Térreo - 02

3451 Words
— Éramos da mesma sala... — Hannah admitiu sem muitas expectativas sentindo o seu estômago borbulhar. O rosto de Hélio se iluminou como uma lâmpada e ele sorriu abertamente, a pequena boca revelou todo um sorriso de orelha à orelha.  — Tá brincando? Nós éramos melhores amigos e vizinhos! Hannah sentiu outro solavanco no peito, aquele que a enganava lhe dando falsas esperanças. Tinha sido modéstia sobre a relação dos dois, pois não queria mais ser a pessoa empolgada com o que tinham. Vinha trabalhando pelos 15 anos passados a necessidade de soar indiferente e em alguns momentos até ser. — Você se lembra? Hélio sorriu mais ainda apreciando o rosto dela, os olhos grandes com pálpebras gordinhas, as bochechas macias que facilmente ficavam rosadas tanto com o frio como com o calor e a marca de nascença em seu queixo que o permitira identificá-la. Era mesmo a Hannah! Como ele nunca tinha percebido que ela estava bem ali, em sua frente, tão óbvia como sempre estivera quando eram mais jovens. — Como eu poderia me esquecer? — murmurou nostálgico suprimindo a vontade de abraçá-la. — Eu lembro de você me salvando daquele bicho esquisito quando éramos crianças. — Era só uma mariposa! — a mulher relembrou já meio amolecida. Foi assim que se tornaram melhores amigos. Hannah pegou a pequena mariposa que insistia em sobrevoar por ele e a soltou do lado de fora. Hélio a venerou por todo o tempo depois. — Então você sabia que era eu o tempo todo? — perguntou olhando para Hannah de forma que a constrangesse ao tentar manter o contato visual, pela falta de hábito. — Por que nunca me disse? Ela deu de ombros sem ter uma boa resposta. Afinal, não pensou que esse dia poderia chegar. — Achei que não fazia mais sentido lembrar daquela época. Afinal, você não me reconheceu... — pontuou. — Não te vejo faz tanto tempo, Hannah! — explicou condoído. — Eu desenvolvi alguns problemas de visão nesses anos e m*l enxergo de longe. Deveria usar meus óculos o tempo todo, mas já os perdi duas vezes. Então... — Tudo bem! — disse-lhe pronta para perdoá-lo. — Como poderia pensar que me esqueci de você? — Hélio soltou um suspiro aproveitando a circunstância para olhá-la tanto quanto pudesse. — Você era uma das pessoas mais importantes para mim, senão a mais. Hannah inalou o ar pesadamente. Ele sempre conseguia reconquistá-la inconscientemente com um mero sorriso ou uma palavra meiga. Hélio sorriu sozinho amortecido pelo momento e tendo boas lembranças do passado. — Você lembra daquela vez que nós matamos aula para tomar sorvete, mas esquecemos que a sorveteria era de frente para o trabalho da minha mãe? — comentou. — Ela descobriu e foi até lá brigar conosco, você quase chorou! — ela relembrou sem conseguir esconder o sorriso. — Eu fiquei de castigo por uma semana! Ele continuou sorrindo como se lembrasse de várias outras memórias deles dois, porque realmente se lembrava e vinha lutando para não esquecê-las. A Hannah era como sua outra metade da laranja e pelos 15 anos que passaram sem contato, ele achou que a tinha perdido. — Lembra daquela vez que uma garota me chamou para sair e eu quase não aceitei porque nunca tinha beijado alguém? Você me deixou te beijar só para saber se eu beijava m*l! — sussurrou para ela como se fosse um segredo. E realmente tinha sido, porque ninguém além deles soube do que aconteceu. Assim como Hélio também nunca suspeitou que tinha sido o primeiro beijo de Hannah, e ela ainda carregava na boca o sabor agridoce de amar e odiar aquele momento. — Lembro... — ela admitiu tentando disfarçar a raiva. — E você começou a namorar depois disso. — É. Graças a você! — ele suspirou olhando-a sério por um momento. — Não sei como paramos de nos falar. — A Vitória, sua namorada, não gostava de mim. Nos afastamos no último ano do ensino médio e perdemos contato depois da formatura! — Hannah respondeu com certa mágoa. Tinha lembrado e relembrado