Quinze dias depois....
" Seja como a lua que é cheia de segredos e não revela para os seus amantes."
Por: Larissa.
Minha menina nasceu pesando 3kilos e 450 gramas. Minha boneca de bochechas rosadas mama com vontade, é gulosinha e eu aprecio esse momento, de poder ter essa conexão maravilhosa entre mãe e filha.
Ainda que as caretas de dor, por causa do bico rachado, dominem minha face.
_ Está sentindo muita dor, amor?- Pietro pergunta, vendo de perto a nossa pequena enchendo sua minúscula barriguinha.
_ Um pouco. - respondo.
_ Mamã! Neném! Imã!- Renzo diz e olho para a minha pequena prole, com o meu peito inflado, meus três pedacinhos de amor.
_ É, meu amor, sua irmã. - digo apertando com força a mão do Pietro, quando Vitória suga com mais força.
_ Acho que chega de bebês. Não gosto de ver você sofrendo.- meu marido fala, olhando-me aflito.
_ Faz parte, depois passa.- digo, soltando a mão do pai coruja e afastando o peito do minúsculo nariz para não afogar a minha filha.
Pietro olha para Vitória com um sorriso resplandecente no rosto.
_Acho que ela vai ficar igual a você, amor.- diz e eu sorrio - Aprende a mentir melhor, Pietro. Vitória é igualzinha a Giulia, quando nasceu. E adivinha com quem a Giulia se parece.
_ Com o papai!- a pequena espoleta grita.
Pietro olha para nossa garotinha que vai fazer cinco anos e é o pai purinha até no gênio.
_ Quieta, princesa. Vai assustar a sua irmãzinha. - ele usa um tom doce, melodioso com Giulia. Na verdade, com todos os nossos três filhos. Combinamos que dentro da nossa casa, ele será apenas o Pietro pai de família e da porta para fora, quem dominará é o sub-chefe da máfia.
Tudo tem caminhado certinho, só que com a prole crescendo, vou precisar de alguém para me ajudar com os pequenos. O que é r**m, uma vez que ajo com circunspeção, quando o assunto é minha família. Sou sistemática e dentro do meu lar, as regras quem faz sou eu.
Dante continua sendo alvo de buscas pelas máfias rivais. Certa vez fomos seguidos, nosso carro metralhado, por muito pouco a blindagem não cedeu aos disparos.
Foi horrível, as crianças gritando. Os soldados que faziam nossa segurança, respondendo ao ataque. Pareceu que estavamos dentro de uma guerra, imaginei o terror que é para famílias que moram em favelas no Brasil. Essas tem constantemente a "bala batendo na porta".
Conseguimos nos livrar dos perseguidores, mas a pergunta que ficou no ar é : "Quem são eles?"
Poderiam ser muitos, de diversas partes do mundo, como também pode ser de uma máfia local ou alguém de dentro, tentando dar o golpe na própria Ndrangheta.
Aprendi em pouco tempo que nesse mundo deve-se desconfiar até da própria sombra.
Eu, me preocupo muito com meus filhos, Dante está como alvo príncipal e por seguinte vem Renzo e suas irmãs. Por isso me tornei uma paranóica, todos usam pulseiras com rastreadores. Evito deixá-los perto das janelas do apartamento. Um atirador de elite faz um estrago, eu sei porque há meses atrás acompanhei Pietro, numa missão.
Ele foi matar um narcotraficante do Cartel de Medellín. O homem estava em território proibido para nós, nos infiltramos em Roma, território do Bando della Magliana.
Era por valta das onze da noite o sujeito estava no quarto de hotel com uma garota. O clima nem chegou a esquentar, Pietro encerrou o que nem começou. Um único tiro, certeiro na parte de trás da cabeça e o ponto final foi colocado.
Isso é o que dá tentar bancar o esperto com quem não conhece. Queriamos um carregamento de mais ou menos uma tonelada e meia de coca, metade já estava vendida para a oceania e Austrália. Era só mandar as mulas para as rotas. Contudo, o espertão, nos mandou a droga disfarçada em baldes de tintas, no entanto, faltou duzentos kilos do pó.
