1• Lar.

2105 Words
|15 horas antes| Breeze Wills Quando era pequena sempre achei incrível a ideia de ter uma máquina do tempo. Para voltar no passado, nos melhores momentos da minha infância e juventude. Eu só não sabia o quanto amaldiçoaria esse idéia depois de tudo que vivi. Li uma vez em um lugar que a pérola é formada pela sujeira do mar que entra dentro da ostra, e como num modo de defesa a mesma solta um líquido que depois de um tempo, acumulado ao redor da sujeira acaba por virar uma pérola. Posso dizer que passei muito tempo da minha vida sendo uma ostra, e bem, a sujeira, foram pessoas tóxicas que infelizmente ocuparam um grande período da minha vida, e assim como a ostra do mar, consegui realizar esse processo do que podemos dizer, fotossíntese. Tudo aquilo que havia engolido de sujo, transformei num algo bem maior. Em aprendizado. E não, eu não me transformei numa pérola, mas posso dizer que meus aprendizados moldaram o que tenho de mais valioso em mim. Meu caráter. E mais uma vez repito, não. Não me tornei a pessoa mais sabia do mundo. Mas aprendi com essas pessoas que nunca, jamais, eu seria um alguém igual a elas. Ergo a cabeça e observo o letreiro seja bem vindo a Saltlake, e em baixo da mesma as pequenas letrinhas miúdas, com cerca de 3.000 habitantes agora está pichada de vermelho e substituída pela frase 'agora são 2.999' Sempre ouvi falarem sobre termos que deixar o passado para trás, mas agora posso ver cada essa frase se dissipar como névoa, a cada momento que observo o letreiro escrito Saltlake se aproximando. Cada pessoa, cada momento, cada lágrima, cada segundo que pedia aos céus para ir embora desse lugar. Dez anos lutando contra isso, dez anos fazendo de tudo para não passar nem perto da estrada que liga a pacata cidadezinha de Saltlake e dez anos ignorando o fato de que a minha família não é mais a mesma, mantendo todos aqueles que me fizeram m*l no esquecimento, e agora, é como se eles estivessem todos diante dos meus olhos dizendo 'eai Breeze, vai fazer o que agora?' Sou despertada assim que um cervo atravessa a via e eu freio o carro bruscamente arrancando uma mecha de cabelo por de trás de minhas orelhas. Posso dizer que Saltlake era como um cervo e eu, como um carro um fuga. Fugindo durante dez anos, na estrada para o mais longe que pude e agora ela aparecera na caixa de entrada do meu email, dizendo que eu seria transferida para o colégio de Saltlake. Eles haviam contratado meus serviços como professora no Saltlake high School. Um crime, uma morte, um assassinato e agora, eu de volta ao lugar que estudei na minha adolescência, sem ter escolha para aceitar ou recusar essa transferência que me pegou na completa surpresa. A pequena cidade de Saltlake continuava a mesma, desde a loja do senhor McCoy da esquina até às pequenas falhas no asfalto que continuavam no mesmo lugar, se não pior ou maiores. É como se ao invés de ter passado anos fora, fossem dez dias, era exatamente igual, sem tirar ou colocar nada. Desde lugares á pessoas, e ah, as pessoas, estremeço só de me lembrar de cada uma delas. Pessoas essas que espero não encontrar tão cedo. Ou melhor, espero não encontrar. Pego a última mala de dentro do porta malas e pago o taxista que logo da a partida no carro. Eu coloco uma das alças da mala em meu ombro e a outra mala de rodinha eu ergo para subir as pequenas escadinhas que levam á porta aonde meu pai desce as escadas para me ajudar. – Essa é a última? – assinto. – Sim pai, obrigada – agradeço fechando a porta atrás de mim. – Eu esvaziei o meu quartinho de ferramentas e pintei uma parede de lilás. Tem duas prateleiras também que eu coloquei para você colocar seus livros, mas se não couber eu posso colocar mais uma para você poder deixar eles arrumados, eu sei que