Soltei um gemido e bati a mão no meu despertador.
São oito da manhã, mas sinto como se tivesse sido atropelada por um caminhão na noite passada e sobrevivido.
É melhor eu conseguir esse maldito emprego.
Pulei da cama, tomei um banho rápido e coloquei uma blusa branca folgada com um decote discreto, além de uma saia azul-marinho logo acima dos joelhos com uma pequena f***a.
Estou parecendo bem profissional para um look que escolhi no meio da bagunça do meu armário.
Escolhi algumas sapatilhas nude porque saltos são irritantes, e ninguém pode me fazer mudar de ideia quanto a isso.
Comi uma barra de granola antes de sair do meu apartamento às oito e quarenta e cinco.
O endereço no cartão de visita fica só a uma esquina de distância, por isso estava tranquila em relação ao horário.
Hoje, decidi pegar o elevador até a entrada principal e depois caminhar.
Apertei o botão e esperei até as portas se abrirem e entrei, selecionando o térreo.
Esse edifício de apartamentos é um dos mais chiques de Nova York, e eu tive sorte de conseguir convencer mamãe e papai de que não precisava de nada mais luxuoso. Eles ficaram me perturbando dizendo que era melhor estar em um lugar mais seguro e blá, blá, blá.
Esse edifício é perfeito, mas ainda tem a aparência de “sou uma garota rica que gosta de gastar o dinheiro do papai”.
Sim, eu recebo olhares das pessoas quando saio do prédio, mas já me acostumei. Eu não fico ostentando dinheiro e nem nada do tipo, então, minha consciência está limpa.
Quando cheguei no térreo, dei um sorriso e um aceno para as pessoas da recepção antes de sair do prédio.
Mas, no instante que piso na rua, sou imediatamente cercada por homens de terno.
Droga. Esqueci completamente que eles estavam me seguindo!
Dei um sorriso tímido para Luca, que está na minha frente.
“Olha, eu falei com meu pai e entendi que vocês precisam ficar de olho em mim, mas tenho uma entrevista daqui a quinze minutos e não quero causar má impressão com vocês me seguindo de perto.” Disse com o máximo de educação que consegui reunir.
Para meu alívio, Luca concorda com um aceno, entendendo.
“Vamos te levar para a entrevista e esperar do lado de fora.”
Estou prestes a abrir a boca em protesto até perceber que não adianta, Luca e seus homens estão apenas fazendo o trabalho deles.
Sigo Luca e os outros homens até um SUV preto, o mesmo que vi me seguindo outro dia. Dou o endereço ao motorista e, em dois minutos, estou de frente para o prédio intimidador que parece ter pelo menos cem andares de altura.
Respiro fundo e entro pelas portas giratórias de vidro.
Vou para a recepção e dou um sorriso para a recepcionista. Ela é linda, como uma modelo. De repente, me sinto tão pequena comparada a ela.
“Olá.” Eu a cumprimento. “Sou a Mila e estou aqui para ver...”
Ai meu Deus, eu nem verifiquei o nome do cara! Rapidamente olho o cartão de visita.
Matteo Giovanni.
Bem, esse cara com certeza é italiano.
Fico imaginando se ele é bonito...
“...O Sr. Giovanni, para a entrevista...” continuo, após ver o cartão, desejando que não esteja tão desajeitada quanto pensou que estou.
“Sim, ele está esperando você no 82º andar. Aqui está um crachá de visitante que permite temporariamente o uso dos elevadores. Traga de volta quando terminar. Tenha um bom dia.” Ela me entrega o crachá e eu agradeço, indo em direção ao elevador.
Entro com mais três pessoas e encosto o crachá em um leitor, apertando o botão para o 82º andar. Meu nervosismo está começando a me dominar, e eu sinto minhas mãos começarem a suar.
Dentro de um minuto, sou a última a sair do elevador.
Logo, entro em uma bela e ampla sala de espera com janelas gigantes com uma vista privilegiada para a cidade de Nova York. É uma vista que qualquer um morreria para ter.
Vou até uma mesa onde vejo outra recepcionista impecável digitando rapidamente em um teclado.
“Oi, eu...” começo, mas sou interrompida pela mulher.
“Olá, sim, sim, acabei de ser informada da sua chegada. Por favor, o Sr. Giovanni está esperando ali naquele corredor à direita. Boa sorte.”
“Oh, certo, obrigada.” Digo, seguindo na direção que ela apontou.
Isso foi estranho, ela parecia um pouco preocupada. Será que não pareço adequada? Meu Deus, o que estou fazendo aqui mesmo?
Antes que eu percebesse, cheguei na porta de vidro fosco, que só permitia ver a forma inquieta de um homem lá dentro, gritando no que achei ser o telefone. O som é muito fraco, mas me aproximo e ouço melhor.
“Uccidi il bastardo, non mi importa più dei soldi, lo voglio solo morto. Riporta immediatamente la sua testa nel mio ufficio. (Mate o bastardo, eu não me importo mais com o dinheiro, só quero ele morto. Traga imediatamente a cabeça dele para o meu escritório.)”
Eu dou um passo para trás, levando a mão à boca. O que diabos eu acabei de ouvir? Isso é uma brincadeira ou é real?
Me aproximo mais da porta com cuidado, continuando a ouvir a conversa.
“No, ho um’intervista tra um minuto com uma ragazza stupida che Dante pensava fosse sexy. (Não, tenho uma entrevista daqui a um minuto com uma garota estúpida que Dante achou sexy.)”
Merda! Eu devia ter percebido que Dante não foi simpático comigo por causa dos idiomas que eu sabia.
Como eu pude ser tão ingênua? Porque eu achei que alguém me convidaria para uma entrevista tão fácil sem segundas intenções?
Eu me apoio mais na porta.
“Tagliagli la testa mentre è ancora vivo, voglio che soffra. (Corte a cabeça dele enquanto ele ainda está vivo, quero que ele sofra)”
Dou um grito quando a porta de repente se abre e eu quase caio de cara no chão. Não me dei conta que a porta estava um pouco aberta e que o peso do meu corpo a abriu, sem querer.
Foi então que percebi, eu estava em apuros.