Os últimos dias tem sido estranhos estou levando tudo no automático eu acordo como e vivo no automático.Queria que o luto tivesse dias contados, mesmo que fossem cinco anos ou mais acho que seria muito mais fácil saber quando tudo vai passar ou ficar mais tranquilo de se lidar. Tomo um banho rápido e me visto com um vestido leve, desço para tomar café e vejo minha mãe sentada no quintal observando alguns passarinhos comerem em um comedouro no meio do jardim.Vou ate a cozinha pego um copo de suco preparo um pão e vou ate o quintal para fazer companhia para ela, quando me aproximo ela me olha e sorri. Célia:-Achava tão boba essa ideia de comedouro para os passarinhos, que bom que seu pai não me obedecia em tudo. Ayana:-Eu sempre gostei.-digo me sentando em uma cadeira ao seu lado e dou um gole no suco.-É gostoso isso de ver eles aqui de bom grado e não porque estão presos. Célia:-Sim estou sentada aqui desde cedo, e já vi uns quinze pássaros diferentes. Ayana:-As vezes eu também fico observando, eles são muitos e alguns vem todo dia.-afirmo e termino de comer meu pão observando um passarinho fofo amarelo se deliciando com a comida. Célia:-Daniel foi embora muito cedo hoje?-pergunta após uns minutos de silêncio. Ayana:-Sim nem vi ele saindo, o resort esta deixando ele bem ocupado esses dias. Célia:-Você precisa aprender com ele, seu pai iria querer você no controle de tudo que era dele. Ayana:-Eu sei mas achei que teria mais tempo para aprender tudo e de preferencia com ele.-respondo me ajeitando na cadeira. Célia:-Ele não esperava partir tão cedo. Conversamos por mais um tempo e depois do almoço fico sozinha em casa, para afastar o tédio vou para o quarto e leio um pouco.Depois de alguns minutos lendo sinto o cheiro do meu pai de forma muito suave, fecho o livro no mesmo momento e me levanto da poltrona que fica ao lado da janela.De forma automática começo a seguir o perfume para fora do quarto, ao chegar no corredor o cheiro fica mais forte e o sigo. A cada passo o perfume aumenta e esta bem claro que ele vem do quarto que ele dividia com a minha mãe, apresso o passo ate o quarto e abro a porta.Por alguns segundos fico paralisada vendo sua figura observando pela janela do mesmo jeito que ele ficava vendo os pássaros, não consigo me segurar e solto algumas lágrimas encarando seu corpo forte usando o mesmo terno que estava no caixão.Sou tirada do transe quando alguém aperta meu ombro me assustando, me viro e vejo Daniel sorrindo quando volto meu olhar para a janela não vejo mais meu pai e sinto minha respiração ficar ofegante. Daniel:-Você esta bem?-pergunta parando na minha frente. Ayana:-Eu vi ele Daniel, eu juro que vi ele. Daniel:-Ele quem? Do que você esta falando Ayana?-pergunta confuso limpando as lágrimas do meu rosto. Ayana:-Meu pai, eu vi ele parado na frente da janela.-quando o vejo me olhar com pena coloco a mão no seu peito e o afasto.-Não me olha assim eu sei o que vi. Daniel:-Eu acredito em você, mas acho que ficar nessa casa talvez não seja muito bom por enquanto. Ayana:-É a minha casa a anos, eu não posso só fugir. Daniel:-Você precisa de um tempo Ayana, pode ficar na minha casa meus pais vão gostar muito principalmente a minha mãe. Ayana:-Não eu não vou ficar na sua casa, quero ficar aqui.-passo a mão na testa um pouco preocupada comigo mesma.-Eu vou ficar bem, relaxa. Daniel:-Nem você mesmo acredita nisso, mas tudo bem quando quiser aceitar o convite é só falar. Ayana:-Tudo bem vou pelo menos pensar sobre isso.-digo dando de ombros sem nenhuma intenção de aceitar.-Aconteceu alguma coisa no resort? Daniel:-Ainda não, mas vim te avisar que seu pai e eu tínhamos conversado sobre construir outra unidade ainda maior. Ayana:-E quando isso iria começar?