Capítulo 15. Em segurança

636 Words
O som dos motores importados preenche o pátio de pedra da mansão. Três carros pretos entram em fila, o primeiro deles parando diante da escadaria principal. Henrique já está lá, em posição, observando tudo com o mesmo olhar atento de sempre. O ar da manhã está pesado, e o clima parece mudar no instante em que Antônio Mancini desce do carro. Terno escuro, óculos de sol, o andar firme de quem está acostumado a comandar homens e a ser temido por eles. Ele cumprimenta um dos seguranças ,depois volta-se diretamente a Henrique. — Entre comigo. Henrique o segue pelo corredor principal, o som dos passos ecoando no mármore. Assim que entram no escritório, Antônio fecha a porta, deixando o silêncio tomar conta do ambiente. O escritório é amplo, forrado por prateleiras. Ele se senta atrás da mesa, tira os óculos e o encara. — Soube que tivemos um problema ontem. Henrique mantém-se firme. — Dois homens seguiram Virgínia no shopping. Não chegaram a se aproximar, mas agiram como se estivessem observando. Intervi antes que fosse necessário algo mais... chamativo. Antônio cruza as mãos, pensativo. — E acha que foi coincidência? — Não. — Quem mandaria? Henrique hesita um segundo. — Suspeitos não faltam. Mas eram profissionais o bastante pra não cometer erros visíveis. Antônio solta um leve suspiro e apoia as costas na cadeira. — Você fez o certo. E ela? Henrique desvia o olhar por um instante, lembrando do olhar assustado de Virgínia e das perguntas da noite anterior. — Abalada. Mas segura. Antônio se levanta, vai até o bar do escritório e serve um copo de uísque. A tensão silenciosa é quase palpável. — Minha filha acha que vive num mundo de fantasia… onde o sobrenome dela não significa perigo. Ontem, ela aprendeu um pouco da realidade. Ele se vira novamente, o olhar fixo em Henrique. — Você, por outro lado, me provou algo. Henrique o encara, atento. Antônio dá um meio sorriso, frio — Que eu estava certo sobre você.—ele dá alguns passos à frente.— Rápido. Eficiente. Silencioso. E, principalmente, não deixou ela te distrair. Henrique não responde, mas mantém a postura. Antônio se aproxima mais, o tom agora mais baixo, quase confidencial. — A maioria dos homens quebra na presença dela. Eu avisei, não avisei? — Sim, senhor. — E você? — Antônio o observa por alguns segundos, tentando ler o que se passa por trás do olhar calmo de Henrique. — Conseguiu manter o foco? — Sempre.— responde ele, firme. Antônio o encara por mais um momento. Depois dá um leve sorriso satisfeito e bate uma vez no ombro dele. — Bom. Continue assim. Ela é o bem mais valioso que eu tenho e o mais perigoso também. Henrique apenas acena, sem desviar o olhar. Antônio volta para a mesa, pega alguns documentos e completa: — Vou reforçar a segurança ao redor dela. Mas quero você na linha de frente. Vinte e quatro horas, sem exceções. Onde ela for, você vai. Entendido? — Entendido. Antônio então se inclina levemente sobre a mesa, o olhar mais sério agora: — E, Henrique… Henrique o encara, atento. — Se alguém tentar se aproximar dela seja quem for, não hesite. Entendido? — Sim, senhor. Antônio dá um último gole no uísque, coloca o copo sobre a mesa e conclui, num tom que soa tanto como ordem quanto aviso: — Proteja minha filha… até dela mesma, se for preciso. Henrique faz um leve aceno e sai do escritório, o som da porta se fechando atrás dele. Do lado de fora, o corredor está silencioso. Mas no andar de cima, Virgínia observa pela grade da escada olhos fixos em Henrique, expressão curiosa, eles cruzam os olhos por um instante , e ele entende que o olhar dela é tão perigoso quanto qualquer arma.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD