Capítulo 2
993 Words
RAFAELA
Mirela rabiscou a parede usando uma caneta que achou jogada, escrevendo palavrões, deixando a parede ameaçadora pro canalha.
Eu demorei pra pegar no sono.. preferia o barraco minúsculo que a gente tava.
Acordei, me sentindo observada. Abri os olhos vendo um moreno, baixinho, o cabelo loiro tingido, o tal Dudu.
Rafaela- Tá doido?
Dudu- Chefe mandou não tirar os olhos de ti. Estou fazendo meu trabalho, você dorme como um gato, até fica se encolhendo. - deu risada.
Olhei em volta e a Mirela não tá aqui.
Merda, tô sozinha!
Rafaela- Cadê a Mirela?
Dudu- A louca saiu com o Souza pra boca, sou tua baba, ganhei promoção sabe?
Revirei os olhos.
Levantei vendo o que vou vestir.
Rafaela- O banho.
Dudu- Só quando o chefe deixar.
Vadio!
Rafaela- Vira de costas, vou me trocar.
Dudu- Usa a blusinha preta, combina com teu cabelo, cê é natural?
Rafaela- Claro!
Ele virou e ficou assobiando.
Me troquei o mais rápido que pude.
Quando sai do lugar, a v***a da Elena tá de biquíni andando pelo barraco, uma tatuagem enorme na verdade as letras soletradas no pé da barriga.
Souza
Elena- A laje tá liberada, Dudu?
Dudu- E eu sei? - deu de ombros indo pegar duas bananas.
Elena- Fica de olho nessa coisa falsa, até os olhos devem ser lentes. E tu florzinha vai lavar minhas roupas!
Saiu com a b***a que ela tem, duas azeitonas.
Rafaela- Tô com fome.
Dudu- Eu também, pega, usa as mãozinhas. - riu da minha cara.
Enquanto ele tá acabando de comer bananas, fiquei sem nada.
Peguei pão, passando manteiga, mordendo com tanta vontade.
Nunca um pão foi tão precioso pra mim.
Ainda tomei Nescau.
Dudu- Agora tu vai limpar tudinho, e eu vou ficar de olho, vamos lá, animação. - colocou um óculos na cara.
Ri da cara dele, ele é menor que eu.
Lavei as louças, passei pano na casa, agora tô arrumando o quarto que ele pegou.
O do meu irmão.
Dudu- Quarto f**a do chefe, dormiria do ladinho dele. - ficou passando a mão na cama.
Rafaela- Deita aí, ele não tá por perto.
Assim eu podia sair antes dele menos esperar.
Dudu- Sou doido não, chefe tem olho de águia.. ele ia perceber doida. Ele é meu melhor amigo, parça que curou minha fome, Souza é o melhor.
Revirei os olhos.
Tenho que organizar as cuecas daquele bandido?
Rafaela- O que eu faço com isso?
Dudu- Põe na gaveta ué.. deixa eu ver.
Ficou vendo as cores.
Rafaela- O que é? Tem droga aí?
Dudu- Não, ele tem uma cueca do Bob Esponja que eu dei pra ele, será que ficou no Vidigal? - coçou a nuca.
Dei risada, das palhaçadas desse doido.
Até que ele não parece uma ameaça pra mim.
MIRELA
Odeio quando pegam no meu cabelo, isso é i********e somente pro meu namorado.
Essa situação está piorando a cada minuto, ainda não sei o que vem pela frente.
Deixei Rafaela na casa, minha cunhada é parceira, ela que me acolheu quando cheguei na Rocinha.
Souza- Olha é melhor tu cooperar comigo Mirela. - pegou no meu pescoço.
Mirela- Tu não tá com o morro?
Ele tapou minha boca.
Souza- Não tô brincando c*****o! Tu vai trabalhar pra mim é melhor entregar tudo o que tem nesse morro. Pk tá bem na jaula dele, não vai sair. - riu divertido.
Mirela- Vai pro inferno! Arrombado..
Ele tacou minha cara na parede, com seu peso perto de mim, não saio da parede nunca.
Souza- Tu é inteligente morena, usa o cérebro vai.
Mirela- Pk, vai sair sim daquele lugar.. tu vai ver! - rosnei estressada.
Souza- Não vai, porque por mim ele mofa lá dentro, sozinho.. sem ninguém. - disse na minha orelha. - Agora é a irmãzinha dele? Que ligação ela tem com Th?
Engoli em seco.
Mirela- Rafaela não tem nada pra tu arrancar! Deixa ela.
Souza- Ela é o que eu ouvi falar. Agora não sabia que ela tinha uma protetora tão boa.. vai fazer de tudo pra ela ficar bem? - pegou meu cabelo obrigando a encarar ele.
Mirela- Tô trabalhando contigo! Satisfeito? Vou entregar a Rocinha pra ti.
RAFAELA
Limpar o quarto que era meu, ironia?
Castigo?
Aquela v***a, se ela manchar meu quarto acabo com a raça dela. Peguei a vassoura passando pelo quarto, enquanto subiu um pouco de pó, por ele tá ali há um tempo sem atenção.
Passei debaixo da cama, quando saiu quase tive um desmaio.
A chupeta do meu filho.
Me abaixei pegando aquilo, uma lágrima grossa rolou.
Rafaela- Bernardo, ai que saudades filho.
Sentei ali no chão, sentindo meu mundo desabar em questão de segundos.
Pra ajudar meu irmão fiz muita coisa, a pior coisa, uma merda na verdade foi ter me envolvido com Th.
Aliado dele, o pai do meu filho.
Th foi preso faz cinco meses, desde esse tempo não consegui ver o Bernardo.
Não posso por nada romper com um acordo que tenho com Th, pela minha cria.
Não me envolver com ninguém.
E ver o Bernardo, quando ele autorizar, isso é a minha tortura. Bernardo tem três anos, ele não entende muito o que se passa, não sei como ele tá.
Guardei aquela chupeta no meu peito, quando ouvi passos.
Elena- Levanta do meu quarto! Terminou? Bora!
Sai levando a sujeira, que devia deixar pra ela espirrar.
Rafaela- Pronto, Dudu.
Ele apareceu rápido.
Dudu- Agora o almoço, estava até beliscando mais coisa.
Elena- Quero ovo frito.
Dudu- É o que o Souza pedir, cê não manda em p***a nenhuma Elena.
Bateu a porta na cara dela.
Rafaela- O que ela é? - perguntei como quem não quer nada.
Dudu- Amiga de infância dele, emocionada, que dá vontade de dar uns lenços, sabe? A mina acha que é fiel, sem ser. - riu debochado. - Só se for fiel de Deus, isso sim.. mas ela só vai na igreja se a mãe bate na b***a dela.
Gargalhamos.
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