você... – Joseph, está tudo bem, eu gostei – tranquilizo meu pai, assim que ele abre a porta do quartinho. Em cima da cama, encontro um par de pantufas de vaquinhas e ele sorri enquanto pego as mesmas. – Foi Alice que comprou para você – ele diz se encostando no batente da porta – Ela queria dividir o quarto dela com você, mas eu disse que você tinha 26 anos e ela só tem 16 vai fazer muita bagunça e você pode acabar não gostando – ele comenta e eu suspiro. – Eu nem sei o que dizer. Por um lado eu ficaria feliz por ela querer fazer isso, mas eu não quero invadir o espaço dela e... Nem queria que você tirasse suas ferramentas do lugar para fazer um quarto com a parede lilás para mim – digo e ele solta um leve riso. – Tudo bem, eu coloquei as ferramentas no sótão e a tinta não foi cara, eu só quero que se sinta em casa – ele se senta na cama ao meu lado e permanecemos em silêncio. Apesar de fazerem sete anos que não vejo Joseph, ainda é difícil conversar com ele. Se teve algo que mudou em Saltlake, foi a minha casa. A minha família. O quarto de Alice era o quarto de Melissa e o quartinho de ferramentas, era o lugar que Anthony chamava de quarto, cheio de posters de banda de rock colado, a casa foi mesmo reformada de ponta a ponta. Como se ele quisesse apagar os vestígios de que algum dia nossa família foi unida. Ou, pelo menos tentou. – Você acha que esse guarda roupa vai caber suas roupas? – Joseph quebra o silêncio e eu sorrio encostando a cabeça em seu ombro. – Obrigada pai – é difícil dizer a palavra depois de sete anos, ele me abraça do jeito dele mas nós afastamos logo. – Eu quero que se sinta bem aqui. – Não precisava ter pintado o quarto, é algo temporário e além disso, Melissa queria que eu ficasse com ela – tento me explicar e ele assente. – Essa casa sempre foi sua, pelo menos agora temos um quarto de hóspedes, – Joseph tenta contornar a situação – Sinta-se a vontade se quiser ficar com Melissa ou se quiser ficar aqui por um tempo – assinto para ele. – Cadê Meredith? – meu pai suspira com a pergunta. – Está na delegacia com Alice – eu arqueio a sobrancelha – Alice se meteu em encrencas, logo, logo elas chegam – assinto ainda surpresa com a resposta dele e assim que ele diz, nós ouvimos uma movimentação no andar de baixo da casa – São elas – ele anuncia se levantando da cama e eu acompanho ele que desce as escadas ao encontro delas. – Minha meia irmã chegou! – Alice, a loira dos olhos verdes anuncia assim que me vê descer as escadas. – Ãh, Oi, – digo sem jeito enquanto ela me abraça, e em seguida comprimento Meredith. – Seja bem vinda Breeze, fique a vontade, a casa é sua – Meredith sorri amigavelmente desmentindo o que eu pensava sobre ela ser uma pessoa amarga e rabugenta – Você já comeu? – eu n**o para ela que deixa a bolsa no sofá e caminha para a cozinha. – Você viu as pantufas que eu comprei para você? – assinto para Alice garota de mais ou menos 1,56. – Obrigada, eu amei – respondo para ela que me arrasta dali escada a cima. – Você gostou do quarto? Joseph pintou de lilás, eu preferia que ele pintasse de vermelho ou esperasse você chegar para decidir mas ele foi logo pintando. Você quer ajuda para arrumar seu guarda roupa? Eu amei suas botas – eu solto um riso enquanto ela desata a falar se jogando em minha cama – Veste as pantufas menina, qual o número da sua bota? Você me empresta? Nossa você é muito calada, como é seu nome mesmo? – Breeze – digo tirando a bota e percebo que meu pai observa a gente da porta. Por Deus eu nunca me senti tão perdida e sem saber o que falar para uma adolescente de 16 anos. Alice é simpática demais para que eu possa lidar e além disso, ela faz tantas perguntas misturadas, eu só consigo rir, assentir e assentir de novo sem saber o que falar. – Alice, Meredith precisa