Capítulo 02 Ferradura

1361 Words
Ferradura Narrando O ronco do motor se misturava ao grito da sirene se aproximando. Os bota já tavam na minha cola. — ACORDA, PØRRA! NÃO APAGA AGORA! — Rosnei, sacudindo a mina pelo braço. Ela resmungou, a cabeça pendeu pro lado. A p***a do sangue dela escorria pro banco. Peguei o radinho no painel, a mão suando, o peito batendo forte. — Coruja, me dá uma saída, caralhø! Tô com um bagulho aqui e os bota no meu cangote! O radinho chiou antes da voz dele explodir: — Segue reto, não entra na principal! Tem viatura cercando! — Coruja soltou com a pørra da voz falhada. Merdä. Joguei o carro pra direita, cortando por uma rua estreita. Pneus cantaram, vidro rachado, mina gemendo do lado. O espelho refletiu as luzes azuis e vermelhas piscando na esquina. A p***a dos bota não iam largar do meu pé. — Quem é essa mina, chefe? — Coruja perguntou no rádio. — Não faço ideia, irmão! Peguei no restaurante, tava na merdä! — Esquerda na próxima! Vai jogar na zona morta, aqui a rádio dos cara não pega! — Gafanhoto entrou na frequência. Pisei no acelerador, sentindo o motor urrar. O carro pulou num buraco, e a mina soltou um gemido fraco. — Fica comigo, pørra! Não dorme, caralhø! — Segurei o volante com uma mão e dei uns tapas de leve no rosto dela com a outra. Os olhos abriram, vidrados, assustados. — Q-quê... onde... — A voz dela era um fiapo de ar. — Depois a gente troca ideia, agora só respira e não desmaia nessa pørra! O radinho estalou de novo: Rádio On Coruja: Ferradura, tão vindo de moto na tua cola! Olhei pelo retrovisor e senti o sangue ferver. Três bota em cima de moto, engatilhados, mirando no meu vidro traseiro. — Filho da püta! — Eu rosnei, jogando o carro de lado. O vidro de trás espatifou, a bala passou zunindo, pegando no painel. A mina gritou. — SEGURA ESSA MERDÄ! — Pisei no freio e puxei o volante, o carro cantando pneu, girando seco. O motoqueiro mais perto não conseguiu desviar. A moto bateu na lateral e voou pro alto. O bicho se estabacou no asfalto. Os outros dois desviaram e voltaram a acelerar. — Gafanhoto, tem um jeito de me tirar dessa pørra ou eu vou ter que derrubar esses filha da püta?! — Acelera, pørra! Dois quarteirões à frente, dobra na ruazinha do ferro-velho! Pisei até o talo. O velocímetro bateu no limite. A picape rugia, os faróis cortando o escuro da madrugada. A mina respirava pesado, tremendo. — Aguenta firme, já tamo chegando no fim dessa merdä! Vi a entrada do ferro-velho, mas os bota ainda tavam vindo. — CORUJA, É AGORA OU NUNCA, PØRRA! De repente, um estrondo. Uma van preta atravessou a rua do nada, fechando os bota. Coruja e Gafanhoto desceram metendo bala. — BORA, CHEFE! A PISTA DE VOO TÁ TE ESPERANDO! Joguei a picape pra entrada do ferro-velho, cortando caminho pro avião. A fuga tava só começando. A pørra da sirene parecia grudar no meu cérebro, cada vez mais alta, mais perto. Os bota não desistiam, tão na caça mesmo. A mina respirava rápido do meu lado, os olhos arregalados, vidrados na pørra toda. — Vai dar merdä, vai dar merdä! — Ela começou a murmurar, a voz fraca, mas desesperada. — Cala a boca e segura! — Rosnei, a mão firme no volante, o pé socado no acelerador. Foi quando os tiros voltaram a zunir. — CARALHØ! — Berrei, jogando o carro pro lado. Os bota abriram o dedo de novo. O vidro do passageiro estourou. A mina gritou e se jogou no assoalho, praticamente se enfiando debaixo do banco. — Pørra, fica abaixada! — Falei entre os dentes, segurando o carro no tranco. Os estilhaços voaram no meu braço, queimando a pele. O radinho chiou: — Ferradura, Dobra à direita! Føde com esses filha da p**a! — Coruja berrou do outro lado. Vi a entrada da ruela estreita e meti o carro sem dó. O asfalto virou barro, pedra voando, carro pulando. Os bota hesitaram. — SE FØDE, SEUS FILHA