-pergunto curiosa pois meu pai não tinha comentado nada aqui em casa. Daniel:-Eu tenho um tempinho antes de voltar, vamos sentar lá embaixo e te explico direito. Desço para sala com Daniel e me sento no sofá o encarando, ele parece animado com tudo e se senta do meu lado sorrindo. Daniel:-Ainda era só uma ideia de boca, nada tinha sido combinado ainda mas agora quero tocar essa ideia. Ayana:-E o que precisa fazer para começar a tocar o projeto? Daniel:-Muita coisa ainda, fazer o projeto com um arquiteto é só o começo.-ele cruza as mãos e se inclina um pouco na minha direção.-Depois temos que comprar o terreno e claro construir tudo, vai demorar um tempo para ficar pronto mas quando ficar o retorno vai ser enorme. Ayana:-Daniel eu quero participar de tudo isso, não só com um advogado eu quero ter voz e saber usar então se puder esperar um pouco será melhor. Daniel:-Eu sei também quero que participe de tudo, mas acho que contratar um arquiteto é algo mais simples e tranquilo podemos escolher um projeto e esperar para começar tudo quando estiver pronta.Pode ser? Ayana:-Tudo bem pode contratar um arquiteto e o restante vemos depois. Daniel:-Ótimo, vou olhar isso agora.-responde animado se levantando.-Se cuida e qualquer problema me liga na hora.-avisa antes de me dar um beijo rápido. Ayana:-Ligo sim.-respondo com um sorriso leve. Observo ele sair pela porta com passos eufóricos e começo a refletir sobre o que eu vi, porque foi muito real para mim e talvez por mais que isso seja péssimo preciso admitir que essa casa esta me fazendo mal.São muitas lembranças não sei se posso suportar ficar aqui com toda essa carga, minha casa deixou de ser o lugar que me trazia paz. Levanto do sofá e me aproximo de um dos nichos da sala, nele esta uma foto minha criança sentada ao lado dos meus pais na varanda da fazenda em que cresci.Pego o porta retrato e olho atentamente, já tenho uma decisão subconsciente mas não sei se tenho coragem de tomar. Célia:-Voltei.-diz ao entrar na sala mas não desvio minha atenção.-Esta vendo o que ai?-pergunta se aproximando. Ayana:-Eu amo essa foto sabia? Tudo era tão perfeito eu amava cada centímetro daquele lugar.-digo e a encaro, ela olha o porta retrato e seu olho brilha seguido de um sorriso sincero. Célia:-Essa foto é linda mesmo, e eu também amo a fazenda e o quanto seu pai tinha orgulho dela. Ayana:-Preciso te dizer uma coisa.-digo colocando o porta retrato no lugar. Célia:-Aconteceu alguma coisa?-questiona me olhando preocupada. Ayana:-Mãe eu não estou nada bem, e eu tentei aguentar o máximo possível mas não da mais.-digo e fito o teto respirando fundo enquanto sinto as lágrimas descerem.-Não posso mais ficar aqui pelo menos não por enquanto, me desculpa mas eu preciso sair daqui. Célia:-Minha filha.-diz fofa me puxando para um abraço e retribuo.-Não precisa se desculpar, também tem sido pesado para mim pode ir morar com o Daniel eu jamais iria me chatear por isso.-ela desfaz o abraço e então beija minha testa.-Esta tudo bem. Ayana:-Eu não quero morar com ele mãe. Célia:-Nós olhamos um apartamento então o importante é você ficar melhor. Ayana:-Também não quero isso, quero ir para minas e ficar na fazenda um tempo em toda minha vida aquele foi o lugar em que mais senti paz. Célia:-A fazenda?-pergunta um pouco surpresa. Ayana:-Sim, e você podia ir comigo já que também gosta de lá.-falo e ela n**a balançando a cabeça.-Por que não? O que te prende aqui? Célia:-Ayana eu ainda não quero sair daqui, você sabe que amo essa casa.Pode ir tranquila eu vou te visitar quando quiser. Ayana:-Certeza? não queria te deixar sozinha. Célia:-Não vou estar sozinha, sua tia chega semana que vem.-ela anda em direção ao sofá e se senta me olhando sorridente.-Você precisava ver, ela disse que iria vir mesmo eu não querendo.-ela suspira de forma aliviada.-Se o que estava te segurando aqui era o medo de me deixar sozinha agora pode ir tranquila, creio que o Daniel que não vai gostar muito da ideia. Ayana:-Ele vai entender, afinal de contas ele só quer o meu bem.