Capítulo 1

1463 Words
Era estranho acordar e ouvir barulho de carros e máquinas pesadas e não o cantar dos pássaros ou o mugir das vacas da fazenda pedaço do céu. Havia-me esforçado muito para chegar aqui, então eu tinha que me acostumar aos novos sons ao meu redor. É claro que eu sentia falta do meu campo repleto de flores e cavalos, mas estar aqui em Nova York, na cidade aonde tudo e possível, é mais que um sonho... era quase um pedaço literalmente do céu. Olhei o relógio ao lado da minha cama, ele marcava as 5:30 da manhã. E apesar de o sol ainda não ter dado o seu bom dia! Todos já estavam de pé andando nas ruas movimentadas da cidade que nunca dorme. E como o próprio nome já diz, também teria que me habituar a não dormir muito. Olhei o teto com aquela rachadura gigante quase caindo sobre mim e sorri. Não me importava com as instalações do apartamento nem tão pouco se a água do chuveiro estava fria, não. Nada nem ninguém hoje iria estragar o meu dia. O dia mais importante da minha vida, ouso dizer. Trabalhar para o executivo Igor González Almeida era um sonho... não, não... era mais que um sonho, era quase um milagre feito pelas forças do universo. Obviamente hoje seria a minha entrevista com o mesmo, e enquanto eu escovava os dentes recitava novamente o discurso que daria para senhor González no momento da minha entrevista. Já havia perdido a conta de quantas maldit* vezes escrevi e reescrevi as respostas para as devidas perguntas. Escolhi uma saia Godé azul e uma blusa sem mangas de botões, Branca. Os meus saltos de tom nude e os cabelos soltos a baixo dos s***s. Na noite passada havia alguns bobs na esperança de dar um pouco de volume as minhas mechas ruivas. A maquiagem foi a mais sutil possível. Não queria exagerar muito, afinal de contas eu ia ao meu futuro emprego e não a uma boate. Sai cedo do apartamento, e cumpri com as exigências da entrevista. Que eram, pontualidade e compromisso com os deveres. Era a primeira vez que via algo assim desde que... bom, era a primeira vez para tudo na minha vida. Andar pelas ruas de Nova York em plena segunda-feira eram um completo pandemónio. Tantos carros e pessoas indo e vindo com os seus celulares na mão ou nos ouvidos, senti-me no país das maravilhas. Era incrível estar ali. Felizmente eu sabia como chegar ao metro, ele não ficava tão longe de onde eu estava então seria fácil chegar ao meu destino. Desci as escadas olhando atentamente para os trens que chegavam à estação. Não podia chegar atrasada na minha entrevista, então espremi-me entre tantos homens engravatados e mulheres de ternos elegantes tentando olhar o nome da linha que seguiria. Em outro dia eu provavelmente iria com o meu carro, mas meu velho quebra galho, estava parado na garagem, e a alguns dias se recusava a ligar. O expresso chegou ao terminal, mas a multidão impetuosa o encheu em segundos não me dando oportunidades de aproximar-me da porta. Olhei o relógio novamente e faltavam aproximadamente 1:30 para a minha entrevista. Ou seja, estava mais que atrasada. Sai do metro e corri em direção à rua da Broadway com a 5°avenida, aonde todos os táxis são mais fáceis de se pegar. Admitia que correr com aqueles saltos era quase que algo celestial, pois quem em sã consciência faria algo do tipo? Parei ao lado de um senhor alto e um pouco mais velho, mas muito atraente. Que pelo visto também esperava por um táxi assim como eu. O olhei e ele se mantinha sério digitando num celular. Ri discretamente de seu ato. Não conseguia entender por qual motivos as pessoas gostavam de jogar a sua vida no lixo assim. Infelizmente o senhor carrancudo notou a minha atitude e passou a encarar-me. O olhei com o canto dos olhos tentando segurar a vontade de rir, mas foi inútil. — Posso saber porque que ri a minha jovem? — ele guardou o aparelho no bolso do terno. Segurei a bolsa quase como escudo. — Nada... senhor...