Luiz Cabello
Sábado/Domingo
Já estava tudo pronto para que possamos – eu e Bia– irmos para o Brasil. Eu ficaria na casa dos donos da agencia até o dia em que completasse 18 anos e depois ir morar sozinho com Bia. Meus pais não iriam, tiveram o visto negado três vezes seguidas, e decidiram esperar. Eles queriam, de alguma forma, acompanhar de perto meu processo, minha evolução e minhas conquistas.
Queria tê-los ao meu lado, no Brasil. Queria ter a quem recorrer caso algo desse errado, ou não saísse como o planejado.Já que, Bia se apoiaria em mim, e me usaria de pilastra, mas quem eu iria usar como a minha? Quem eu poderia contar nas horas mais complicadas, ou quando sentisse medo?
Respirei fundo, evitando que pensamentos negativos se apossasem de mim. Esse não é o momento certo para isso, Luiz!
As malas estavam prontas, Bia estava ansiosa. E eu? Bom, eu estava mais nervoso ainda, nunca havia saído das Filipinas, ainda mais sem meus pais. A sensação é estranha, não é total independência, mas mesmo assim me dá um aperto no coração. Medo de não ser suficiente e falhar.
Andava de um lado para o outro no chão do aeroporto. Pera, isso rimou.
Bia estava sentada numa cadeira enquanto saboreava seu lanche. A mesma havia ficado sem comer em casa, não conseguia conter sua ansiedade, não sabia como era mais viver no Brasil, mesmo que todas as memórias que tinha lá eram ruins. Bia é uma garota forte, independente, inteligente e sempre ajuda quem precisa. Sua voz sempre carrega um tom meigo, mesmo sendo tão intensa.
-- Vai acabar fazendo um buraco no chão se continuar andando desse jeito. – ela diz e depois morde um pedaço de seu hambúrguer, deixando um rastro do molho no canto da boca. Uma criança
-- Tá demorando demais! – digo passando as mãos em meus cabelos. – não vão chamar nosso voo não?? – pergunto me sentando
-- Luiz, nós estamos 2 horas adiantados, fica "susa"! – ela disse e bebe um gole de seu suco de morango. Ela ama morango. Amava mais ainda usar palavras e gírias que sabia do português. A mesma havia me ensinado várias coisas do idioma, até mesmo as gírias e as abreviações, fiquei fluente graças a ela.
-- Me dá um pedaço?? – me refiro ao lanche dela, a mesma n**a e, mesmo assim mordo um pedaço – nada m*l – falo todo desajeitado com a boca cheia. Consigo escutar Bia resmungar indgnada, ao ver o pedaço que havia tirado do lanche.
[...]
As 2 horas se passaram e estávamos embarcando, eu estou saindo das Filipinas. E foi ali que a ficha caiu, eu não teria meus pais comigo, me ajudando,ou cuidando de mim, teria que fazer de tudo para ser o mais responsável possível. Seria uma tarefa difícil, mas tentarei a todo custo enfrentar tudo de cabeça erguida. Irei faezr todos se orgulharem de mim.
Farei meu nome ser lembrado.
Sentei na minha poltrona ao lado de Bia, do lado do corredor, já que a mesma insistiu em sentar do lado da janela. Encostei minha cabeça em seu ombro e adormeci.
[...]
Acordei algumas horas depois com Bia dizendo que já havíamos chegado. Meu coração acelera, e pude sair do avião muito empolgado. Até que enfim, em solo brasileiro. Uma lufada de ar quente, seguido por um vento gelado se chocou contra meu rosto, mesmo com o calor,estremeci de frio. Agora eu tinha uma Bia grudada em meu braço esquerdo.
Nos aconchegamos em um hotel, já que os donos da agencia pediram para esperarmos até o dia do jantar para quê, os filhos deles poderiam nós conhecer melhor! Conseguimos fazer todo o cadastro naquele grande prédio confortável. Entramos no elevador e seguimos para o 12º andar, onde se localizava nosso quarto. Depois de umas duas paradas no meio do caminho, chegamos no nosso andar, seguimos para o quarto B154, abrimos a porta escura com a chave.
O quarto era revestido com paredes brancas e cinzas, haviam duas camas de solteiro. Lustres, abajur, flores brancas. Uma televisão se apossava da parede a frente das camas, um guarda roupa ao lado da porta, e um banhiero a frente do armario.
Nossas vagas já estavam feitas em uma das melhores escolas daqui do Rio de Janeiro. E pra falar, aqui é muito quente, não sei o porquê de termos pegado tanta blusa de frio. Demoraria pra me acostumar com tudo isso.
segunda-feira
Acordo as 5:30am e vou correr um pouco, coloco uma roupa preta, meus fones e saio do quarto, eu voltarias as 06 horas!
Ao sair do hotel, percebo a beleza desse lugar que não havia reparado antes, as arvores eram verdinhas, as gramas também. Mas, ao andar um pouco vejo um morro bem distante cheio de casas tumultuadas, eram isso que chamavam de falevas, filevas, farofa, aaah favelas , lembrei .
Fiquei refletindo sobre isso e, quando percebi já eram 6:05, voltei correndo para o hotel. Ao chegar no quarto acordei Bia, tomei banho, me arrumei e esperei ela. Quando ela ficou pronta, descemos, tomamos e café e seguimos para a escola.
Ao chegarmos na escola, todas as garota nós encaravam e davam longos suspiros.
-- Vamos rápido, vai saber se essas garotas não vão voar em você – Bia disse e fomos para a diretoria correndo.
Ao chegarmos lá fomos bem recepcionados, descobrimos as regras, e pegamos o número das salas. Que maravilha, eu não estaria na mesma turma da Bia, já que a mesma vai para o 2º e eu, para o 3º.
Me despido da minha princesa, que estava com uma carinha bem triste, ela não é de fazer muitas amizade. Dou-lhe um abraço e saio em direção a minha sala, eu estava tão perdido olhando para a escola – brisei – que acabou me esbarrando em alguém
-- olha pra onde anda, garota! -– digo.
-- eu não disse que ele saia esbarrando em todo mundo – uma morena que estava ajudando a garota a se levantar disse. – garoto, eu te odeio mais que água.
-- Sabri, menos – a loira disse.
-- Vamos logo, estamos atrasadas – a garota que esbarrei disse. – espero que não saia esbarrando em todo mundo assim, vai acabar arranjando briga, e via por mim, não é muito agradável brigar logo quando chega na escola.– ela disse e sai com as garotas.
"Que garotas bonitas" penso enquanto vejo a mesma se distanciar. Depois que ela some de minha visão, corro para minha sala.