Capítulo 20. A proposta

736 Words
A chuva cai forte lá fora, batendo nas janelas amplas do escritório. O relógio marca quase dez da noite. A mesa de madeira maciça está coberta de pastas, copos de uísque e um cinzeiro de cristal. Antônio Mancini está sentado à cabeceira, o semblante sereno, embora os olhos revelem o cansaço de quem comanda um império que nunca dorme. Do outro lado da mesa, Andrew Roberts um homem robusto, bem vestido, cabelos grisalhos penteados para trás e um sorriso de quem nunca faz nada sem cálculo. Um inglês de modos refinados, mas com um ar de crueldade velada. — Antônio…— ele começa, acendendo um charuto — você sabe que admiro a forma como conduz seus negócios. Disciplina, elegância… e resultados. É raro encontrar isso hoje. Antônio gira o copo entre os dedos, sem pressa. — Elogios vindos de você costumam custar caro, Andrew. Andrew ri baixinho. — Justamente por isso, trago uma proposta à altura. Ele apoia o charuto no cinzeiro, inclinando-se levemente sobre a mesa. — Estou expandindo operações para a Itália. Tenho contatos em Milão, mas preciso de alguém com o poder de abrir certas… portas. E quem melhor que um Mancini para isso? Antônio ergue o olhar, desconfiado. — A Itália não é um terreno fácil, Andrew. Você sabe que o nome Mancini pesa, tanto quanto atrai atenção. — Justamente por isso. — Andrew sorri. — Você tem o nome, eu tenho o investimento. Uma parceria perfeita. Antônio o observa em silêncio por alguns segundos, depois pergunta: — E o que ganharia eu, além de carregar o risco? Andrew se recosta na cadeira, dá um gole no uísque e responde com tranquilidade: — Uma aliança estável. Uma que consolidaria nossos dois impérios de uma vez por todas. Antônio inclina levemente a cabeça. — Continue. Andrew abre um sorriso calculado. —Thomas. Jovem, inteligente, preparado. Herdeiro natural dos meus negócios. E você tem uma filha… linda, educada, e com um sobrenome que ainda faz as pessoas abaixarem a cabeça. O ar na sala muda. Antônio pousa o copo devagar sobre a mesa, o olhar endurecendo — Está sugerindo o que eu penso que está sugerindo? — Um casamento, Antônio. Uma aliança verdadeira. Mancini e Roberts. Poder na Itália e na Inglaterra. Controle sobre os dois mercados. É o tipo de união que o mundo respeita… e teme. Antônio se levanta lentamente, indo até a janela. A chuva reflete a luz da sala em seu rosto. — Casar minha filha como se fosse parte de um contrato comercial? Andrew dá de ombros. — Ora, você sabe como esse mundo funciona. Amor é um luxo que a gente não pode se permitir. Além disso… — ele faz uma pausa e tira um envelope dourado do paletó — há uma oferta concreta. Ele desliza o envelope pela mesa. Dentro, cifras altas, impressionantes, suficientes para financiar uma operação inteira. — Um adiantamento simbólico. — completa Andrew, satisfeito. — E mais, se concordar em oficializar a parceria. Thomas pode vir aqui nas próximas semanas. Um jantar, uma apresentação formal. Nada forçado. Antônio observa o envelope sem tocá-lo. O silêncio dura longos segundos. Por fim, ele fala, baixo, mas com firmeza: — Virgínia é tudo o que me resta, Andrew. Não é um bem negociável. Andrew sorri, mas há frieza em seus olhos. — Não é uma negociação, Antônio. É uma oportunidade. Você sabe que o mundo mudou. Sozinhos, somos poderosos. Juntos… seremos intocáveis. Antônio o encara, a tensão crescendo. — Você está tentando me comprar com dinheiro e promessas, Andrew. Mas lembre-se eu não vendo sangue. Andrew se levanta, ajusta o paletó. — Pense bem. O dinheiro abre portas, mas as alianças mantêm elas abertas. Ele se aproxima da porta, mas antes de sair, diz num tom mais baixo: — E quando seu nome for esquecido, Antônio… o de Virgínia pode garantir que o legado Mancini continue vivo. Ou morra com ela. A porta se fecha. Antônio fica imóvel por um tempo, olhando a chuva. Depois volta o olhar ao envelope sobre a mesa. Não o pega. Mas também não o joga fora. Do lado de fora, Henrique passa discretamente pelo corredor, tendo ouvido parte da conversa. Ele vê o rosto de Antônio o olhar pesado, calculando cada movimento. E sabe que, a partir daquele dia, o jogo mudou. Agora não era apenas sobre segurança. Era sobre poder, herança… e a vida de Virgínia no meio de tudo.
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