aqueles motivos tantas vezes até se odiar por ter sido tão passiva. Hélio assentiu com a cabeça sem ter noção de que aquela tinha sido a pior fase da vida da amiga. — Você também não apareceu na reunião dos ex-alunos... — comentou como se alguma coisa tivesse mudado naquele tempo. — Eu estava viajando! — ela mentiu. A verdade é que não tinha ido porque achava que aquelas reuniões serviam somente para os outros averiguarem o quanto os demais evoluíram desde o ensino médio, emocional e financeiramente. Hannah não tinha por que ir, afinal não tinha evoluído nada. Seu processo de evolução sempre foi mais lento do que o de todos. E também não fez questão de ir porque não queria vê-lo, o Hélio feliz e que não precisava mais dela para protegê-lo de insetos e compartilhar experiências secretas. — E seus pais me avisaram que você tinha se mudado... — comentou também. — Fui morar uns tempos na capital com a minha irmã assim que passei no vestibular! — ela disse metodicamente. Hélio não precisava ser atento para saber que parecia que ela só tinha criado barreiras entre os dois. — Senti sua falta todo esse tempo! — ele admitiu sentando-se no chão. — Estou muito feliz que tenha te encontrado novamente! Ela concordou silenciosamente se sentando ao seu lado e se perguntando se estaria mais aliviada se não tivesse segurado o elevador para ele ou se tivesse ido de escadas. Um minuto a menos e Hélio nunca saberia que ela era ela, e não teriam aquela conversa esquisita e nostálgica. Queriam dizer tantas coisas, perguntar, relembrar, mas as barreiras de 15 anos ainda estavam lá. Todo um muro de Berlim entre duas pessoas que se davam tão bem no passado, e com certeza não havia pessoas mais compatíveis do que Hannah e Hélio. Contudo, os tempos eram outros e o casal parecia ter perdido o tato para se darem bem. Hannah ainda estavam um pouco rancorosa. Ele disse todas aquelas coisas com um sorriso no rosto sem saber que a tinha machucado tanto sem perceber. Hélio já estava mais eufórico, porque sua vida só parecia fazer sentido com a presença dela. Querendo puxar assunto, ele estendeu uma bala de morango para ela e a encarou quando seus dedos se tocaram. — Minhas alunas me enchem de doces! — contou coçando a nuca depois que ela quebrou o contato rapidamente. — Às vezes, se acumulam na minha mochila e eu só percebo quando vou limpá-la no fim de semana. — Você é professor? — Hannah perguntou tirando a embalagem da bala. — De História! — sorriu e ela apreciou o ato. — Trabalho numa escola aqui perto. E você? — Sou fisioterapeuta dermatofuncional. Trabalho numa clínica no bairro de Cais! — Uau! — sorriu mais ainda. — Sempre achei que você fosse ser alguém importante. Eu acertei! Hannah sorriu um pouco com uma estranha vontade de chorar e estapeá-lo, dizer que nunca mais deveriam se ver novamente, ao mesmo tempo em que queria abraçá-lo, aspirar todo o tempo que estiveram distantes, sugar toda a energia que perdeu chorando por ele, odiando-o enquanto só poderia amá-lo. Mas ele continuava o mesmo. Além dos músculos desenvolvidos, as pernas mais longas e o maxilar definido, Hélio ainda era o seu amigo de infância. O único porém era que ela não gostava dele como amigo e teria sido mais simples se tivesse confessado antes. — Lembra da sua admiradora secreta? — tomou um fôlego e perguntou de repente trazendo seus olhos para ela. — Impossível de esquecer! — ele mastigou a bala que estava na boca antes de continuar. — Nunca descobri quem era. Hannah engoliu a verdade secamente. A admiradora secreta era ela. Ela era a garota que enviava cartas de amor para ele por não conseguir dizer cara a cara. Era tão óbvio que se sentiu patética por ele não ter descoberto. Ela deixou a bala de morango se dissolver lentamente na língua, aproveitando o açúcar assim como queria aproveitar aquele momento com o Hélio. — Achei que fosse a Vitória, porque ela tinha pedido para sair