Capítulo 12. Virgínia Mancini

971 Words
O sol da manhã invade o amplo jardim da mansão Mancini, refletindo nas janelas de vidro e nas paredes brancas impecáveis. Henrique patrulha o perímetro, atento a cada movimento. O rádio preso ao seu colete chia de tempos em tempos com comunicações de outros seguranças. Apesar da aparente tranquilidade, o clima na casa é de alerta constante e Henrique sabe que, ali, um erro pode custar o emprego… ou algo pior. Quando ele dobra o corredor do jardim, a voz de Antônio ecoa da varanda: — Henrique. Um minuto. Antônio está sentado à mesa, o café servido à sua frente, alguns papéis espelhados sobre a mesa. Ele veste um terno escuro, impecável, e observa o segurança com um olhar de quem já mediu e testou tudo. Henrique se aproxima, mantém a postura firme. — Senhor. — Amanhã começo uma viagem de alguns dias. Negócios fora do país. E vou deixar algo… importante pra você cuidar. Henrique não responde, apenas aguarda. Antônio acende um charuto e continua: — Minha filha. Virgínia. Ele solta a fumaça, o olhar distante. — É inteligente, mas teimosa, não aceita muito bem a realidade que vive.E, ultimamente, tem se metido em lugares onde não deveria estar. Eu quero ela protegida, vinte e quatro horas por dia. Henrique franze o cenho, cauteloso. — Protegida de quê, senhor? Antônio dá uma risada curta. — De quem quiser se aproximar demais. E, se for preciso, até dela mesma. O silêncio pesa entre os dois. Antônio então se levanta, vai até Henrique e o encara de perto. — Não é só um serviço, Henrique. É uma prova de confiança que estou lhe condecendo.Eu quero saber se você é capaz de seguir ordens sem hesitar, mesmo que ela insista, mesmo que chore, mesmo que te olhe como se fosse você o inimigo. Henrique sustenta o olhar, firme. — Entendido. Antônio coloca a mão em seu ombro. — Quero relatórios diários. Ela não sai sem você. Não atende ninguém sem passar por você. E se alguém tentar se aproximar… elimine o problema antes que ele chegue perto demais. Henrique apenas assente. Antônio dá um leve sorriso, satisfeito. — Amanhã te apresento a ela. E, Henrique… cuide dela como se fosse minha própria vida. Porque, de certa forma, é isso mesmo que ela é. Henrique o observa se afastar para dentro da casa, o som dos passos do chefe ecoando no mármore. Ele sabe que o que está por vir não será apenas um trabalho será o início de seu trabalho,mais difícil e perigoso do que qualquer teste. O relógio marca nove da manhã. A mansão Mancini está em movimento: empregados indo e vindo, carros sendo preparados, e Antônio, impecável como sempre, ajusta o relógio no pulso enquanto espera no hall principal. Henrique está de pé, ao lado da escadaria, observando o ambiente com discrição. Ele não demonstra nada, mas sente o peso do que foi dito no dia anterior. “Proteger a filha dele como se fosse a própria vida” palavras que ainda ecoam. O som dos saltos no mármore corta o silêncio. Quando Henrique levanta o olhar, a vê descendo as escadas. Virgínia Mancini. Cabelos ruivos caindo em ondas, sardas que deixavam seu rosto ainda mais chamativo, os olhos de um azul quase prateado, frios e inteligentes. Usa um vestido leve, mas a postura é firme, altiva o tipo de mulher acostumada a ser ouvida, não controlada. — Filha,— diz Antônio, abrindo um sorriso breve — esse é Henrique. O novo responsável pela sua segurança pessoal. Ela o encara por um segundo, de cima a baixo, e arqueia uma sobrancelha. — Outro?— pergunta, seca, porém seus olhos azuis não deixam de percorrer cada centímetro de Henrique. Henrique mantém a compostura. Antônio limpa a garganta. — Virgínia, ele vai acompanhá-la em tudo. Viagens, eventos, compras. Você não sai dessa casa sem ele, é uma ordem. — Ordem… — repete ela, cruzando os braços. — Acho que o senhor confunde segurança com prisão, papai. — Confundo liberdade com imprudência. — responde Antônio, firme. — E não vou discutir isso de novo com você. É a minha ordem e você vai segui-la ou não sai dessa casa. Virgínia revira os olhos e se afasta, o perfume leve dela ficando no ar enquanto passa por Henrique. Antes de sair, lança um olhar rápido por sobre o ombro desafiador, curioso. Assim que a porta se fecha atrás dela, o silêncio volta. Antônio solta um suspiro, caminha até a janela e observa o carro que lhe esperava. — Ela tem muito personalidade...teimosa igual a mãe— diz ele, com um sorriso cansado. — Mas é tudo que eu tenho. Henrique permanece imóvel, atento. Antônio vira-se e o encara com um olhar gélido, a voz agora mais baixa e cortante: — Ouça bem, Henrique. Minha filha tem um talento especial pra testar limites. E homens fracos. Ele se aproxima um passo. — Você vai protegê-la. Vai vigiá-la. Mas não vai se aproximar dela. Nem um passo além do necessário. Entendido? Henrique mantém o olhar firme. — Sim, senhor. Antônio o observa por alguns segundos, avaliando cada reação, cada movimento do rosto dele. Depois, dá um leve sorriso um sorriso que não chega aos olhos. — Ótimo. Porque se eu perceber que você confundiu dever com desejo… Ele se inclina um pouco mais, o tom agora quase um sussurro: — Eu mato você na frente dela, assim como fiz com os três últimos seguranças dela. Henrique apenas acena com a cabeça.Antônio dá dois tapinhas no ombro dele e se afasta, voltando à sua mesa de trabalho. Henrique respira fundo, sentindo a raiva lhe tomar, Virgínia era bonita sim, mas ele não se distraia em suas missões. Do lado de fora, ele vê Virgínia andando pelo jardim da mansão.E ele sabe o verdadeiro teste de lealdade começa agora.
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