Ano de 2014- outubro dia 14/ terça-feira.

1847 Words
( Narrador) Ele, descendente de uma família abastada, mui importante na cadência de muitos negócios, mas a veia principal que ligava os seus ancestrais aos seus era a dominação. Uma dominação massiva, uma dominação de efeitos propagados e amplos. Seu pai gosta disso, de execer o domínio, vai além; gosta do cheiro do gabinete, do papel sulfite novinho e alvo, do barulho da ponta da caneta deslizando sobre este e da tinta marcando sua assinatura ou rubrica, afinal, aquele era o seu lugar de destaque. O pensamento arraigado do progenitor de que o seu único filho homem, teria de dar continuidade ao que seu bisavô e tios, iniciaram, uma escalada até o mais alto degrau. O santo graal que todos os que fazem parte daquele " mundo", mundo nem um pouco claro, sempre anuviado, cheio de interesses escusos, desprovidos de lisura, por isso levava consigo a arrogância e prepotência que julgava ser própria de homens intrépidos; o santo graal que os mais bem aventurados almejam chegar. Era o cimo da colina, acredito que mais que uma colina, uma montanha, uma alta e ingreme montanha a qual, ia derrubando muitos pelo caminho, ainda é assim, não houve uma mudança. Para Raul Rockefeller, seu menino prodígio, a pupila dos seus olhos, seria aquele que fincaria a bandeira do seu clã no topo, demarcaria o território e colocaria os Rockefeller para sempre na história, afinal, foram muitos anos se espreitando em muitos corredores estreitos para ter esse êxito. Mas não era bem isso que o jovem Varuna queria para si, o rapaz tinha uma visão diferente dos demias homens da família. Ele sonhava para si, sonhos calmos, sonhos modestos, não tinha essa ambição, não tinha sede de poder de mandos e desmandos. E seus objetivos, confrontaram os planos do pai, trazendo para Raul uma cólera absurda. Não poderia ter uma vírgula pelo caminho, quanto mais um ponto final. Julgava culpada Anice, sua esposa, pelos mimos excessivos que deu e dava ao rapaz, único varão concebido desse enlace, herdeiro que seria responsável por propagar o nome da família. O progenitor Rockefeller desconsiderada sua filha como propagadora do seu sobrenome de peso, afinal ela levava( e ainda leva) o sobrenome do marido, arrebentando com o seu , Matarazzo, não lhe soava bem aos ouvidos, mesmo que por parte destes obtivesse apoio incondicional em suas tramóias. Tantos foram os embates, muitos embates, com direito a troca de insultos e humilhações que o menino abaixou a cabeça. Se sentindo uma mera peça nesse jogo ao qual não tinha vontade de fazer parte, mas que foi incluindo ao simplesmente nascer. Era uma marca doída, ardida e um peso em seus ombros. Ah, o rapaz, encantado pelas noites raras, perdia horas vendo o bailado das estrelas deitado no gramado fresco da fazenda, uma linda e grande fazenda, produto de um acordo feito com seu pai. Seguiria os passos de Raul, mas queria a fazenda Bella Flor. Sim, Bella Flor, era algo que " namorava" há tempos, algo pelo qual criou amor. O jovem abortava seus sonhos, seus planos. Despedia-se da Agronomia, despedia-se das suas próprias vontades. Varuna passou a viver a vida em sua totalidade, mesmo que sendo domado por um cabresto curto. Os negócios escusos, antes uma sombra longínqua, agora são uma massa preta disforme, sempre presente. Por influência dos seus, não era mais tão inocente, estava maculado com as mãos atoladas no lodo até os punhos. Ele desempenhava um papel significativo no arranjo, com seus recém-completados vinte e oito anos, livre de amarras sentimentais, nunca provará de paixão alguma, tampouco escondia uma bela dama em seus coração. Varuna não gostava de nada daquilo, para ele o sabor cáustico sempre se fazia presente. Sendo cinzelado na