" n***o é o véu da vida e da morte. É triste dolorida, é fria e trevosa. Mete medo, apavora e o coração dispara, vai na guela, quando você dá de frente com ela."
Por: Vittorio.
Olhar para esses túmulos e ter consciência de que já tirei a vida de tantos que se igualam ou triplicam em número a quantidade de corpos sepultados por aqui.
Observo Larissa de longe, vejo minha cunhada caminhar com dificuldades até se aproximar da sua conhecida.
Fico parado debaixo de uma árvore, observando tudo e todos, meus seguranças estão espalhados na entrada fazendo a proteção.
Eu definitivamente não queria está aqui, num lugar mórbido e funesto.
Olho para a menina dispersa dos demais, toda vestida de peças de cor escura, perto da a******a no chão. Está ai, algo que todos tememos a morte, não propriamente dita a nossa, mas daqueles que amamos.
Ontem pela manhã quando a mãe de Larissa trouxe a notícia da falecimento dos pais de sua conhecida, minha cunhada quase teve uma síncope. Pelo que me parece, a menina órfã e ela, tem uma ligação forte.
Larissa chorou horrores, queria ir até a casa da sua conhecida de qualquer maneira, Pietro sofreu para segurar sua esposa em casa. Pelo que apurei com o pouco que ouvi, o acidente que vitimou os pais da garota que meus olhos fitam, foi trágico. O veículo em que estavam entrou num engavetamento e foi parar debaixo de uma carreta granelera.
_ Caixão fechado, Vittorio. Pode imaginar a dor de não poder dar o último beijo, não poder ver pela última vez a face daqueles que você ama?- Larissa diz enquanto, andamos para a saída.
_ Não tome as dores dos outros para si. Cada um que cuide das suas feridas.- profiro, vendo a menina órfã caminhando sob a chuva, parecendo um anjo n***o, vestido de preto que ronda por entre os túmulos.
_ Cadê o seu coração, Vittorio? Deixou em casa antes de sair.- Larissa pergunta me olhando de soslaio.
_ Faz tempo que não tenho um. Acredite.- respondo com sinceridade.
Larissa emudece, seguimos bem atrás da garota que para e dá uma olhada para trás e depois segue para fora.
_ Ela ficou sozinha no mundo. Sem ninguém. - murmura pensativa.
_ Talvez não. A menina pode ter um namorado.- profiro, pensando na confusão dos diabos que tenho para resolver na Itália.
_ Ela não namora ninguém. Sophia é e ficou mais reclusa depois que o noivo faleceu. - Larissa revela e percebo que a menina é marcada pela morte.
_ Noivo?- indago, achando a garota bem nova.
_ Sim, muito parecido com o que vocês da máfia fazem, entregam os filhos em noivado ainda crianças. Constroem laços futuros. Os pais dela fizeram o mesmo. Isso sempre foi um segredo para as outras, menos para mim, Sophia me confidenciou essa parte da sua vida.
Acho estranho esse tipo de comportamento fora do submundo.
_ O que houve com o jovem?- inquiro sendo levado pela curiosidade.
Larissa ri.
_ Jovem é maneira de dizer, se ele estivesse vivo, seria um ano mais velho que você. O homem foi assassinado, num assalto no Rio de Janeiro, isso já tem uns três anos, ocorreu dois dias antes deles casarem.- Larissa entrega tudo.
A coisa do casamento arranjado me deixa intrigado.
Chegamos até o carro e Isabella, entra com certa dificuldade. Percebo minha cunhada pensativa.
Acho até melhor assim, sem muita falação em meus ouvidos, preciso pensar no caso de Matteo que não manteve o p***o dentro das calças e acabou fazendo merda para complicar com minha vida.
_ Obrigada por me trazer, Vittorio! - pede assim que me sento ao seu lado.
_ Não agradeça, só vim para o Pietro poder trabalhar em paz, precisamos saber quem foi que deu para a polícia que o carregamento. A cocaína estava camuflada no meio do carregamento de grãos de café, perdi trita e três milhões de euros, Larissa, é uma pancada filha da p**a em cima do meu clã. - respondo, retirando o celular do meu bolso.
_ Eu sei disso, Pietro parecia que ia ter um troço de tão nervoso que ficou. Tenho medo de uma recaída, Vittorio, que ele seda a pressão e procure pelas drogas.- ela diz, apreensiva.
_ Continue acalmando ele da maneira que você tem feito. As crianças tem um peso significante na vida do meu irmão, ele não vai querer magoar os pequenos.- ressalto algo de suma importância.
Larissa sorrir e alisa a barriga protuberânte.
_ Ele é um pai excelente, brinca com eles. Certa dia ele deixou que Giulia pintasse suas unhas, foi cômico. Isso nos rendeu boas risadas.- conta com um alegria sem fim.
Penso que se eu fosse pai, sentiria essa alegria toda ao contar uma traquinagem do meu filho. Contudo, esse sabor da vida, eu nunca ei de provar.
Abaixo meu olhar focando a tela onde há várias mensagens da minha esposa.
Abro de uma por uma e sempre são as mesmas reclamações: que quer viajar para Dubai, trocar o carro porque a está enjoada da cor, mudar a coleção de roupas que tem, pos a nova estação se aproxima... acabo por desligar o aparelho e enfiar no bolso interno do meu sobretudo.
O barulho de um sertanejo invade o interior do carro, minha cunhada abre a sua bolsa e alça o celular. Seus olhos brilham antes de atender a ligação.
_ Oi, amor. Sim, estamos bem- profere alisando a barriga- estamos indo para casa. E você como está, conseguiu comer alguma coisa? - pergunta paciente.
_ Eu sei, Pietro, mas ficar nervoso não vai adiantar nada. Cabeça fria consegue enxergar pontos que o nervosismo anuvia. Te amo, em breve estarei ai para te dar colo. - ela sorrir de algo que ouve e em seguida encerra a chamada.
Me pego refletindo que nunca tive esse carinho por parte da princesa da Camorra, nossa relação sempre foi fria distante. Acredito que meu modo taciturno não facilitou em nada nossas vidas, porém saber que a minha esposa cultiva sentimentos por meu irmão foi a gota que faltava para transbordar o copo.
Seguimos a caminho de Alegrete, meu carro sendo acompanho de perto pelos meus seguranças, somos um comboio, circulando por essas vias.
Viemos há duas semanas para o Brasil, Larissa quer fazer todos os seus partos por aqui e eu não podia perder o momento da chegada da minha Vitória. A pequena que terá uma derivação feminina do meu nome.