Capítulo 34. Alta de Clarice

543 Words
Clarice estava sentada na beira da cama, vestida, cabelo solto com os cachos ruivos perfeitos, a mala pequena ao lado. O papel da alta estava sobre a mesa, dobrado com cuidado. Havia um silêncio estranho no quarto o tipo de silêncio que denuncia ausência. Quando Oliver entrou, esperava encontrar Henry, ou ao menos alguém da família. Mas encontrou apenas Clarice, sozinha, olhando pela janela como se estivesse esperando a si mesma. Ele parou na porta, a testa franzindo imediatamente. — Clarice? Cadê… o pessoal que viria te buscar? Ela virou o rosto com um sorriso pequeno, mas claramente forçado. — Ah… ninguém vem. Eu vou sozinha mesmo. A resposta fez Oliver dar um passo para dentro antes que tivesse tempo de decidir se deveria. — Como assim sozinha? — Ele se aproximou, observando-a de cima a baixo, certificando-se de que ela não estava tonta, cansada ou com dor. — Onde está o Henry? Seus pais? Clarice deu de ombros, tentando parecer indiferente. — Eles estiveram aqui mais cedo. Achei que seria melhor ir embora sozinha… não quero incomodar ninguém, por favor não ligue para eles. A expressão de Oliver mudou. Ele não era do tipo que deixava preocupações visíveis, mas ali, naquele instante, Clarice percebeu nos olhos dele uma mistura perigosa de irritação e apreensão. — Não quero interferir na sua vida pessoal, não devo — ele começou, ajeitando a prancheta, tentando manter a postura profissional. — Mas você não devia ir embora sozinha depois de uma cirurgia. Isso não é recomendável. Ele se aproximou um pouco mais, a voz mais baixa. — Você está realmente bem para isso? Clarice riu, mas era uma risada defensiva, quase triste. — Doutor… eu estou acostumada. Eu juro. Eu prefiro assim. A frase bateu nele como um soco. Ele sabia exatamente o que aquelas palavras escondiam: abandono, solidão… e talvez até medo. Ele respirou fundo, lutando para não ultrapassar limites. — Ao menos espere alguém do hospital levar você até a saída. Eu posso pedir para um dos residentes… Clarice balançou a cabeça antes mesmo de ele terminar. — Não. Não precisa. Eu… realmente prefiro ir sozimha.Estou ansiosa pra ir pra minha casa, finalmente. Oliver continuou imóvel por alguns segundos. Estudando cada detalhe dela: o sorriso tenso, as mãos que tremiam levemente ao fechar a mala, o olhar fugidio. Tudo gritava algo que ela não dizia. Ele se abaixou um pouco, ficando na altura dela, os olhos firmes nos dela. — Se você quiser que eu te acompanhe até lá embaixo, eu posso. Clarice piscou, surpresa. — Doutor, não precisa… — Não estou oferecendo como médico — ele corrigiu, mais suave, mas direto. — Estou oferecendo… como alguém que se importa, um amigo talvez. Ela mordeu o lábio inferior, respirando fundo. — Eu… acho que ficaria feliz… se você fosse até lá comigo. Aquela pequena confissão atravessou Oliver de um jeito que ele não esperava. — Então eu vou — respondeu simplesmente. Ele pegou a mala da mão dela antes que ela pudesse protestar, sem esforço algum, e abriu a porta com a outra mão. — Vamos, Clarice. A voz dele estava baixa, firme, protetora. — O mundo te esperava, viva, lá fora. E Clarice o seguiu pela primeira vez sentindo que alguém realmente se importava
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