Clarice estava sentada na beira da cama, vestida, cabelo solto com os cachos ruivos perfeitos, a mala pequena ao lado. O papel da alta estava sobre a mesa, dobrado com cuidado. Havia um silêncio estranho no quarto o tipo de silêncio que denuncia ausência.
Quando Oliver entrou, esperava encontrar Henry, ou ao menos alguém da família. Mas encontrou apenas Clarice, sozinha, olhando pela janela como se estivesse esperando a si mesma.
Ele parou na porta, a testa franzindo imediatamente.
— Clarice? Cadê… o pessoal que viria te buscar?
Ela virou o rosto com um sorriso pequeno, mas claramente forçado.
— Ah… ninguém vem. Eu vou sozinha mesmo.
A resposta fez Oliver dar um passo para dentro antes que tivesse tempo de decidir se deveria.
— Como assim sozinha? — Ele se aproximou, observando-a de cima a baixo, certificando-se de que ela não estava tonta, cansada ou com dor. — Onde está o Henry? Seus pais?
Clarice deu de ombros, tentando parecer indiferente.
— Eles estiveram aqui mais cedo. Achei que seria melhor ir embora sozinha… não quero incomodar ninguém, por favor não ligue para eles.
A expressão de Oliver mudou. Ele não era do tipo que deixava preocupações visíveis, mas ali, naquele instante, Clarice percebeu nos olhos dele uma mistura perigosa de irritação e apreensão.
— Não quero interferir na sua vida pessoal, não devo — ele começou, ajeitando a prancheta, tentando manter a postura profissional. — Mas você não devia ir embora sozinha depois de uma cirurgia. Isso não é recomendável.
Ele se aproximou um pouco mais, a voz mais baixa.
— Você está realmente bem para isso?
Clarice riu, mas era uma risada defensiva, quase triste.
— Doutor… eu estou acostumada. Eu juro. Eu prefiro assim.
A frase bateu nele como um soco.
Ele sabia exatamente o que aquelas palavras escondiam: abandono, solidão… e talvez até medo.
Ele respirou fundo, lutando para não ultrapassar limites.
— Ao menos espere alguém do hospital levar você até a saída. Eu posso pedir para um dos residentes…
Clarice balançou a cabeça antes mesmo de ele terminar.
— Não. Não precisa. Eu… realmente prefiro ir sozimha.Estou ansiosa pra ir pra minha casa, finalmente.
Oliver continuou imóvel por alguns segundos. Estudando cada detalhe dela: o sorriso tenso, as mãos que tremiam levemente ao fechar a mala, o olhar fugidio. Tudo gritava algo que ela não dizia.
Ele se abaixou um pouco, ficando na altura dela, os olhos firmes nos dela.
— Se você quiser que eu te acompanhe até lá embaixo, eu posso.
Clarice piscou, surpresa.
— Doutor, não precisa…
— Não estou oferecendo como médico — ele corrigiu, mais suave, mas direto. — Estou oferecendo… como alguém que se importa, um amigo talvez.
Ela mordeu o lábio inferior, respirando fundo.
— Eu… acho que ficaria feliz… se você fosse até lá comigo.
Aquela pequena confissão atravessou Oliver de um jeito que ele não esperava.
— Então eu vou — respondeu simplesmente.
Ele pegou a mala da mão dela antes que ela pudesse protestar, sem esforço algum, e abriu a porta com a outra mão.
— Vamos, Clarice.
A voz dele estava baixa, firme, protetora.
— O mundo te esperava, viva, lá fora.
E Clarice o seguiu pela primeira vez sentindo que alguém realmente se importava