mais rara beleza, fazia uso de sua aparência, provando e muito das luxúrias e volúpias da carne; uma necessidade do corpo, puramente físico que lhe fornecia altas doses de deleite, doce regalo do g**o e satisfação. Os dias passavam e as águas das vidas de todos estavam calmas; entretanto, um vento sudoeste sacudiu o mar, fazendo revirar as águas, levantando ondas e causando pânico. Algum aliado que se debandara para o lado oposto, resolveu tolher o avançar dos Rockefeller pelo ingrime caminho. Os atos sórdidos, as espurcícias, foram expostos para qualquer um, vieram ao conhecimento da massa, arranhando a imagem imaculada do clã. O problema maior é que quando se cai, nunca se vai só. É como um intrincado jogo onde peças de dominó são colocadas de pé formando uma bonita figura. Porém, se uma dessas peças se deita, as demais não conseguem permanecer em pé; todas despencam ao rés do chão. Descortinaram muitos, não eram mais incógnitos sem rosto ou nomes, reluziram demais e isso os enervou. Partiu de um grupo seleto as ameaças. Os problemas chegavam aos montes, batendo na porta dos Rockefeller, e junto com este vinha o medo. Começou, então, um bailado diferente, a segurança de todos os membros foram triplicada. A situação estava afunilando, queriam a veracidade dos fatos e comprovação. Raul as tinha, pedra no sapato de muitos, uma ameaça real e de proporção gigantesca. Brigavam para que o progenitor dos Rockefeller provasse a sua fidedignidade, era hora da escolha: queime-se ou deixe os outros queimarem. O senhor, trajando o seu mais caro terno e os seus mais brilhantes sapato, fez sua escolha. Os meios de comunicação explanaram aos quatro cantos as calhordices da cúpula e isso atingiu " gente grande ". A resposta por parte destes veio como um relâmpago despencando do alto céu, rasgando o ar e fazendo um estrondoso barulho. O clã Rockefeller despencou em puro nervosismo , o que afetou em demasia Varuna, que sentia-se sufocar no meio daquele epicentro de desgraça que ruia mais rápido do que um castelo de areia, causava-lhe repelões de nervos. Então, o jovem curvou-se ao descuido, longe das vistas de todos, transgrediu uma das muitas e novas normas de segurança da família: aventurar-se à própria sorte. Porém, Varuna ansiava respirar, sentir-se livre, despindo-se das muitas tribulações que lhe confrangiam a mente. Disparou pelas pistas, fugaz. Holambra gemia pelo rasgar dos ventos que o rapaz, de peito apertado e esmagado, fazia com o auxílio da máquina potente que pilotava. Em seu íntimo, tinha o desejo cru de desaparecer, sumir; ser engolido para outro mundo, um menos problemático. Todavia, o que conseguiu foi deparar-se com os que queriam manter seu pai, tio, primos e cunhado presos na gaiola invisível. Eram mensageiros incumbidos de passar um recado, aquele ferino e dolorido recado. O famoso: "Cale-se, vocês estão cruzando demais os limites". O âmago do infeliz rapaz lhe trouxe um sopitar. Vento frio na face não era mais um sinônimo de liberdade, mas um m*l presságio, um aziago que assoviava uma canção mórbida, funesta. O coração disparou dentro da caixa em seu peito à medida que seus olhos lhe deram conta de que era perseguido por dois veículos. Os automóveis negros como o céu da meia-noite, empreendiam em alta velocidade em sua traseira. Arrependimento? Era tarde para senti-lo. Se auto-repreender então, mais ainda. Varuna acelerou seu cavalo mecânico, pedindo tudo que a máquina podia lhe ofertar. Esta gemia agoniada, parecia ter sentido próprio, parecia pressentir e prever a desgraça eminete. A estrada antes desarta e larga, somente dele, ganhou mais usuários, ficou estreita, com carros vindo em direção oposta. Seu respirar ofegante, já não mais sentia, estava dormente, possuido pelo