— mirei o chão. Apesar dos óculos escuros, havia algo que não me era estranho — não é daqui, não é mesmo? — olhou-me com desdém. — Esses caipiras pensam que sabem de tudo... — o seu olhar ainda era cortante para mim. Girei sobre os calcanhares, podia sentir minhas bochechas arderem. A raiva consumiu-me. — Nós não sabemos de tudo senhor e isso é um fato. Mas eu garanto-lhe que o que sabemos e mil vezes mais útil e sábio do que qualquer um que viveu ou nasceu fazendo numa cidade. — Fui seca. — O que disse menina? — pareceu ofendido. — Não recebeu educação dos seus pais quando morava na roça? Ou educação e uma coisa banal por lá? — Ele cruzou os braços ficando maior. Arrebitei o nariz. — Sim, eu recebi educação sim. Diferente do senhor que já e um velho reumático e m*l-educado. — Sorri cínica. O homem ficou rijo com as minhas palavras. Sai andando para longe, mas minha pasta com documentos caiu nos pés do velho imbec*. Que sorriu vitorioso para mim. Juntei os meus papéis com dignidade e sem nem um pingo de vergonha, e por um milagre o velho também juntou o último papel o olhando atentamente. Tomei da sua mão rapidamente. Quem era o inconveniente agora hein? seu velho! — González S.A? — olhou-me estranho. — Vejo que tem um grande dia hoje não e mesmo? — pôs as mãos no bolso das calças. Um sorriso cínico brincou nos seus lábios...e que lábios... — os seus pais não lhe ensinaram que falta de educação ler aquilo que não e seu?! — fui ríspida. O homem apenas sorriu. — Isso será interessante. — Ele olhou-me de baixo para cima. Dei as costas indo em direção a outro ponto de táxi. Hoje era meu grande dia, ralei muito para chegar aqui. Não podia falhar, não agora. [...] A sala branca estava silenciosa, vez ou outra ouvia o som dos saltos das secretarias indo e vindo. Eu almejava muito aquela vaga de secretaria do presidente/dono/poderoso/mandachuva. Depois que entrasse na empresa, subir de cargo seria a parte fácil. Não foi a atoa que concluí a minha faculdade como a melhor da turma de administração em ‘marketing. Um título que me custou dias e noites não dormidas. — Bianca? — uma senhora baixinha de cabelos curtos e uma barriga enorme chamava-me na porta da sala. Levantei-me indo na sua direção, a cada passo eu sabia que o meu futuro estava cada vez mais próximo. — O senhor González a aguarda na sua sala. — A olhei sem entender. — Mas a entrevista foi marcada com a gerente do RH...— ela sorriu. — Eu sei. Mas o chefe mudou de planos, agora vá. Ele aguarda-a. — o seu sorriso era doce. Engoli em seco e caminhei em direção a porta de vidro fume enquanto uma assistente me anunciava. Podia sentir meus dedos adormeceram por conta do nervoso. Assim que entrei na sala o dono estava sentado na sua mesa de costas para mim. Fiquei sem jeito e não tinha a menor ideia do que fazer ou de como me portar. Quando me atrevi a falar o mesmo acenou para eu me sentar e ficar quieta. Sentei na cadeira e respirei fundo. — fale-me sobre você. — A voz pareceu-me familiar, mas fingi não estar nervosa. — o meu nome e Bianca Keppner, tenho 22 anos e sou formada em Administração em marketi...- a voz interrompeu-me. — A senhora gosta de vacas? — pisquei olhando as costas da cadeira de couro escuro. — Perdão, eu não entendi... O senhor disse vacas? — o silêncio reinou. Senti-me obrigada a responder. — Bom... e-eu gosto sim... não tenho nada contra animais. — Olhei o papel. — mas voltando ao assunto. Eu tenho várias qualificações e recomendações de vários professores...— a voz outra vez interrompeu-me. — Quando chove no campo... o cheiro de terra predomina o ar? — novamente pisquei sem entender nada. Ri. — Sim... o cheiro predomina sim. Mas podemos falar sobre o meu currículo por favor? — olhei para a cadeira. O som da risada assustou-me um pouco. — os seus pais não te deram educação? — fechei os olhos tentando não surtar. Porque todos essa manhã resolveram falar dos meus pais?... — Senhor, eu estou aqui para tentar trabalhar... se o senh..—- a cadeira girou revelando o homem sentado nela. A minha voz travou. Senti as minhas pernas bambas mesmo estando sentada. Meu mundo caiu. — Isso será muito interessante. — Ele sorriu. — Olá, Bianca.
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