de você lá na cozinha – meu pai anuncia e ela bufa – Você quer tomar um banho, enquanto Meredith prepara algo para você comer? – eu assinto e ele me mostra aonde é o banheiro – Eu vou para a clínica, provavelmente vou ficar de plantão. Se Alice ficar muito em cima de você não se sinta m*l a dizer isso a ela – ele explica como se eu realmente fosse ser tão inconveniente com ela. – Eu sei que ela só está tentando ser legal e fazer com que eu me sinta a vontade, eu só preciso tentar acompanhar o ritmo dela – tranquilizo ele. Tomo um banho rápido e assim que saio do banheiro com meu moletom, Joseph já saiu para o hospital, e eu desço as escadas receosa ao encontro de Meredith e Alice que estão na cozinha discutindo coisas aleatórias. – Breeze, eu fui muito invasiva com você? – Alice pergunta assim que nota a minha presença. – N–Não – respondo sendo pega de surpresa. – É ela quem não quer falar Alice, deixe a menina comer em paz pelo menos, ela está cansada – Meredith repreende Alice colocando comida no prato para mim. – Obrigada Meredith, – agradeço sem jeito. – Você está cansada? – Alice se inclina na mesa enquanto como e eu dou risada. – Sim, um pouco, a viagem foi bem cansativa – respondo. – Você quer ir comigo dar uma volta? – ela me chama e Meredith a repreende com um olhar severo – Ah por favor, só vou mostrar a cidade para ela – Alice se explica e eu solto um leve riso cortando o clima de mãe e filha. – Já anoiteceu, amanhã você sai com ela Alice – Meredith repreende Alice. – Tudo bem Meredith – digo – eu gostaria sim, de dar uma volta – respondo e Alice sorri vitoriosa. – Sim, vamos – ela anuncia animada me puxando pela mão – Não é sempre que vem morar gente nova por aqui, quer dizer, tem o Zayn Malik, mas ele ... É um pouco estranho – Alice comenta e eu assinto. – Eu não sou nova aqui em Saltlake – respondo e ela dá os ombros. – Não é nova mas muita coisa mudou minha cara-meia-irmã – Alice responde enquanto tenta se equilibrar na guia da calçada. –Ali fica o estabelecimento do Torrez, antes vendia café agora, bem, virou um bar, geralmente os motoqueiros da estrada para por aqui para beber um pouco –Alice comenta enquanto anda equilíbrando–se na guia da calçada. Eu apenas assinto. – Você já vai começar lá amanhã? – Alice pergunta e eu viro minha atenção para ela. – Vou apenas ir conhecer o ambiente – respondo andando ao lado dela. – Você não acha demais isso? Tipo, cara, você estudou lá e agora vai voltar lá para dar aula! Levando em conta que eu estudo lá, eu posso ser seu braço direito nisso, tipo Batman e Robin ou... Sei lá a gente dá um nome para isso – Alice me lança uma piscadela. – Só vou ser a nova professora de história  – ela me interrompe. – Mas você não parou para pensar que talvez tivessem mandado embora a senhora Fernandez porque talvez ela tenha algo a ver com o assassinato da Alissa? – ela tira as conclusões e eu n**o porém decido por não retrucar. Alice provavelmente já deve ter contado para o pessoal do colégio que a nova professora de história é meia irmã dela. Duvido muito que ela seja a mais popular do colégio Saltlake high School. Além de ser hiperativa, Alice tem um senso de humor que faria um morto dar risada. Sei que está animada com a minha vinda para cá, mas pretendo ir embora o mais rápido possível. – Louise! Me dê a mão agora! – hesito enquanto estou atravessando a rua. Essa voz. É ela. Eu tenho certeza. Eu reconheceria a voz de Melissa a minha irmã mais nova a quilômetros. Eu me viro e vejo uma garotinha correr para atravessar a rua e Melissa correr atrás da pequenina, porém assim que seus olhos me encontram pelo caminho a mesma larga as sacolas no chão, seus lábios se abrem proferindo 'Breeze,' mas não emitem som   
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