Capítulo 13. Isabela fala com Oliver

497 Words
Isabela saiu da sala com passos firmes, porém silenciosos. Aquela conversa com Clarice tinha deixado um peso em seu peito não só pela vulnerabilidade da paciente, mas pela sensação de que algo maior, mais turvo, se escondia por trás daquela história. Ela percorreu o corredor até a sala dos médicos. Encontrou Oliver FrankWood sentado à mesa, revisando exames, a caneca de café intocada ao lado. O rosto cansado, a postura rígida como alguém que vive à beira do colapso, mas não se permite cair. Quando ele levantou os olhos e a viu entrar, sua expressão mudou. Um alerta imediato. — Isabela… — ele se endireitou. — Aconteceu algo com Clarice? Ela fechou a porta atrás de si antes de responder. — Ela está bem fisicamente, Oliver. A sessão foi… produtiva. Ele soltou o ar, mas manteve o cenho franzido. Isabela se aproximou, apoiando os braços na mesa, olhando-o diretamente. — Preciso que você saiba de uma coisa importante— começou hesitante— O noivado dela não é consensual. É um acordo da família. Um casamento forçado pelos pais. Oliver ficou imóvel. Totalmente imóvel. Era como se cada parte dele tivesse congelado a respiração suspensa, a mandíbula travada, os olhos escurecendo como tempestade. — Como assim… forçado, isso ainda existe ? — ele perguntou, a voz baixa demais, perigosa quase sem intenção. Isabela escolheu as palavras com cuidado. — Clarice não escolheu Henry.Ela não parece se sentir segura com ele. Só me contou isso porque eu insisti com muita delicadeza. Há… desconforto. Medo, talvez. Ela não disse diretamente, mas está no comportamento dela.É nítido. O olhar de Oliver mudou aquele brilho clínico, meticuloso, se misturou com algo mais profundo, mais íntimo… e sombrio. — Ela disse mais alguma coisa? — perguntou, a voz grave. Isabela hesitou um segundo, mas respondeu: — Disse que se sente cuidada por você. Muito cuidada. E… segura. Um músculo saltou na mandíbula de Oliver. Ele desviou o olhar para a mesa, mas não conseguia esconder a tensão que subia por seu pescoço. — Entendo — murmurou. Isabela estreitou os olhos, avaliando-o. — Oliver… você parece abalado. — Não estou abalado. Apenas preocupado com minha paciente— ele respondeu rápido demais. A psicóloga reconhecia defensivas como aquela de longe. — Clarice está vulnerável — ela disse, com firmeza profissional. — E qualquer vínculo emocional que ela desenvolva agora vai ser amplificado. Precisamos tomar cuidado. Uma sombra atravessou os olhos de Oliver. Ele respirou fundo, as mãos se fechando sobre a mesa como se tentassem conter algo dentro dele. — Eu estou cuidando dela — disse, num tom que soava quase como um voto. — E vou continuar cuidando… até ela estar completamente fora de perigo. Isabela ouviu. E não comentou a intensidade daquele “cuidando”. Mas sentiu um arrepio não de medo, mas de pressentimento. Algo estava se movendo ali. Algo que, se não fosse observado com cautela, poderia facilmente se tornar maior do que qualquer um deles era capaz de controlar.
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