-digo dando de ombros, sei que é r**m ver quem ama se mudando para longe mas tenho meus motivos e ele precisa entender. Célia:-Vou ligar na fazenda e conversar com a Laura, vou avisar que você vai passar uns dias com eles. Laura é casada com Afonso e os dois são pais da Ana Laura e do Hugo, a família Savoia cuida da fazenda desde que meus pais compraram o lugar e eu cresci brincando com Hugo e Ana Laura eles são como parte da minha família. Célia:-Vai fazer as malas.-diz pegando o celular.-Já vou avisar para ela e vamos olhar tudo para você ir o mais rápido possível. Confirmo balançando a cabeça e subo para o quarto, por mais que eu ame essa casa preciso de um tempo para digerir tudo e só de lembrar como era gostoso a vida na fazenda sinto um frio na barriga daqueles de ansiedade.Começo a fazer a mala e resolvo levar poucas coisas, afinal a maior partes das minhas roupas não serviriam para usar naquele lugar.Enquanto ainda estou separando as roupas Daniel me liga e atendo a ligação enquanto observo a mala aberta sobre a cama. Daniel:-Oi amor.-diz carinhoso.-Melhorou? Fiquei preocupado com voce não liguei antes porque tinha muitas coisas para resolver por aqui. Ayana:-Estou melhor sim mas precisamos conversar, você pode jantar aqui hoje?-pergunto andando ate a janela e vejo que já esta anoitecendo. Daniel:-Posso sim, daqui meia hora já posso sair daqui. Ayana:-Então tudo bem, vou avisar a minha mãe que você vem hoje. Daniel:-Avisa também que se ela não quiser cozinhar hoje eu compro alguma coisa e levo. Ayana:-Vou avisar, ate mais tarde. Daniel:-Ate, e se cuida.-pede e desliga o telefone em seguida, respiro fundo e me preparo para voltar a organizar tudo estou parecendo ate uma criança que vai fazer excursão com a escola. Termino de organizar minhas coisas e vou tomar banho, um banho quente e demorado é quase uma terapia fica difícil para sair de tão relaxada que me sinto.Termino o banho e me enrolo na toalha, saio pela porta do banheiro diretamente no meu quarto.Me assusto quando vejo Daniel em pé fitando minha mala sobre a cama, não era assim que eu queria contar iria esperar para conversar depois do jantar. Daniel:-Resolveu aceitar meu convite?-pergunta voltando a atenção para mim, ele parece bastante animado. Ayana:-Na verdade não, eu resolvi passar um tempo na fazenda da família. Daniel:-Fazenda?-questiona tentando puxar algo da memória. Ayana:-Sim a fazenda que fica em Minas Gerais.-minha resposta faz ele arquear as sobrancelhas surpreso.-Eu sei que é longe mas acho que um tempo lá vai me fazer bem. Daniel:-Se é a casa que esta te fazendo m*l e você não quer morar comigo e os meus pais eu alugo um apartamento, ou talvez uma casa o que você quiser eu vou fazer.-frustrado ele senta ao lado da mala e suspira. Ayana:-Amor seus pais são maravilhosos o problema não é eles, e quero sim morar com você mas não agora.-me aproximo e faço carinho em seus cabelos.-Eu preciso da paz que aquela fazenda me dava, e não pretendo ficar lá por anos serão apenas algumas semanas. Daniel:-Ayana você precisa começar a cuidar dos negócios do seu pai daqui pouco tempo, e também tem a dificuldade para eu te visitar lá. Ayana:-Os negócios vão ficar bem e vamos nos falar todos os dias não estou dizendo adeus, é só um ate logo.-dou de ombros e suspiro. Daniel:-E sua mãe? ela vai ir com você ou vai deixar ela aqui sozinha? Ayana:-Ela não vai ficar sozinha minha tia vai passar um tempo aqui com ela.-Daniel se cala parece estar pensando em mais argumentos.-Eu já decidi e vou amanhã. Daniel:-Então tudo bem.-ele responde depois de um tempo e se levanta triste.-Eu realmente não quero que você vá mas também quero que fique melhor.-ele da de ombros e suspira de forma pesada.-Vamos fazer dar certo e vou te visitar todas as vezes que eu puder.
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