instinto de sobrevivência. Varuna conhecia as regras deles, conhecia seus modus operandi, onde uma boa conversa tinha uma conotação bem diferente do significado das palavras. Cada célula, cada fibra que o compunha estava dominada pelo aterramento e tudo foi ampliando ao ouvir sons de disparos. Sentiu um impacto na perna direita, algo que o fez perder o equilíbrio, o chão o amparou, não somente ele como a sua máquina veloz, fagulhas de fogo surgiram conforme o cavalo de metal deslizava no áspero asfalto, som estrídulo propagou-se, sobrepondo-se à sua dor de ter a carne castigada. Seu corpo fora lançado para baixo de um coletivo, um vazio coletivo, onde somente o motorista manejava e guiava o enorme veículo. Tudo não durou muito, o quanto ele queria, o grito não veio, ficou retido na garganta, assim como seus suspiros e respiros, ele sequer piscou; uma pressão veio por cima da sua cabeça desprotegida e tudo silênciou. Os Rockefeller foram cobertos pela seda escura do luto e o crepe da dor. As estrelas continuariam a bailar mais sem o seu amante para contempla-lás. A quem mais se descortinou as emoções das dores funestas foi a primogênita, aquela que chegou três anos à frente de Varuna a este mundo; Anick, delicada irmã de conditos maternais, rompia em soluços, em desepero, em remorso. Tudo nela doía no entanto era tarde demais. Aqueles que trouxeram a morte pela mão, os verdugos da breve existência de um jovem, tiveram êxito no seu intento; Raul travou sua língua com um freio forjado no sangue daquele que era o seu precioso, o seu diamante angular. A morte de Varuna se tornou um número qualquer somado aos demais, colaborando para o aumento da porcentagem em estatísticas. Afinal, acidentes de trânsito ocorre em qualquer parte, motociclistas sendo despedaçados aos bocados não é raridade. Possiveis testemunhas foram caladas ou negaram os esclarecimentos dos fatos, nada viram ou ouviram. Tudo isso sob a força de uma lei marcial que submete todas as pessoas a um regime especial, não que no caso fosse um decreto das leis constitucionais, mas no tempo em que estamos, outras leis valem ou equivalem muito mais. Ninguém quer liberar necrochorume. Misteriosamente, os escândalos foram silenciados, emudecidos e não era mais assunto principal; como se uma borracha mágica tivesse surgido e limpado as sujeiras. E, como em qualquer caso, um pobre coitado, fraco no sistema em que foi agregado, totalmente iludido, levou sobre si toda a culpa, arcando com todas as responsabilidades dos atos de terceiros. A famosa corda arrebentou, arrebentou nas duas pontas, onde numa se encontrava o tal sujeito desvalido e na outra Varuna, que pagou um preço bem maior por saber demais, pelos seus terem mais conhecimento do que deveriam. Os dias e as noites foram passando e se sucedendo um após o outro, dias e meses, e assim dois anos se passaram. Decorridos, arrastados entre as lágrimas dos Rockefellers e os buracos de solidão. A fazenda Bella Flor, lembrança viva do jovem Varuna nos tempos que gozava da vida, foi logo desmembrada dos bens da família. A bonita propriedade rural foi vendida, Anick não conseguia olhar para aquelas terras, via o irmão em tudo. A recordação do seu sorriso a esmigalhava a alma, lembranças frescas do seu jeito maroto, mulecote de brincadeiras, lhe amargava o paladar. Anick sabia que jamais iria ter aquilo outra vez. Anick, mais do que ninguém, sabia do amor que o irmão tinha por aquele pedaço cuidado de verde viçoso, ali em Bella Flor, seu irmão era apenas o Varuna, homem cheio de sonhos, muitos sufocados, jamais naquele lugar fora o herdeiro do legado Rockefeller. Assim, uma vida foi suspensa na face deste mundo. Assim, a vida continuou......
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