Capítulo 10. Investigação

445 Words
Voltei para a sala de descanso com o corpo cansado, mas a mente inquieta demais para repousar.O encontro com Henry ainda latejava na cabeça o olhar dele, o tom disfarçadamente ameaçador. Havia algo errado naquela história.Algo que o instinto médico não explicava, mas o instinto humano não deixava ignorar. Peguei o celular, hesitei por um momento, e então disquei um número que não ligava havia meses.A chamada foi atendida na terceira tentativa. — FrankWood? — a voz do outro lado soou surpresa. — Há quanto tempo. — Preciso de um favor, Jordan. Silêncio curto. — Um favor vindo de você geralmente é coisa séria. O que aconteceu? Passei a mão pelo rosto, tentando manter o tom neutro. — Uma paciente. Clarice Beck.Entrou com ferimento por arma de fogo há cerca de duas semanas. Preciso do relatório policial. — Você sabe que isso não é exatamente protocolo, não é?— respondeu ele, mas o tom era mais curioso do que repreensivo. — Eu sei. Só quero entender o contexto. Há algo estranho… — pausei, procurando as palavras. — Algo que não bate com o que dizem. Do outro lado da linha, ouvi o ranger de uma cadeira. — Certo, doutor. Me dá algumas horas. Te retorno ainda hoje. Desliguei, mas o tempo que se seguiu pareceu interminável.O relógio marcava quase duas da manhã quando o celular vibrou sobre a mesa. Jordan: “Enviei por e-mail. Seja discreto.” Abri o arquivo. O relatório era curto , curto demais para um caso de tentativa de homicídio.Vítima identificada como Clarice Beck, 27 anos. Ferimento por arma de fogo no abdômen.Sem testemunhas diretas. O disparo ocorreu por volta das 00h42, em uma rua residencial próxima ao hospital Saint Claire, onde a vítima trabalhava de cuidadora.Ambulância acionada por civil não identificada, mulher de meia-idade que fazia caminhada noturna. Declara ter encontrado a vítima inconsciente, sangrando, sem indícios do autor do disparo. Sem câmera de segurança na rua. Nenhuma impressão digital útil encontrada. Fechei o relatório, o peito apertando. Sozinha. Aparentemente sem motivo. Nenhum roubo. Nenhum registro de briga. Mas o que me chamou atenção estava no último parágrafo: “Vítima apresentava sinais de luta anterior ao disparo. Hematomas leves nos braços e ombros, compatíveis com contenção física.” Luta. Mas com quem? Deixei o arquivo aberto por longos minutos, o olhar fixo na tela, até que percebi o próprio reflexo no monitor exausto, inquieto, mas… determinado. Sabia que deveria parar ali. Que um médico não tinha o direito de se envolver.Mas cada instinto dentro de mim gritava o contrário. Clarice não lembrava o que aconteceu.E eu tinha a sensação incômoda de que alguém ao redor dela preferia que continuasse assim.
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