comigo... — confessou olhando para as mãos nervosas de Hannah. — Mas eu percebi que não poderia ser ela. Claro que não poderia, a mulher pensou. A Vitória não faria paráfrases de poemas de amor, porque não gostava de poesia, preferia prosa. Todo mundo da turma sabia disso. — Por que não? — Hannah perguntou curiosa pela resposta que deveria ter sido tida no ensino médio, não 15 anos depois. — A minha admiradora secreta parecia me conhecer bem! — Hélio foi sincero. — Com o tempo, eu percebi que a Vitória não sabia metade das coisas sobre mim e que ela só estava tentando provar alguma coisa a si mesma. Por fim, ela estava tão perdida naquele relacionamento quanto eu, e terminamos. — Sinto muito por isso! — ela realmente sentida por ele. Hélio tinha um coração muito bom para ser tratado assim. — Tudo bem. Foi logo depois da formatura! — sorriu como se não doesse mais. — Me arrependo um pouco de não ter procurado pela minha admiradora com mais afinco, acho que estive enganado sobre meus sentimentos. Hannah só conseguiu dar um sorriso fechado e concordar. Patética e melancólica. — Acho que perdi a oportunidade de namorar alguém legal! — Hélio disse com um sorriso triste. — É... — ela respondeu baixo sem ter coragem de se anunciar. — E você? — olhou-a com interesse. — Namorados? Maridos? Filhos? — Nunca me preocupei muito com isso! — disse brincando com a embalagem do doce. Ela ainda não tinha superado o primeiro amor, mas não tinha coragem o suficiente para se declarar. Na verdade, com o tempo tinha perdido a empolgação. Acostumou-se a amá-lo em segredo e para pessoas medrosas como Hannah, costuma ser bem difícil correr riscos, sair da zona de conforto, denunciar a própria posição, e esperar pelo ataque. — Deveria tentar. Você sempre foi muito amável! Fará qualquer pessoa feliz! — Hélio disse com um sorriso genuíno, fazendo com que Hannah ficasse ainda mais magoada. E com aquele comentário, a conversa pareceu morrer de novo. Tudo o que ouviam eram as próprias respirações naquele cubículo de metal iluminado por um flash. — Minha mãe ainda pergunta sobre você... — ele puxou assunto novamente. — Sério? — Sim. Você era a única garota que ela deixava entrar no meu quarto, lembra? Hannah deu uma risadinha fraca. Tudo se devia porque as mães deles se conheciam. Hannah e Hélio cresceram juntos na vizinhança e na escola. Mas a mãe dele nem imaginava o que aconteceu numa tarde depois da escola. Ela nem suspeitava que tinham se beijado no quarto dele, em cima de sua cama com lençol de foguetes. Aquela lembrança era tão controversa e Hannah ainda não tinha decidido se gostava dela ou não, mesmo depois de anos. Ela olhou seus lábios um pouco ressecados e suspirou sabendo que tinha sido a primeira a beijá-lo. Instantaneamente, ambos sentiram que estavam voltando para aquela época, para aquele dia em especial. Ela tinha chegado da escola e estava no banho quando sua mãe disse que Hélio tinha passado ali querendo vê-la urgentemente. Hannah se lembrava de ter achado graça, porque seu amigo costumava criar urgências que poderiam esperar. Mas naquela época ela já era louca por ele, quer dizer, nem se lembrava quando se apaixonou. Às vezes, parecia que tinha nascido com aquele sentimento, mesmo sabendo que não era possível. Então, não mediu esforços para cruzar o muro que separavam as casas. Hélio estava impaciente e nervoso quando ela entrou em seu quarto, depois de cumprimentar sua mãe que só sorriu e acenou enquanto assistia à programas de culinária na TV. — Hannah! — ele a puxou para dentro assim que ela bateu na porta. — Estou encrencado! — Você mexeu no escritório do seu pai de novo? — a garota perguntou se sentando sua cama dele e mexendo na gola de uma blusa que estava lá. — Não tão encrencado como isso, mas estou. — ela o incentivou a falar com um olhar. — A Vitória me convidou para sair, ir ao cinema... — Hum... — tentou não demonstrar nenhuma expressão. — E você vai? — Não sei. Eu deveria ir?  