Capítulo V

913 Words
O ar gélido do inverno parecia aumentar a escuridão que consumia até mesmo os menores espaços que poderiam existir naquele ambiente. Helena já havia visto noites mais frias, ela e sua mãe não poderiam se dar ao luxo de consumir o pouco de lenha que ainda tinham para sobreviver a essa estação, então abraçou firmemente suas pernas e tocou a ponta dos dedos do pé, e a ouvir o alto ronco de sua mãe, caiu num sono profundo. O inverno costuma compensar suas noites frias com manhãs iluminadas o suficiente para te fazer acreditar que tudo ficará bem, mesmo que a luz do Sol não seja intensa o suficiente para te deixar aquecido, ela te conforta e te motiva a seguir em frente com mais forças do que nunca, mesmo que pareça difícil. Helena dormia com uma expressão leve e despreocupada quando um resquício de luz tocou de leve suas pálpebras, ela demorou um pouco para perceber que já estava de manhã e que restavam poucos minutos a serem aproveitados antes que sua mãe finalmente acordasse e todo o trabalho pesado tivesse início. Ainda sentada na cama, deixou que a ponta dos seus dedos tocassem o chão de madeira, parou por um instante e observou como as luzes invadiam as frestas das paredes, criando linhas finas e irregulares, mas que formavam ao todo uma imagem curiosa. Parou também para observar sua mãe dormindo, era incrível como mesmo dormindo Catarina conseguia ter uma expressão pesada e de cansaço, ela ainda roncava alto e Helena percebeu como seu rosto estava sujo e suado, seus dedos grossos e com unhas sujas agarravam a pequena coberta e ela parecia uma grande montanha a respirar. Helena usava um de seus únicos vestidos, este sem cor estava também amassado e um pouco irregular ao corpo, procurou embaixo de sua cama pelos velhos pares de sapato em couro, que mesmo gastos serviam bem para proteger seus delicados pés. Ela pegou o par de sapatos em suas mãos e sem calçá-los para não fazer barulho ao caminhar seguiu em direção a porta. Estar longe de tudo e todos não eram coisas o suficiente para acomodar a inquietação que existiam dentro da garota, hoje sem saber se seria possível conhecer algo além dos arredores de sua casa, ela ainda tentava desesperadamente aprender coisas diferentes com os pequenos detalhes do dia a dia, experimentava a mesma coisa todos os dias, mas de maneira diferente, não que as circunstancias fossem diferentes, mas, ela tentava colocar cores em seu olhar. Helena desceu a única escada que havia em frente a sua casa e pode sentir a maciez do que parecia ser uma grama malcuidada e irregular abaixo dos seus velhos sapatos. Andou sem pressa em direção ao pomar, aproveitando cada segundo que a brisa tocava seu vestido. Helena tinha a pele clara, tão branca que a luz do Sol dava a ela um brilho incomum, seu vestido sem cor parecia acompanhar as pequenas e sutis curvas em seu corpo. Seus longos cabelos negros quase alcançavam a cintura, não era o suficientemente grosso para ser pesado, mas acompanhavam perfeitamente o balanço do vento. Passar esse momento sozinha era a sua dose diária para se sentir viva, Helena deixava se levar a olhar o céu por longos minutos e desejava por um instante que aquilo nunca acabasse. Ela não sabia o que havia além do que podia ver, mas, sabia que era imenso, compreendia toda essa imensidão e permitia sentir-se pequena, pequena diante de tanta beleza e perfeição, ela gostava de admirar coisas belas, ela amava admirar o céu, mas, m*l sabia ela que o céu é quem deveria admirá-la. Helena tinha uma beleza pura, um coração bondoso e ingênuo. Um ruído por menor que pudesse parecer foi capaz de tirá-la desse transe, com sentidos aguçados e expostos as menores sensações, qualquer detalhe por menor que fosse seria incapaz de passar despercebido pela garota. Helena parou e olhou prontamente para a direção que ouvira o ruído, e em meio as árvores percebeu um vulto desconhecido, era rápido o suficiente para não ser reconhecido, mas lento demais para passar sem ser notado, e estava ali, bem pertinho dela. Ela sentiu seu coração acelerar e um misto de medo e curiosidade a invadiu. - Oi, tem alguém aí? Helena gritou o mais alto que pôde, e mesmo assim sua voz soou rouca e insegura. Silencio, foi tudo o que recebeu de volta. Novamente Helena ouviu o mesmo ruído, mas, agora esse parecia vir de mais longe. Nesse momento a curiosidade falou mais alto, e ela não podia deixar escapar essa coisa que ela sequer sabia o que ou quem eram, sem pensar muito sobre o que estava fazendo Helena se pôs a correr. Juntou todas as forças que encontrou e começou a correr em direção ao barulho, seus sapatos que já não acomodavam seus pés escorregaram de vez, e Helena m*l pode perceber que estava correndo descalça e que seus pés finos tocavam o solo cheio de cascalhos, galhos de árvores ou espinhos, ela não parou pela dor. Quando ela percebeu estava no meio do nada, sua respiração estava ofegante e ela sentia sua cabeça girar, ela olhou brevemente para seus braços e percebeu que haviam pequenos cortes que deixavam vazar um pouco de sangue, como arranhões que aconteceriam com qualquer animal em fuga, sentiu uma pontada de dor em seus pés, abaixou a cabeça levemente para enxergar o estrago e de repente tudo se apagou.
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