Desentendimentos e ciúmes.

1399 Words
Camila foi o caminho todo chorosa e abatida. Não conseguia esquecer a imagens do rosto do colega e isso lhe perturbava. Ao chegar, o pai ajudou a menina a deixar o carro, apoiou a filha, segurando em seu braço, até adentrarem em casa. Em pé, no primeiro degrau da escada, estava Varuna. O fantasma olhou, franzindo o cenho, na direção da sua amada. Camila ergueu o olhar melancólico para o espectro e em seguida desviou. Sentia que traia o seu namorado ao pensar que se tivesse dito um sim para Marcelo, o corpo do rapaz não estaria, naquele momento, dentro de um caixão. _ O que houve?- perguntou Alda ao ver o abatimento da sua pequena. A mulher buscou por respostas ao mirar o rosto do marido. Evaristo apenas balançou a cabeça em negação. Alda ergueu a face da garota e foi o suficiente para Camila se desmanchar em um choro convulsivo. Agarrada ao corpo da mãe a jovem debulhava-se. Alda não entendeu absolutamente nada. Ficou mais nervosa e perdida do que nunca. _ Evaristo! O que aconteceu, homem?- indagou a esposa com a voz subindo alguns decibéis. _ Um colega da Camila faleceu, aquele que esteve ontem aqui em casa. O rapaz do buquê de flores. - foi a gota de água para Varuna se transformar em uma fumaça preta disforme e cheia dos piores sentimentos, principalmente ciúmes. Ele soube por qual motivo sua garota estava naquele estado: meio sofrendo; meio morrendo; totalmente emocionada. Resolveu afastar-se para não externar sua ira e causar pânico a família que vivia em suas terras. _ Meu Jesus amado! Como foi isso? Pobre rapaz! Coitado !- a progenitora falava acariciando as costas da filha. _ Tabata, traz água com açúcar para a sua irmã! -berrou Alda, puxando Camila para sentar no sofá da sala. _ Vou procurar saber sobre o funeral, enviar algumas flores. Lastimável que os jovens morram antes dos mais velhos; ele tinha muito pela frente e de repente tudo tem um fim e******o desses.- proferiu o progenitor, sacando o celular do bolso. Os joelhos da moça batiam um contra o outro, conforme ela esgregava as mãos nas laterais das coxas. A primogênita entrou na sala trazendo um copor grande cheio até a borda. _ Toma, Mila, bebe tudo não deixa nada.- disse a irmã ao se agachar na frente da menina que tinha os nervos abalados. Camila apenas afirmou com um balançar de cabeça, pegou o cilindro em mãos e o líquido caia para todos os lados menos na boca. Tabata apoiou a mão no fundo do copo e ajudou Camila. Todos estavam consternado pela situação r**m. _ Tabata, leva sua irmã para o quarto, faça com que ela deite. Irei fazer um chá de melissa que, rapidinho, vai acalmar os nervos .- pediu a mãe, saindo apressada da sala. A filha mais velha do casal Esteves, procedeu conforme lhe foi pedido. Camila levantou-se amortecida pela notícia; apoiada na irmã, subiu a escada , cruzou o corredor e foi colocada na cama. Tabata retirou o tênis, enquanto cantava uma canção infantil que era algo somente delas duas. Camila tinha pavor de tempestades, as trovoadas eram o seu maior terror. Toda vez que chovia, quando pequenina, corria para a cama da irmã. " Tata, " tô" com medo."- dizia escondedo a cabeça debaixo das cobertas. " É só trovoada, Mi, não faz m*l para ninguém. "- falava Tabata. " Não gosto do 'balulo' é alto e feio. "- Camila proferia, ainda, trocando as letras de algumas palavras. " Então, presta atenção na minha voz, tá". - pediu a irmã. Tabata cantou para acalmar a pequena Camila; cantou para que a menina não sentisse mais medo; cantou baixinho e manso. Camila dormiu e depois daquela noite, no tempo em que tinha tempestade, a voz de Tabata era o calmante da pequena irmãzinha. A moça fechou os olhos, enquanto Tabata, sentou-se na beira da cama e acariciou os cabelos castanhos da moça. O cafuné trouxe um pouco de conforto, junto com a canção; foi a dose perfeita para que a garota fosse sendo levada por Morfeu para passear no bosque dos sonhos. Algum tempo se passou até que Camila despertou com um toque frio em seu rosto, ao abrir os olhos deu de cara com Varuna. O espectro tinha os olhos mais frios e ruins que a menina já tinha visto. O grito ficou preso na garganta. _ Sua comoção passou?