Mais uma tentativa

1170 Words
Matteo Dirigi pelas ruas de Seattle enquanto refletia sobre os últimos acontecimentos, e entre as coisas que me deixam mais atormentado estava o fato de a Rebeca não estar nenhum pouco preocupada com o que aconteceu com a própria irmã. Como uma garota pode ser egoísta ao ponto de não sentir vontade de estar ao lado da sua irmã gêmea, no momento em que ela mais precisa, é algo que tem me atormentado todos os dias, desde que a Isadora foi atropelada. Apesar de eu ter saído da casa Isadora me sentindo um pouco melhor sobre a situação toda, afinal, ela estava conseguindo lidar com as mudanças na sua vida, mesmo estas tendo sido bastante drásticas, ainda mais após ter observado que o apoio do Barros parece estar fazendo muito bem para ela. Eu ainda não confiava totalmente no homem, tinha um pé atrás com ele, diante de tudo que já aconteceu, mas o Barros estava tentando consertar os seus erros e se ele estava conseguindo fazer a Isadora feliz, eu jamais iria tentar estragar isso. Mas a Rebeca é uma garota c***l, não apenas uma pessoa de temperamento forte e decidida, ela não tem caráter algum e eu decidi que o melhor a ser feito é esquecer todo o sentimento que ela me despertou, desde o primeiro momento em que a vi, pois eu não acredito mais na mudança dela. Naquele momento, cheguei a casa de repouso luxuosa e extremamente onde meu pai estava instalado, e depois de cumprimentar a recepcionista do dia, já a conhecia das outras vezes em que estive ali, fui informado de que o meu pai estava com seus amigos, na sala de jogos. Suspirei, já me resignando com a sessão de falsidade a que eu seria exposto, e caminhei até o local. — Meu filho querido! — meu pai diz, extremamente animado, ao me ver entrar — Estava pensando que tinha esquecido o seu velho pai aqui. Joseph levanta com dificuldade da sua cadeira e vem ao meu encontro, me abraçando como um pai verdadeiramente feliz em ver seu filho, mas eu o conhecia bem o suficiente para saber que não, que tudo aquilo não passava de encenação. — Olá a todos! — Cumprimento os colegas do meu pai, quando ele por fim se afasta de mim, todos eles na casa dos setenta anos — Espero que estejam todos bem hoje. Digo aquilo com o único objetivo de prolongar a conversa, e logo vou me sentar em uma das cadeiras desocupadas, para ouvir todas as reclamações sobre os problemas de saúde dos idosos. Eu sei que aquele é um assunto que rende bastante, e por esse motivo sempre faço a pergunta, dessa forma, não preciso conversar apenas com o meu pai, e ouvir algo que venha a me deixar irritado, às vezes até mesmo triste. Minha estratégia daquela vez não foi muito eficiente, pois logo cada um dos que estavam presentes, foram saindo aos poucos, alegando algum motivo aleatório, e eu fiquei sozinho com o meu pai, algo de que eu não gostava nada. Eu sentia necessidade de visitar o meu genitor, além de pagar todas as suas despesas, mas ele sempre tinha algo desagradável para falar sobre mim, e eu ainda permitia que suas palavras me afetassem, mesmo após anos. — Onde está a garota que você beijou ao final daquela corrida? — ele pergunta, algo que eu já esperava que fosse acontecer — Não a trouxe com você, imagino que já te deixou. Suspirei, tentando controlar os batimentos cardíacos, que estavam descontrolados dentro do meu peito. Por que eu deixava que aquele homem tivesse tanto poder assim sobre mim, é algo que eu não conseguia entender de forma alguma. — A Isadora é uma garota excelente, papai — prefiro não responder a sua pergunta — Tenho certeza de que o senhor gostaria dela. — Gostaria? — ele foi ao ponto central da questão — Então, ela realmente já te deixou. Meu pai parece decepcionado, como sempre acontece, quando ele tenta me colocar pra baixo. — Nós somos apenas amigos — eu expliquei, tentando contornar a situação — Aquele beijo foi apenas para agradar a mídia. — Você já tem vinte e oito anos, Matteo — Lá vem mais um dos seus sermões — Deveria pensar em formar uma família, e não em agradar a mídia. Às vezes eu me pergunto qual o seu problema, por que você não namora. É muito difícil lidar com uma pessoa que está sempre apontando aquilo que considera como falhas em você, ainda mais quando essa pessoa é o seu próprio pai, mas eu tentei não deixar transparecer o meu aborrecimento com a situação. Caso Joseph perceba que eu não gostei do que disse, ele não vai falar mais em outro assunto a partir de hoje. — Não desejo ter um relacionamento sério agora, pai. Tudo o que desejo é conquistar mais um campeonato e ser tetracampeão — eu tento trazer o assunto para algo menos tenso. — Você já provou que é bom nas pistas, menino — ele diz, me surpreendendo — Quero ver você conseguir resolver a sua vida pessoal agora. Mal pude acreditar que o velho estava me lançando um desafio, pois foi exatamente isso que ele tinha acabado de fazer. E ele sabe o quanto eu sou levado pela emoção de provar que posso fazer aquilo a que me proponho. — Eu não quero uma namorada, e uma esposa está fora de cogitação, pai — eu digo, usando um tom definitivo — Então não espere isso de mim. — Eu gostaria de ter tido mais filhos, quem sabe algum deles me daria orgulho. Meu pai tinha acabado de superar todos os absurdos que ele já me disse durante toda a minha vida. — Pensei que o senhor tinha orgulho de mim — falo, de maneira irônica. Eu estava mentindo, é claro, pois jamais pensei isso, mesmo que ele falasse isso para todos na clínica de repouso, principalmente quando estava passando alguma matéria sobre mim na TV. — Eu tento me orgulhar, mas é tão difícil, quando você só pensa em carros, e não se importa com pessoas — ele diz, sem me encarar. Meu pai parece triste, algo que não faz sentido algum para mim, mas eu prefiro não prolongar ainda mais aquela visita e apenas me levanto, com a pretensão de ir embora dali o mais rápido possível, pois já tinha ouvido muitos absurdos para uma única tarde. — Eu preciso ir — aviso, prestes a fugir da visita mais estranha que eu já fiz ao meu genitor — Pretendo voltar para Londres amanhã, por isso não virei visitá-lo novamente antes de viajar. — Espero que na próxima vez que vier me visitar, tenha pensado sobre o que lhe disse. — Sim, claro — É mais fácil concordar. Dessa vez, sem a presença de nenhum de seus colegas, meu pai nem mesmo se levanta da poltrona, apenas acenando para mim, e eu não penso em me aproximar, e apenas aceno em despedida.
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