Mesmo que quisesse dizer que não, não tinha justificativas para aquela resposta, além da própria declaração. Por isso, deu de ombros olhando para as mãos.  — Ela é bem bonita, não é? — Hélio tentava se convencer impaciente. — Tem olhos grandes e um cabelo bonito! Hannah concordou com a cabeça sem conseguir ser sincera. — O que você acha? — ele perguntou se concentrando nela. — Ah, Hélio, isso não depende da minha opinião! — soou um pouco rude. — Se quiser ir, vá. Se não quiser, não vá. Mas não tem problema não ir. — Você acha? — insistiu duvidoso. — Mas acho que ela ficará magoada se eu não for. Também acho que ela é minha admiradora secreta! E parte do mundo de Hannah se desfez naquele momento. — Por que você acha que é ela? Ele piscou os olhos algumas vezes tentando formular melhor a resposta. — Bem, têm meses que estou recebendo essas cartas adoravelmente bonitas e, então, ela me chama para sair. Quer dizer, por que outro motivo a Vi me chamaria para sair se não fosse minha admiradora secreta?  Hannah segurou um suspiro e se concentrou no tecido que brincava em suas mãos, incapaz de ser honesta depois de ele estar criando grandes expectativas com uma garota que era muito mais bonita do que ela. —  Então vá! — murmurei. —  Tem outro problema... — respirou fundo e ela o encarou já meio farta. — O Bruno me falou que será o melhor momento para beijá-la. Disse que é o que os casais fazem no cinema! Ela tossiu para disfarçar um resmungo de frustração. Queria pontuar que não fazia sentido pagar ingressos e pipoca para passar o filme em ósculo profundo. —  E qual o problema? — perguntou a ele se segurando para não desfazer a costura da blusa devido às mãos nervosas. —  Nunca beijei alguém... —  disse desconcertado. — Acho que posso fazer alguma coisa errada. —  Acho que não há nada de tão errado que você possa fazer... — respondeu fazendo seu papel de melhor amiga e trouxa. —  Você acha? — ela assentiu. — E o que eu faço? —  Só beija ela! Dizem que primeiro beijo com a pessoa certa é perfeito, tudo se encaixa bem... — murmurou como se entendesse do assunto. —  Tá! — Hélio falou claramente nervoso. — E se eu não for o cara certo para ela? Hannah revirou os olhos minimamente enquanto via o amigo se martirizar. Quis dizer que ele não era, até porque Vitória já tinha beijado metade dos meninos da turma, só o Hélio não sabia. —  Tenta se acalmar! — puxou ele para se sentar na cama ao seu lado. — Respira ou você vai dar um treco e vou ter que contar o motivo para sua mãe. É só um beijo, Hélio. Se não for bom, você tenta de novo.... Aquele dia entraria para a lista de piores dias da vida de Hannah. Ela se odiaria por muito tempo por aconselhar o cara de que gostava sobre como beijar outra garota, quando ela mesma sequer fez isso. —  Posso tentar de novo? — Hélio perguntou a olhando, hesitante. —  Acho que sim! —  Acho que vou fazer tudo errado, Hannah! — choramingou cabisbaixo. A garota suspirou sem saber como consolá-lo, incapaz de consolar a si mesma. —  Você quer mesmo sair com ela? — perguntou alisando seu ombro e sentindo o coração doer quando ele afirmou. — Então, você só precisa se aproximar e beijá-la. É simples! Simples como nos filmes de romance. Hélio a olhou sendo invadido por um milhão de pensamentos esquisitos de que nunca tivera na vida. — Eu posso? — perguntou se aproximando de Hannah. Não sabendo do que ele estava falando, a garota apenas assentiu com a cabeça hipnotizada com aquele momento, aquela proximidade sem perceber que não falavam da mesma coisa, e que a permissão que estava sendo dada machucaria depois. Hélio a beijou de repente. Hannah não teve tempo de reagir ou de fechar os olhos, porque ele se afastou no mesmo segundo. Suas bochechas estavam quentes quando ele a olhou novamente e seus lábios estavam brilhando por causa do brilho labial de morango que a garota usava. —  Muito r**m? — perguntou