- perguntou ele, dando um sorriso frio. A moça apoiou as mãos na cama e sentou-se o mais rápido que pode. _ O que você tem? Por que está com esse olhar esquisito? - indagou a menina, sentindo um frio na barriga. O espectro virou lentamente a cabeça de um lado para o outro. Tinha um ar psicopata na face. _ Você que me deu. Gosta?- inquiriu, frio, soturno. _ Não entendo? - a menina proferiu, encostando as costas no espaldar da cama. _ Não entende? -o espectro disse com sarcasmo, erguendo uma das sobrancelhas e a sombra de um sorriso permeado de escárnio brincou em seus lábios- Pois deveria, querida. Sua memória encarnada vacila, a minha não! - disse, aproximado o seu rosto da face assustada da pobre coitada. _ Te magoei, foi isso? A noite foi per.... _ A noite foi ótima, melhor impossível. - disse o espectro retalhando sua fala. _ Então? - indagou a garota colocando as pernas para fora da cama. Varuna tinha se locomovido para longe. _ Chorava por outro! Chorava pelo moleque que teve a audácia de te cortejar. O infeliz cheio de empáfia que destilou ameaças para você! - vociferou Varuna e a casa deu estalos; sonoros gemidos. _ Eu o conheci, gostei dele. Como ficaria imune a notícia? Eu sou feita de retalhos, Varuna, pequenos pedaços das pessoas que passam pela minha existência; esses retalhos agregam e cresce essa colcha que é a minha vida! Marcelo é um desses quadrados pequenos, não posso ignorar! Eu não sou assim! - Camila queria gritar, jogar para fora tudo que estava sentido ;contudo não podia. Isso soaria como um alarde de que ela não está nada bem. Brigar com o vento é coisa de quem tem problemas mentais, ou é o que muitos pensam: que eles discutem com o vento. _ Você é minha! Minha, Camila! Tudo de você, em você e que venha de você é meu, para o meu prazer, para o meu doce regalo! - bradou ele, com suas íris cheias de labaredas acesas pelo ciúmes. - Eu sou mais do que a colcha da sua vida; sou a sua metade! - completou, apontando o dedo indicador na direção da moça. _ Eu não tenho um coração de pedra dentro do peito. Antes dele ser qualquer coisa, era um ser humano e isso é o bastante para que eu tenha compaixão. Que tipo de educação seus pais te deram em vida?- indagou curiosa, observando que Varuna era volúvel demais. O fantasma fitou a menina com muita intensidade. Ele sabia muito bem que tipo de educação teve; aquela educação onde é priorizada o egocentrismo; onde vale tudo para poder conquistar o que deseja, inclusive atropelar os menos favorecidos. Varuna dissipou-se no ar. Fugiu para não responder. Evadiu-se do local para não confessar no momento de extrema cólera que tinha sido ele quem provocou o acidente. O ponto final no caminho que ceifou o respirar do moleque afrontoso. Na madruga em que Marcelo capotou de carro, Varuna surgiu sentado ao lado do banco do motorista. " Gosta da velocidade? "- perguntou, tocando no aparelho de rádio do veículo que queimou no mesmo instante. " Ahhhh!!! p**a que pariu! Quem é você?!- indagou Marcelo afundando o pé no freio. As rodas travaram, o cheiro de borracha queimada subiu . O jovem não vinha acelerando pelas pistas feito um desassisado, muito pelo contrário, sempre foi muito prudente ao volante. " Eu? - Varuna indagou com sarcasmo, erguendo as duas sobrancelhas- Arrisca um palpite, vamos, você tem tempo.- disse esticando as pernas em cima do painel do veículo . " Se for a p***a de um demônio, te quebro no p*u!"- ameaçou o rapaz, segurando o volante com mais força que o necessário. " Hummmm, passou longe, muito longe! - gargalhou a assombração colocando as mãos atrás da cabeça- Vai, seu prego, tenta de novo!- proferiu calmo, sabendo que daquele encontro planejado, Marcelo não iria sair respirando .
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