Vittorio ficou uma fera, não houve conversa, pediu a cabeça do i****a e como desejou, este, teve. Estampada nas primeiras páginas dos jornais o caso do empresário morto com um tiro que ninguém sabe de onde partiu.
A coisa deu uma complicada para o lado do Bando della Magliana, uma vez que esse homicídio caiu na conta deles. O que não vai parar por ai, o pessoal dessa máfia vai cavar até chegar em nós, isso já é de se esperar.
Viver no submundo é estar preparado para uma reviravolta alucinate, um plot twist atrás do outro. Não se dorme com os dois olhos fechados e muito menos deve-se dar cem porcento de confiança para ninguém.
Todos nesse mundo paralelo buscam crescer, e aqui só cresce com brigas e mortes. O sangue tem que molhar o chão para obstáculos serem eliminados. É uma verdadeira selva ao inverso, aqui você mata para não morrer, mata para eliminar, mata para ascender no poder e mata quando alguém trapaceia.
Resumindo, quem entra vai se tornar um assassino e quem sai, só sai dentro de um caixão.
É uma vida pesada, onde o luxo impera e seduz, mas a realidade é absolutamente n***a. Eu digo para meu marido que a máfia é uma mulher que usa vestes negras e colocam todos os que se aproximam dela de joelhos, para, em seguida selecionar aqueles que serão sua oferenda. Com isso, ela pode beber do seu sangue e comer de suas carnes.
Mas eu, não estou disposta a deixar que meus filhos se tornem objetos de sacrifícios.
_ Acho que ela está satisfeita.- Pietro diz, me retirando dos meus pensamentos.
O meu marido estica as mãos e pega Vitória.
_ Hora de arrotar, princesa.- fala cheirando o pescocinho da nossa bebê.
Como sempre, ele é dedicado e muito paternal. Gosta de ajudar, de manter contato direto com nossos filhos.
É prazeroso vê-lo assim, com nossos filhos o rodeando, ele sempre com algum deles no colo. Uma delícia. Então, me bate um aperto no peito, quando percebo que meu cunhado não pode ter isso.
_ Não sei como a esposa do seu irmão aguenta ficar tanto tempo longe dele. Eu fico me contorcendo, quando você fica dois dias fora de casa.- converso, me recompondo, guardando o seio exposto.
_ Nós nos amamos, eles não. O casamento deles é um acordo, Larissa, não envolve sentimento.- fala, enquanto dá leve tapas nas costinhas da Vitória.
_ É triste isso, mas não podemos fazer nada.- falo me recostando na cabeceira da cama.
Como se soubesse que falamos dele, Vittorio surge na porta que está entre aberta.
_ Com licença. - diz, antes de entrar- Pietro preciso conversar com você.- o semblante do Don é sério circunspecto. A conversa não era boa, algo estava acontecendo.
_ Fala, Don.- Pietro profere, levando Vitória até o berço.
Vittorio olha as crianças que desenham e pintam seus rabiscos queitinhos no chão. O olhar do meu cunhado brilha.
_ Tem algo acontecendo no Alasca e preciso que você vá até lá saber de perto do que se trata. - fala indo até o berço e tomando o lugar do irmão. O Don arruma o mosquiteiro e dá uma olhada na sobrinha que dorme.
_ Alasca?!- perguntei em alarde.
_ Houve uma movimentação estranha de alguns donos de cartéis para esse país e alguns membros de outras máfias. Tem algo ai e devemos sempre estar apar de tudo. - me responde.
_ Vitória acabou de nascer, não posso sair assim e deixar à Larissa. Ela está em recuperação.- meu marido diz me olhando.
_ A famiglia está acima das nossas famílias, dever é dever, fratello.- meu cognato rebate e tenho vontade de arrancar a língua dele.
" Filho de uma mãe! Porque não manda um dos meninos?- penso contrariada".
Estou quase abrindo a boca para dizer o que penso, quando minha sogra surge na porta.
_ Dio santo! Vocês estão falando muito alto. Poverela da mia pinote!- Violeta exclama, olhando feio para os dois.