DA PÜTA! — Rosnei, sentindo a adrenalina explodir. A mina gemia no chão do carro, tremendo, respirando rápido. — Aguenta, pørra! Tá acabando! O radinho pipocou de novo: — Chefe, pista de voo na reta final! Última curva, bora! Joguei a picape na curva, o motor gritando, as luzes da pista surgindo na minha frente. Agora era vida ou morte. O choro da mina começou baixo, meio abafado, mas depois virou soluço desesperado. Ela tremia tanto que parecia que ia desmontar ali mesmo. — Cala essa boca, pørra! Segura firme! — rosnei, mas minha voz saiu mais nervosa do que eu queria. O flash veio sem aviso. Minha irmã... O rosto dela. O sorriso. O sangue..... Não. Agora não. Balancei a cabeça com força, negandø, espantando aquela merda. Não era hora pra isso, c*****o! As mãos suavam no volante, os olhos piscando rápido, tentando focar na pørra da estrada. Mas os gritos da mina misturavam com os ecos dos sonhos.... O cheiro de pólvora virou cheiro de queimado. A pørra do restaurante pegando fogo? Não. Era outro incêndio. Outra lembrança. Outra merda na minha cabeça. — Caralhø, NÃO! — urrei, sacudindo a cabeça de novo. Foi aí que a picape derrapou. As rodas cantaram, o carro deslizou de lado, poeira e pedra voando.... Olhei pelo retrovisor e a cena era de guerra. Cascata de carro virado, fumaça preta subindo, poeira engolindo tudo. — Toma no cü, otáriø! — gritei, vendo os bota atolados na própria merdä. Na frente, o jatinho já tava ligado. O coração martelou no peitø. Era agora ou nunca.... O radinho chiou no meu ouvido. Rádio On Gafanhoto: Vai, caralhø! Dá o bote! A gente tá na contenção! — Gafanhoto gritou. Coruja veio na mesma pressão. Coruja: Bora, chefe! Tropa tá segurando os bota, mas não vai durar muito! Desci da picape num pulo, o barulho dos tiros ainda ecoando atrás. Abri a porta do carona com pressa, meus dedos sujos de sangue escorregando na maçaneta. A mina tava toda encolhida, os olhos arregalados, tremendo igual vara verde. — Vem cá, pørra! — resmunguei, pegando ela no colo. No mesmo instante, ela agarrou meu pescoço.... Os braços dela apertaram forte, as unhas fincando na minha pele... E então ela afundou o rosto no meu peito. A voz dela veio baixa, mas cada palavra bateu como um grito de socorro: — Eu não... Eu não quero morrer... Não me deixa morrer... — Meu peitø apertou. A p***a de um nó se formou na minha garganta, mas eu engoli aquela merda. Aqui não tem espaço pra fraqueza. Encostei o queixo na cabeça dela, sentindo os fios bagunçados roçarem meu rosto. — Ninguém põe a mão em tu sem passar por mim. — E sussurrei, firme, como se fosse uma promessa gravada na pørra do concreto. Apertei o passo em direção ao jatinho, Coruja e Gafanhoto fazendo a cobertura. — Vai, Ferradura, caralhø! Embucha essa mina logo nessa pørra e mete o pé! — Coruja urrou. Subi no jatinho com o coração na boca. — Levanta voo, caralhø! AGORA! — gritei pro piloto, que já tava na pressão, os motores roncando forte. A pørra do barulho das sirenes ainda martelava na minha cabeça. Coruja e Gafanhoto tavam lá fora, garantindo que ninguém chegasse perto. Os bota tavam vindo com tudo. Me inclinei pra deitar a mina na poltrona, mas ela segurou meu pescoço firme. Os dedos dela tremiam, mas o aperto era de desespero puro. — Eu não consigo… Eu não consigo… Por favor, não me deixa… — a voz saiu num sussurro, mas a dor no tom dela me atingiu mais forte que qualquer bala. O rosto dela tava banhado de sangue, misturado com sujeira, suor e lágrimas.... Meu peitø pesou. Respirei fundo, tentando manter a cabeça no lugar. Não era hora de travar. Sem pensar muito, me joguei na poltrona com ela agarrada em mim. — Tu tá segura, pørra. Eu tô aqui. — Ela não respondeu, só afundou ainda mais o rosto no meu peitø... Continua.....
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