Dia seguinte
Jade
Mashallah, não perdi a hora! Estou pronta para mais um dia de trabalho. Pela última vez, olho-me no espelho e observo meu vestido preto e os cabelos presos em um coque alto. Optei por um estilo mais sóbrio e discreto, diferente do visual de ontem que realçava minhas curvas: cintura fina, pernas torneadas e s***s firmes. Hoje, quero transmitir uma imagem de seriedade e competência para enfrentar aquele homem.
Antes de sair do quarto, fecho os olhos com força, conto até cinco, dez, vinte, mas não consigo relaxar. A lembrança da conversa com Marcus Ricci continua a se repetir incessantemente em minha mente, e a ansiedade aumenta quando penso que ele estará me observando junto a Bianca. Allah! Há dias em que Bianca não acorda bem, fica de m*l humor e se fecha. Espero que hoje não seja um dia desses.
Finalmente saio do quarto e me dirijo à sala de jantar. Agora são oito horas, e Bianca costuma acordar às nove. Posso tomar meu café sem pressa, tranquilamente.
Tranquilamente? Questiono-me quando meus olhos se deparam com Marcus Vicenzo Ricci ocupando a cabeceira da mesa, com Donatella ao seu lado direito. Avanço mansamente até eles.
Os olhos de Marcus encontram os meus, e posso dizer que eles não mudaram desde ontem, continuam intimidantes. Minha vida estava indo muito bem para ser verdade. Allah! Abençoe-me nesta jornada.
— Buongiorno, Jade — diz Donatella, misturando frequentemente a nossa língua com o italiano, talvez para não perder sua identidade. Eu faço isso muitas vezes também com meu árabe.
— Buongiorno — respondo, a voz saindo mais fraca do que eu gostaria.
— Estávamos esperando você para o café da manhã. Este é meu filho, Marcus Vicenzo Ricci. O pai de Bianca.
— Nós nos conhecemos ontem à noite — Marcus diz e me lança um sorriso que não alcança seus olhos.
— Verdade? Ah, isso facilita muito as coisas. Sente-se, Jade.
Consciente do olhar desse homem sobre mim, caminho até a cadeira e me sento à sua esquerda.
— Daniela, pode servir — ele diz com sua voz poderosa, acostumada a mandar.
Sentindo-me tensa e dura na cadeira, tomo um gole do café quente que me é servido. Allah! Está muito quente.
Todos pegam um pão, menos eu. Não consigo comer perto desse homem. Não com seus olhos me estudando o tempo todo.
— Não vai comer nada hoje? — Donatella me questiona, pois ela sabe que eu como bem de manhã.
— Não, obrigada. Estou sem fome.
Eu lanço um olhar rápido para Marcus, que agora está concentrado em passar manteiga no pão, mas quando ouve minhas palavras, dá um sorriso de escárnio. Deve estar me julgando, achando que estou de ressaca.
— Ah, antes que eu me esqueça. A nossa encomenda chegou.
Sorrio.
— Que bom!
— Encomenda? — Marcus Ricci questiona.
— Jade ensinará Bianca a dança do ventre. Encomendamos trajes de odalisca para ambas, mas isso será no futuro, não agora.
Sentindo como se o peso do mundo estivesse sobre meus ombros, encaro seu rosto extremamente sério voltado para mim.
— A música combinada com a dança é terapêutica e traz sensação de felicidade — explico.
— Se minha Bianca não se sentir à vontade para dançar, não quero que ela seja forçada a isso, está claro? — ele rosna.
Há algo selvagem em seu olhar, e sinto que, quando ele olha assim, todos obedecem sem questionar. Inclusive Donatella.
Engulo em seco e aceno um sim com a cabeça em concordância:
— Claro, e como a Donatella mencionou, não vou realizar essa terapia agora, mas no futuro. Se a Bianca não quiser dançar, não a forçarei.
Fátima, a mulher de sessenta anos responsável pela comida, coloca sobre a mesa um prato repleto de pães perfumados, salpicados com gergelim.
— Estava com saudade disso. Ninguém os faz como você — ele diz com uma voz tão agradável para ela que até estranho, pois ele parece ser do tipo que não agrada ninguém.
Os olhos de Fátima brilham com satisfação ao ver que Marcus Ricci elogia os pães.
Marcus Ricci pega o prato e o estende para mim. O cheirinho do pão vem nas minhas narinas.
— Prove! — sua voz é áspera.
Seus carinhosos olhos em relação à empregada se transformam quando ele olha para mim, ficam duros, transmitindo a sensação de que ele está sempre pronto para uma batalha, e eles me dizem agora que sou uma intrusa.
Mais parece uma ordem do que uma gentileza, e uma palavra passa pela minha mente neste momento: Grosso!
Pego um pãozinho e mordo. Silenciosamente agradeço a Allah por isso porque meu estômago já estava dando sinais de vida.
Hum, que delícia!
— E então?
Eu o encaro, sua expressão parece mais amigável agora.
— Uma delícia. É crocante por fora e macio por dentro, com o sabor do queijo bem acentuado — digo, dando-lhe um pequeno sorriso, mas não encontro resposta em seu rosto. Ele desvia os olhos dos meus e volta a comer.
Depois de devorar todo o pão, pego outro. Diversão rabisca seus traços masculinos ao me ver repetir.
Minutos depois, satisfeita, tomo meu último gole de café e me levanto da mesa:
— Com sua licença e a propósito, peço que não me olhe com tanta hostilidade quando estiver com sua filha. As crianças são sensíveis ao ambiente ao seu redor.
Com minhas palavras, Marcus Ricci me queima com seu olhar, expressando sua desaprovação.
— Eu não farei isso — ele responde de forma enfática, deixando claro seu desacordo.
— Depois eu te dou a encomenda. — Donatella diz rindo e com um tom descontraído.
— Está certo — respondo, forçando um sorriso para ela. Por dentro, no entanto, não me sinto animada em ensinar Bianca a dançar com esse homem presente na casa. Quando chegar a hora, farei isso quando ele não estiver por perto.
Decido seguir para o meu quarto e entro no banheiro para escovar os dentes. Depois disso, vou até o quarto de Bianca, achando estranho que ela ainda não tenha se levantado.
Abro a porta bem devagar e me deparo com Marcus sentado na grande poltrona, segurando Bianca em seu colo como se ela fosse um bebê, enquanto ele a beija carinhosamente por todo o rosto. Fico em choque ao presenciar essa cena, adicionando mais um momento à minha coleção de surpresas.
Incapaz de me afastar, fico observando os dois enquanto ele roça a ponta do nariz no dela.
— Você é o meu tesouro. O papai te ama muito — Marcus sussurra, com carinho.