Minha sogra vai até o berço e fica olhando a caçula da família.
_ Bellissima bambina.- diz com a voz alegre - Quem diria,no, Pietro não fazia filho, agora tá riempire la case. - completa olhando para os netos que agora estão deitados no tapete, brincando com seus cubos mágicos.
Renzo, se infesa com o brinquedo e joga longe.
_ Num pesta, isso num pesta, mamãe. - fala bravo, vindo até mim com um bico enorme.
O pequeno se esforça para subir na cama e vir para o meu colo.
Pego meu pequeno que tem seus olhinhos verdes brilhando de lágrimas. Renzo é igual a mim, muito emocional.
Pietro pega o pequeno nos braços, que afunda o rostinho na curva do pescoço do pai.
_ Calma, filho. Brinca com outro brinquedo. Cadê aquele carrinho que o vovô Fernando te deu, foi ele que o fez sabia, é único como você, meu príncipe. -Pietro conversa com nosso menino.
_ Qué o vovô, papai.- o pequeno fala choroso.
Pietro me olha e eu balanço a cabeça em afirmação.
_ Vou ligar para o vovô vir te buscar.- foi só o pai abrir a boca que os gêmeos se fizeram presentes.
_ Eu quero ir também. Vovô carrega a gente no carrinho, faz pipoca e vê desenho. - Dante diz com olhos brilhando.
_ Leva agente no pasto, dá leite da vaca. É bom sai quentinho.- Giulia se expressa juntando as mãozinhas gordas.
Pietro ri dos espoletas.
Meu pai é um super avô, decidiu ficar morando aqui na fazenda por conta dos netos. A casa que comprou, depois de Pietro pagar a reforma completa, meu pai alugou.
Pietro se afasta, discando o número do meu pai no celular, levando Renzo no colo e os gêmeos seguem colados no pai. A expectativa dos meus pequenos é grande.
_ Nuora, tem uma amiga sua que veio te visitar. É a Sophia. - comunica e eu fico feliz e ansiosa.
Meu parto ocorreu dois dias depois do sepultamento dos pais da minha amiga, com isso não consegui ficar perto dela como eu gostaria.
_ Cadê, mande-a subir, por favor.- peço.
_ Sim. Farei isso. Pedirei que sirva um suco ou algo assim.- Violeta diz saindo do quarto.
Vittorio olha para o pequeno pacotinho cor de rosa que dorme tranqüilamente.
Sophia aparecesse na porta, usando um vestido de renda longo de cor preta. Seu cabelo está preso em um coque. Seus olhos claros me miram.
_ Oi- ela diz.
_ Oi, Sophia, entra.- digo esticando meus braços e convidando-a para um abraço.
Minha amiga entra,caminha até onde estou e nos abraçamos.
_ Como você está? - pergunto.
_ Vivendo um dia, depois do outro.- fala se afastando.
_ É para a bebezinha. - profere me entregando uma sacola de papel, de marca fina.
_ Não precisava, Sofi.- digo abrindo o embrulho que vem dentro e fico encantada com o vestido lilás.
_ Céus! É lindo! Você tem bom gosto! Obrigada!- agradeço a gentileza - Vitória , está no bercinho. Pode vê-la.- digo, olhando para minha amiga.
Fico olhando a forma como Sophia retesa ao ver Vittorio. Ela fica sem graça e se aproxima devagar, na ponta oposta de onde ele está.
Vittorio por sua vez olha para a menina com o cenho franzido.
_ É linda, Lari. Parabéns! - Sophia tece um elogio a minha pequena - Não posso demorar, estou organizando algumas coisas em casa. - completa ao se afastar do berço.
_ Quero conversar mais com você. -Digo vendo seu semblante abatido - Volte amanhã, almoce comigo.- peço.
_ Amanhã, então, eu retorno. - diz, me olhando de longe- Preciso mesmo ir, só vim para prestigiar a chegada dessa linda menina. Até amanhã, Lari.- completa, saindo pela porta.
Estranho o comportamento de Sophia, mas atribu-o ao fato do luto. Imagino a força que fez para vir me visitar. Luto não é um período fácil para ninguém.