com o nariz torcido. — É, não... — gaguejou ainda estatelada. — Mas acho que a Vitória vai querer algo a mais e talvez você devesse escovar os dentes para isso. Ela pode não gostar de pizza de calabresa. Ele riu antes de ir até o banheiro para escovar os dentes. Foi o mesmo para Hannah sentir a alma sair do corpo pelo recente acontecimento. —  Queria que todas as garotas fossem como você! — Hélio falou voltando ao quarto e enxugando a boca. — Que não se importam de dizer que meu hálito tem cheiro de pizza. —  Deve ser porque somos muito íntimos! — ela respondeu com certo ênfase numa mensagem subliminar que ele não desvendaria. —  Posso fazer de novo? — pediu sentando de frente para Hannah. — Ainda tô inseguro. Com certeza ele não sabia que não deviam estar fazendo aquilo quando ele estaria saindo com outra garota algumas horas depois. Mas Hannah queria beijá-lo de novo, uma última vez até ele não precisar mais da sua boca como experimentação. Timidamente, acenou e ele sorriu antes de se aproximar mais uma vez para beijá-la. E a experiência foi completamente diferente e alucinante, com a boca aberta e as mãos nos ombros dela, enquanto Hannah não sabia onde segurar. Abriu a boca também para ter mais contato. Não tinha problema se desse errado com ela. Foi o primeiro beijo de verdade de ambos e eles rimos quando se separaram entre saliva demais e Hélio todo sujo de batom. Hannah nunca poderia esquecer de que gostou de beijá-lo, mesmo que tivesse sido estranho, molhado e que seus dentes tenham se batido em algum momento. Ela gostou de ter sido a primeira dele. Aquilo não criou um clima estranho entre ambos, porque era como se estivessem brincando como sempre. Na mesma noite, depois do encontro, Hélio ligou para o telefone fixo da casa dela para contar que estava namorando. Hannah chorou tanto que não conseguiu ir à escola no dia seguinte, pois parecia gripada e com conjutivite. *** Os dois adultos presos no elevador voltaram para o presente como se tudo tivesse acontecido no dia anterior. —  Ela não me via como uma ameaça para você... — Hannah respondeu voltando a falar sobre a mãe dele. Hélio fez uma careta sorrindo logo em seguida.  — Ela chegou a me dizer que eu deveria namorar contigo, porque as outras pessoas seriam más comigo e você não. Ela precisava concordar, afinal nunca tinha sido malvada com o Hélio, nem quando ele a convenceu a andar de skate uma vez e isso resultou em alguns pontos no queixo por ter tropeçado nos próprios pés na hora de pegar impulso e ter caído de cara no chão. Hannah divagou entre pensamentos sentada no chão frio do elevador enquanto Hélio tagalerava sobre suas brincadeiras de infância. O tempo sempre passava rápido quando estavam juntos e não foi diferente depois de tantos anos. Em algum momento, a luz acendeu e o elevador chegou ao térreo sem demora. Hélio a ajudou a levantar. O precioso tempo deles dois tinha acabado. Usaram as escadas só por precaução. Hannah queria ficar mais tempo com ele, mas ainda precisavam viver as próprias vidas porque o passado tinha ficado lá atrás, no elevador. Hélio colocou seu número na agenda dela e como seu celular estava descarregado, ela anotou num pedaço de papel. —  Vamos recuperar o tempo que perdemos, Hannah! — disse a ela quando chegaram em frente aos apartamentos. — Hoje eu tenho um compromisso, mas eu vou te ligar amanhã. Você está livre amanhã? —  Estou! Pode me ligar. Trocaram mais alguns sorrisos antes de entrarem. Hannah só conseguia pensar que finalmente ele tinha notado-a e sorriu lembrando de como Hélio tinha dito que sua boca era doce depois do primeiro beijo e em como ela guardou aquele brilho labial por muito tempo mesmo sabendo que não o beijaria novamente até que o produto passou da validade e sua mãe jogou fora sem que ela visse. Hannah teria guardado só para lembrar daquele momento precioso.
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